As notícias de ataques violentos antes, durante e principalmente agora, depois das eleições, mostram que os fascistas estão dispostos a ganhar as eleições a todo custo, mesmo que seja eliminando os eleitores do concorrente. Já viu-se de tudo nesses três dias que sucederam às eleições, inclusive golpistas de primeira hora aderindo à candidatura do candidato da indústria das armas.
Isso tudo é grave, sem dúvida, se nosso país não fosse já violento e se fascistas e fascistoides não produzissem todos os dias a perseguição ao diferente, ameaças ao trabalhador, assedio às mulheres e jovens, tentativas de estupro e estupros, assassinatos e espancamentos, cujas vítimas preferenciais são as mulheres, os homossexuais, negros e jovens.
A esquerda ter embarcado no jogo das eleições pode custar muito caro aos trabalhadores. Depois do golpe de 2016, tudo que se seguiu foi cuidadosamente planejado, principalmente a entrega de nossas riquezas ao capital internacional. Não parece razoável acreditar que após organizarem e investirem no Golpe, que haveria recuo dele pura e simplesmente. Se ignoraram todas as grandes manifestações populares, usando a polícia para esmagar os movimentos sociais e todo e qualquer ato de protesto pelo país, se armaram as polícias legislativas para melhor enfrentar os cidadãos desarmados mas revoltados com a ação parlamentar que chancelou a retirada de direitos e a entrega do país, por que agora simplesmente permitiriam eleições livres e efetivamente democráticas?
Se em tempos ditos ‘normais’, de ‘normalidade democrática’, as eleições são sistematicamente fraudadas, inclusive por ação da Justiça Eleitoral que pode barrar candidatos e eleitores com uma canetada, se podem perseguir lideranças partidárias, invadir diretórios, confiscar material de campanha, proibir a manifestação, controlar as propagandas, retirar o fundo partidário, multar violentamente quem bem quiser, por que haveríamos de acreditar em eleições?
Vejam o que fizeram com o companheiro Luiz Inácio Lula da Silva. Perseguiram, forjaram processos, ameaçaram testemunhas, inventaram todo tipo de mentiras, com centenas de matérias jornalísticas, disseminaram inverdades para criminalizar Lula e sua família, condenaram sem provas, aceleraram julgamento, alteraram a jurisprudência para poder prendê-lo e o prenderam efetivamente. Ora, se ignoraram o Comitê de Direitos Humanos da ONU, que decidiu que deveria ser assegurado o direito de Lula ser candidato, rasgando um acordo internacional do qual o Brasil é parte, se ministros mentiram e se mancomunaram para impedi-lo de ser candidato, de ser ouvido, de ser visto, de ser mencionado, por que devemos acreditar que as eleições não são uma fraude?
Tudo que se conseguiu de pequenas mas significativas vitórias sobre o golpe até o momento deve-se à mobilização popular, ao trabalho da militância, ao fato de se denunciar de forma clara o golpe e os golpistas, de se levantar as bandeiras corretas, como a que exige liberdade para Lula. Não é investindo toda a energia numa campanha eleitoral, como se vivêssemos em um momento normal que vamos conseguir derrotar nem os fascistas, nem os golpistas de modo geral.
A história está cheia de exemplos sobre como enfrentar esses momentos de crise em que as contradições da direita tornam-se intransponíveis. Já afirmamos várias vezes que a polarização é, como fenômeno, algo positivo, pois indica uma crise no regime político e pode abrir caminho para uma mobilização revolucionária. A extrema-direita se apresenta para se contrapor à esquerda, por isso temos que resistir e desnudar os fascistas. Mas isso apenas faz sentido nas ruas, no enfrentamento direto, mobilizando as pessoas.
Para derrotar o golpe e libertar o ex-Presidente Lula, temos que abandonar as ilusões com as urnas e com campanhas ‘corretas’, nas redes sociais ou nas bolhas em que habitamos, e ir para as ruas denunciar o golpe e a fraude, enfrentar os fascistas olho no olho, promover greves, grandes atos, ir para cima.