Um homem negro foi preso após ter sido reconhecido como o autor de um assalto na cidade americana de Detroit (Michigan). O reconhecimento que havia embasado a acusação da polícia contra Robert Williams para prendê-lo em sua casa, diante da mulher e das filhas e mantê-lo encarcerado por mais de 30 horas fora feito pelo software de identificação facial, que havia apontado o homem como o responsável pelo assalto. O problema é que o software identificou como o rosto do homem uma pessoa indefinida, toda de preto com uma imagem borrada sob o rosto.
Em meio aos protestos que tem convulsionado os Estados Unidos, desde uma série de assassinatos cometidos por policiais com vítimas negras, mais este caso absurdo de racismo envolvedo um homem negro e a polícia americana ganhou destaque na imprensa mundial pela colaboração de teconlogias, que supostamente deveriam impedir erros mas, sem nenhuma surpresa, continuam errando contra as vítimas tradicionais da violência policial. Não apenas isto.
Conforme comentário referente ao caso feito pela União Americana pelas Liberdades Civis (ACLU na sigla em inglês), “as tecnologias de vigilância são perigosas quando erram e também quando acertam”.
O uso intensivo do terror tecnológico contra a população é próprio do verdadeiro Estado policial travestido de normalidade que acomete tanto os Estados Unidos quanto o Brasil, onde desde o Golpe mas marcadamente após a eleição de Bolsonaro, este tipo de ferramente auxiliar da repressão ganhou força, estando hoje presente em 37 cidades brasileiras.
A premissa básica continua sendo a mesma do discurso fascista em geral. As tecnologias de vigilância são ferramentas que permitem proteger a população, ajudando as autoridades pela coibição ou municiando a polícia na elucidação de crimes através de um sistema seguro, confiável e eficiente.
Na prática, vemos que as tecnologias, longe disso, reforçam o caráter racista do aparato de repressão do Estado. Isto fica evidente quando observamos que a polícia americana de conjunto continua cometendo erros grotescos, apenas contra homens negros, enquanto mantém alguém preso durante pelo menos 30 horas sem que ninguém tenha se dado ao trabalho de analisar o absurdo da situação ou ao menos ver as imagens da câmera de segurança e comparar com a vítitma antes de usá-las para aprisionar uma pessoa.
O caso reacende também o debate relativo ao uso de tecnologias orientadas a aumentar a vigilância sobre a população brasileira. No carnaval deste ano, em Salvador, tais câmeras foram usadas para prender pessoas no transcorrer da festa, deixando claro que já opera no país um sistema de monitoramento popular tão elaborado quanto o da ficção orwelliana no clássio 1984.