Nos manuais de conceituação ou na filosofia da arte é comum que se encontre frases do tipo: “A arte é uma linguagem universal”. A arte associada ao universal, aqui, pode ser entendida de diversas formas. Duas delas são: a primeira, como uma linguagem isenta de valores e pressupostos particulares que chega à sociedade sob a presunção de neutralidade – de antemão, todos sabemos que essa é uma leitura equivocada. A segunda, como uma linguagem comum a todos, mas que ainda assim carrega o peso da realidade material que os artistas vivenciam.
Em outras palavras, se arte é universal, os sujeitos que a faz não é. Os artistas são atravessados por recortes de gênero, raça e classe que faz da experiência artística na sociedade burguesa uma representação fiel da desigualdade. É isso que tem ocorrido no mundo. O caso de Aldir Blanc é um ótimo exemplo disso, no Brasil.
Depois de Isabel Blanc, filha, ter mobilizado as redes sociais com a #AldirBlancSOS, ele conseguiu uma vaga no CTI do Hospital CER Leblon; por complicações, o compositor foi transferido e internado no CTI do Hospital Universitário Pedro Ernesto (Hupe), em Vila Isabel, com infecção urinária e pneumonia, no Rio de Janeiro. Seus familiares buscaram recentemente solidariedade nas redes ao divulgar a conta do Aldir para quem pudesse colaborar, pois o mesmo não está podendo arcar com os custos financeiros do tratamento. Felizmente, segundo sua filha sua saúde agora está estável e passa bem.
Ele carrega a marca da milhares de outros artistas, para os quais a arte não é mera mercadoria. Ele é médico psiquiatra por formação, mas decidiu abrir mão de uma possível carreira mais consolidada para viver da arte. Mas ele não se reduziu à “arte pela arte”: Blanc passou pela ditadura militar e é dele e do João Bosco a célebre canção O bêbado e o equilibrista, de 1979, que apresenta uma crítica feroz ao regime.
Além disso, diversas outras composições renomadas, como fazem parte do repertório composto por Aldir Blanc, fazendo com que hoje ele seja parte indispensável do nosso direito a memória sobre nosso passado de autoritarismo, mas que agora sofre com o desamparo da saúde pública brasileira e com as dificuldades de arcar com os custos de seu tratamento.