Um movimento popular na Tailândia exige a saída de Prayut Chan-O-Cha, que está poder desde um golpe em 2014 e legitimado por controversas eleições no ano passado. A iniciativa também pede uma modificação da Constituição, posta em vigor em 2017, durante a junta militar e muito favorável ao exército.
Alguns manifestantes mais radicalizados exigem uma reforma da poderosa e extremamente rica monarquia, assunto tabu até recentemente no país, em que o soberano é protegido por uma das mais severas leis de lesa-majestade do mundo. Eles querem que o monarca não interfira nos assuntos políticos, a abolição da lei da lesa-majestade e que a Coroa devolva seus bens ao Estado – que o governo golpista considera inaceitáveis.
Na quarta-feira (14), mais de 10 mil manifestantes marcharam em direção à sede do governo para marcar o 47º aniversário do levante estudantil de 1973. Centenas de partidários favoráveis à monarquia, que foram saudar o cortejo real, se reuniram ao longo do percurso, fazendo reviver os temores de agitação em um país acostumado à violência política e que viu 19 golpes de estado ou tentativas de golpe desde o estabelecimento da monarquia constitucional em 1932.
”Democracia Híbrida”
A imprensa burguesa internacional fez propagandas eleições neste país caracterizando como ”um voto pelo democracia hibrida”. Ou seja, na Venezuela, onde há eleições normais, o regime de Nicolas Maduro é chamado de ditadura, mas na Tailândia, onde não há eleição eleição ou qualquer tipo de democracia em sentido algum da palavra, haveria ”uma democracia híbrida”.
Num certo sentido, o que aconteceu aqui é semelhante com o que houve no Brasil, com algumas diferenças que explicam também a maior profundidade com que a direita atacou o regime político tailandês.
Na Tailândia, um partido que a BBC, imprensa capitalista porta-voz da burguesia internacional, consideraria como um ”partido populista”, o que deve ser visto como um partido reformista, que procura favorecer setores da burguesia nacional e da população com reformas sociais, adquiriu uma influência enorme no regime político, com o ex-primeiro ministro Thaksin Shinawatra.
Golpes de estado
Thaksin foi perseguido pela direita e teve que fugir do país em função de acusações de corrupção, pelas quais estava ameaçado de ir a prisão. Mas diferente do que ocorreu no Brasil, ele conseguiu eleger sua irmã, Yingluck, para a função de primeiro-ministro. Ou seja, os militares conseguiram tira-lo da corrida política, com o partido amplamente majoritário, mas não conseguiram derrotar o partido totalmente, então a irmã assumiu o cargo.
Em 2014, no mesmo ano da eleição de Dilma aqui no Brasil, houve o golpe de estado para tirar Yingluc Shinawatra do poder. Desde então, os militares seguiam postergando as eleições, alegando que precisaria consolidar isso, consolidar aquilo, e aquele outro, e então mudaram a constituição e criaram um sistema totalmente fajuto, que eles chamam de ”democracia híbrida”, onde o senado é escolhido, quer dizer, não é eleito.
Os irmãos Shinawatra faziam governos típicos do nacionalismo burguês, com concessões sociais para os mais pobres. Por isso tornaram-se imbatíveis nas eleições, até mesmo sob um ataque intenso e fraudes eleitorais. Por isso sofreram dois golpes militares.
Decreto de emergência
As autoridades tailandesas emitiram nesta quinta-feira (15) um decreto de emergência que proíbe “reuniões de cinco ou mais pessoas”, assim como “mensagens on-line que possam prejudicar a segurança nacional” ou “gerar medo”, declarou Sunsern Kaewkumnerd, um porta-vozes do governo tailandês. Os meios de comunicação foram orientados a não publicar informações que possam comprometer a unidade nacional.
O governo justificou a promulgação do texto, denunciando que as manifestações seriam “contrárias à Constituição” e também tinham o objetivo de impedir um cortejo real. Na quarta-feira (14), milhares de pessoas se reuniram em frente à sede do governo em Bangcoc, para exigir a renúncia do primeiro-ministro Prayut Chan-O-Cha.
Pouco depois do decreto de emergência entrar em vigor, nesta quinta-feira, policiais da tropa de choque esvaziaram o acampamento de manifestantes em frente à sede do governo, onde pretendiam permanecer por dias. Muitos já haviam deixado o local, ainda assim mais de 20 pessoas foram presas, informou o porta-voz da polícia, coronel Kissana Phathanacharoen. Entre os detidos estão Parit Chivarak, conhecido como “Pinguim”, a universitária “Rung” e Anon Numpa, três líderes do movimento, uns dos mais agressivos contra a monarquia, afirmou uma fonte governamental.
Anon Numpa publicou em seu perfil no Facebook que foi levado de helicóptero para Chiang Mai (ao norte). Minha prisão “é uma violação dos meus direitos e a situação é muito perigosa para mim”, escreveu ele. Outros líderes do movimento, incluindo Panusaya Sithijirawattanakul, de 22 anos, conhecida como “Rung”, que também apoia a linha dura, foram presos, de acordo com imagens postadas on-line por ativistas.