Um dos lemas mais tradicionais do movimento sindical é: “sindicato é para lutar”. Todavia, nos dias de hoje essa posição se tornou totalmente deturpada. A maior parte dos sindicatos brasileiros capitularam completamente no momento em que os trabalhadores mais necessitam de suas organizações. Com o avanço da pandemia do coronavírus, os sindicalistas bateram em retirada e fecharam as portas dos sindicatos. Enquanto isso, os golpistas não perderam tempo e aproveitaram em aprovar um conjunto de medidas de ataque às condições de vida dos trabalhadores.
Um exemplo desses ataques é a Medida provisória 936, a qual permite que os patrões reduzam até 70% os salários dos trabalhadores durante o período de quarentena. De acordo com a proposta, a redução dos salários pode durar até 90 dias e os contratos de trabalho suspensos por 60 dias.
Além dos sindicatos estarem fechados, a gigantesca capitulação para a direita pôde ser vista no “ato” virtual do 1º de maio organizado pelas “centrais” sindicais. A paralisia das principais direções da esquerda favoreceu a política dos setores direitistas e pelegos do movimento operário como a Força Sindical, o PCdoB e sua central CTB, os quais levaram ao “ato” um dos principais inimigos dos trabalhadores, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, autor de centenas de privatizações durante seu governo. Além disso, haviam convidado os golpistas, defensores da “reforma” trabalhista e da “reforma” da previdência, Rodrigo Maia, João Doria e Wilson Witzel, entre outros.
O fortalecimento da posição dos setores mais direitistas no interior do movimento sindical pode ser vista também em uma nota publicada pelo site da Força Sindical. Na nota, a “central” patronal utiliza uma reportagem do jornal golpista Folha de S.Paulo para comemorar a ação pelega de grande parte dos sindicatos que estão aceitando a proposta de redução de salários imposta pelos patrões.
O título da matéria é um verdadeiro escárnio: “Sindicatos ganham força ao negociarem cortes de salário na pandemia” [grifo nosso]. Ou seja, se antes os sindicatos eram para lutar, com o avanço da política direitista dos setores patronais como a Força Sindical, o lema agora é: sindicatos é pra cortar.
Logo no início, a matéria afirma que: “Foram assinados 170 convenções e 670 acordos coletivos até esta quinta-feira (30) para aplicar a medida provisória que visa dar fôlego às empresas e evitar demissões em meio à pandemia da Covid-19.”
Ou seja, os sindicatos, que deveriam ter uma posição intransigente na defesa dos salários e de todos os direitos dos trabalhadores, atuam abertamente como auxiliares dos patrões, facilitando os acordos de redução salarial, cancelamento de contratos, etc.
A matéria também celebra como grande feito dos sindicatos os acordos individuais em determinadas categorias, como no caso do Sindicato dos Comerciários de São Paulo, onde houve cerca de 80% de acordos individuais entre os trabalhadores e os patrões.
Setores como a Força Sindical atuam abertamente nesse sentido para implementar de maneira definitiva o chamado “negociado sobre o legislado”, previsto na reforma trabalhista, o qual permite a negociação direta do trabalhador com o patrão sem intermédio do sindicato. Uma verdadeira armadilha para a classe trabalhadora, a qual individualmente será esmagada pela ditadura e pela chantagem dos patrões na crise.
É preciso combater de maneira dura a política desses setores direitistas no interior do movimento sindical, que se aproveitam da paralisia e do imobilismo das direções de esquerda para impor uma política patronal e ultrarreacionária.
É necessário que a única central que há de verdade neste país, a CUT, mobilize os trabalhadores para enfrentar na prática os ataques dos golpistas e dos patrões. É preciso, primeiro, reabrir os sindicatos e avançar na luta política em todas as categorias.
É necessário que os setores classistas rompam com os setores direitistas e apresentar para a classe trabalhadora uma política independente daquela que vem sendo imposta por todos os golpistas. Para tanto, é urgente que a CUT convoque uma Conferência que reúna seus sindicatos, os movimentos sociais, os partidos de esquerda e demais organizações de luta para definir um programa em comum e um eixo de mobilização.