Domingo (10) aconteceu mais um golpe de Estado na América do Sul. Dessa vez a vítima foi o povo boliviano. O presidente Evo Morales abandonou o cargo depois de o chefe das Forças Armadas, general Williams Kaliman, fazer um pronunciamento exigindo sua renúncia. O presidente reeleito a apenas algumas semanas foi deposto pelos militares sob a ameaça de uma ação armada contra o governo.
Mais cedo no mesmo dia, Evo Morales chegou a convocar novas eleições, em uma tentativa de aplacar a sanha golpista da direita. A medida, porém, foi logo reconhecida como um sinal de fraqueza e levou a direita a insistir na exigência de que renunciasse, como vinha fazendo desde as eleições. Consumaram o golpe iniciado dia 20 de outubro.
Ao abdicar, Morales fez um apelo a que direita golpista abandonasse as ações violentas. A capitulação estimulou a direita, que continuou seus atos violentos e chegou a mandar grupos armados para El Alto, cidade que é reduto de apoiadores de Evo Morales vizinha da capital La Paz. Denúncias e vídeos circulam na Internet mostrando vítimas fatais da violência da direita golpista.
A violência foi usada durante o golpe, com ataques a parentes do presidente, inclusive sua irmã, que teve a casa invadida e incendiada, e autoridades como a prefeita de Vinto, cidade próxima a Cochabamba. Foram agressões sistemáticas à população pobre e trabalhadora, que em grande medida apoia o governo eleito e derrubado.
O uso da força e o alvo desses ataques denunciam o caráter fascista do golpe que está em curso na Bolívia, com ataques a organizações populares, aos indígenas e ao maior partido de esquerda do país. Por isso, caso o golpe triunfe de uma vez por todas, e a direita consiga colocar o regime político sobre novas bases e estabilizar a situação, muita repressão virá contra os trabalhadores e suas organizações.
No entanto, a situação ainda não se definiu. Apesar das sucessivas capitulações de Evo Morales, os setores populares que o apoiam continuam se mobilizando. Em El Alto o povo está organizando para resistir, camponeses de diversas regiões do país estão se dirigindo à capital e a uma planta de gás da estatal YPVF a 160 quilômetros de Santa Cruz. Em toda a Bolívia ações desse tipo estão sendo tomadas enquanto a direita golpista tenta organizar a sucessão diante do vazio de poder que se abriu.
Essas ações da população organizada para lutar contra a direita são a única forma de derrotar a direita golpista e o imperialismo. As tentativas de Evo Morales de entrar em um acordo com a direita até o último instante mostraram o fracasso retumbante da política de conciliação de classes da esquerda pequeno-burguesa do seu partido, o Movimento al Socialismo (MAS), e da esquerda e do nacionalismo burguês em toda a América Latina.
A população, contudo, não pode ficar assistindo ao seu próprio massacre e está procurando reagir. Evo Morales poderia ter mobilizado seus apoiadores enquanto o golpe se desenrolava, mas preferiu buscar um entendimento com os que queriam derrubá-lo. Seus apoiadores estão, com todas as dificuldades próprias da ausência de uma direção independente da burguesia e consciente dos interesses da população trabalhadora e oprimida, tentando ultrapassar essa política e opor uma resistência ao golpe. Essa é a única chance real de derrotar o golpe de Estado na Bolívia.