Em um momento de avanço de agravamento da crise histórica do capitalismo e do avanço – em todo o mundo – da extrema direita, defensora da política “neoliberal” de fazer com que os trabalhadores e demais explorados paguem a conta da situações de retrocesso que se impõe, são inúmeras as teses e iniciativas distracionistas usadas para tentar evitar um enfrentamento e a derrota dessa “onda reacionária”.
Em seu livro, “A Síndrome do Mal”, o professor de sociologia da UFRGS, Antonio Cattani, deixa de lado a realidade, a intensificação da luta de classes, expressa na enorme polarização política, puxada pela esquerda, pelas organizações dos trabalhadores, contra a ofensiva da direita, e apresenta a tese central de que não haveria um movimento de extrema direita impulsionado pelo grande capital, não existiria “fascistas” e nem “fascismo”. No lugar disso, no mundo imaginado pelo sociólogo, o correto seria falar em “maus” e “malignidade” e que esses “malvados” seriam fomentadas por “forças econômicas poderosas movidas pela ganância sem limites”.
Para o socilógo Cattani, o “fascismo foi uma forma de governo marcada por uma relação direta entre líder político e massas populares e pelo nacionalismo, surgida em alguns países europeus numa época específica“. Por essa interpretação “sociológica” e deslocada da realidade o fascismo não seria um fenômeno decorrente da decomposição capitalista e de derrotas fundamentais da classe operária. A Alemanha de Hitler (1934 -1945), a Itália de Mussolini (1922 a 1943) e outros regimes fascistas e de liquidação da democracia operária e de pesados ataques aos explorados, seriam resultantes da maldade dos líderes fascistas.
Para ele não haveria uma campanha impulsionada pela imprensa golpista e pelo conjunto dos aparatos do imperialismo que levaram ao golpe e ao governo ilegítimo de Jair Bolsonaro. “O autor entende que é maldade pura e simples o comportamento dos brasileiros defensores de ideias como a morte de pobres e bandidos, de gays e negros, de rivais políticos. “Não são fascistas. São pessoas malignas que, agora, com a degradação do caráter moral coletivo, manifestam ódio e intolerância aos valores da civilização”, segundo explicou o próprio Cattani à CartaCapital.
Segundo ele, seria um problema de “crença”, já que os “malignos” acreditariam “que há pessoas superiores e inferiores, por autoritarismo, individualismo, egoísmo, anti-intelectualismo, obsessão com a sexualidade e idealização da família e da tradição”.
Cattani ignora a decomposição social de setores da classe média que servem de base ao fascismo, tudo seria uma “desumanização” que levaria a uma “ação intolerante, intencional e violenta dirigida contra alguns”.
A burguesia, os grandes capitalistas não estariam por detrás dessa ofensiva direitista. Segundo ele, a “malignidade” brasileira apenas teria sido fomentada e aproveitada pela elite do País. Ou seja, haveria “o mal” e os capitalistas apenas tiram proveito dessa situação.
A “malignidade”, de acordo com o sociólogo, estaria explicada pela escravidão e pela “falta de mea-culpa das Forças Armadas” que junto a “ignominiosa Lei da Anistia” teria dado “legitimidade” aos “malvados” militares perante parte da população”, de acordo com o livro.
Cattani vê a “maldade” triunfando sobre a bondade em 2013, ano em que segundo ele “brasileiros comuns, aqueles que aplaudiam os políticos, comunicadores, influencers e bispos do parágrafo anterior, passaram a brandir eles próprios sua malignidade”.
As teses do autor, que ganharam amplo destaque em setores da imprensa capitalista, inclusive de esquerda, se colocam – como não poderia deixar de ser – na defesa da aliança com supostos setores “não malignos” da burguesia, da “frente ampla” com os golpistas, defendida pelo PCdoB, setores da direita do PT e, é claro, por setores da direita, do centrão. Para o sociológo, “se as forças progressistas e democráticas não se mobilizarem para evitar o desastre, as vítimas [da malignidade à brasileira] continuarão aumentando”.
Como os estragos promovido pela ofensiva da direita – para ele o “mal” – é coisa dos “malignos” e não não da burguesia, do grande capital internacional e das suas organizações, a solução seria procuram “os bons”, os progressistas e não levar adiante uma luta geral dos explorados e das suas organizações de luta contra os exploradores.
Nada mais do que uma tese que serve ao propósito de desviar os trabalhadores e a juventude da necessária luta política, da luta contra o fascismo, pela sua derrota, para o que é necessário empregar os métodos de luta próprios da classe operária e demais setores explorados, a mobilização nas ruas, o enfrentamento com a direita e não a conversa fiada, distracionista de sociólogos e políticos interessados em defender a conciliação com os golpistas, a capitulação diante da direita sob o disfarce de busca do entendimento com os golpistas “não malignos”.