No início deste mês de agosto, o cineasta Silvio Tendler lançou um movimento para unir artistas brasileiros com o intuito de se recriar o Ministério da Cultura. Foi realizado um encontro virtual onde Tendler chamou 100 representantes dos artistas para organizar o que ele chamou de Estados Gerais da Cultura, que seria um coletivo independente e autônomo, que funcionaria como um ministério da Cultura paralelo, enquanto a pasta não for recriada pelo governo federal.
Tendler destacou as atitudes criminosas do governo ilegítimo de Bolsonaro, que tem se caracterizado no sentido de atacar e destruir as artes e a cultura brasileiras.
O cineasta mostra que o setor movimenta milhões de trabalhadores, gerando arte, cultura, prestígio no exterior e traz muita renda. Mas a realidade agora é que muitos estão desempregados e sem nenhuma perspectiva de trabalho, devido à crise governamental agravada com o total descontrole da pandemia do coronavírus.
Dentre os órgãos atacados pelo governo Bolsonaro estão a Cinemateca Brasileira; o desmantelamento da Casa de Rui Barbosa, importante centro de pesquisa e documentação; o silenciamento da FUNARTE e suas atividades em artes plásticas, dança e fotografia e a ANCINE, com o sequestro do FSA (Fundo Setorial do Audiovisual), ocasionando sua completa paralisação. Tendler citou ainda a intervenção no IPHAN, que permitiu a degradação de nosso patrimônio arquitetônico a serviço da especulação imobiliária.
O Ministério da Cultura
O Ministério da Cultura foi criado em 1985 no governo de José Sarney. Teve seu auge nos governos do PT de Lula e de Dilma Rousseff e foi extinto, logo após o golpe de Estado, no governo do interino Michel Temer em 12 de maio de 2016. Naquela ocasião a atitude de Temer foi repudiada pelos artistas. Foram várias manifestações, incluindo ocupações das sedes do órgão em diversos estados, como o Palácio Gustavo Capanema no Rio de Janeiro e os prédios da Funarte em Belo Horizonte, São Paulo e Brasília.
Como consequência, Temer foi obrigado a recriar o Ministério da Cultura por decreto em 23 de maio de 2016. Mas com a posse de Bolsonaro veio um novo ataque ao Ministério da Cultura (Minc). Os Ministérios da Cultura, do Esporte e do Desenvolvimento Social foram fundidos para se criar o Ministério da Cidadania. Dentro do Ministério da Cidadania é criada a Secretaria Especial da Cultura, um órgão agora comandado pelo ator Mário Frias.
Cinemateca Brasileira
Um dos equipamentos sob os cuidados da Secretaria de Cultura é a Cinemateca Brasileira, que nesta semana sofreu um ataque definitivo de Bolsonaro. A polícia foi enviada à sede da Cinemateca que retirou o controle da instituição das mãos da Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto e a passou em definitivo para o governo federal. Tal atitude coloca em risco a memória do cinema brasileiro, um precioso arquivo de 120 anos da história do audiovisual brasileiro. O governo federal já havia cortado as verbas de manutenção da Cinemateca há vários meses, colocando em risco materiais frágeis e sensíveis como as películas de nitrato dos filmes mais antigos, que correm risco de combustão espontânea.
Impulsionar a luta pelo Fora Bolsonaro
A iniciativa de Silvio Tendler é um avanço, já que se propõe a mobilizar a categoria no sentido de sair de sua inércia e mostrar um caminho para a luta. Esta luta dos artistas tem que se juntar à luta de todas as outras categorias de trabalho. Tem que se juntar à luta dos trabalhadores dos correios, dos transportes, dos motoristas de aplicativo, dos motoboys, enfim de toda a classe trabalhadora.
É preciso uma luta unificada contra o golpe de Estado que destituiu a presidenta legítima Dilma Rousseff e quer colocar Lula definitivamente na prisão e roubar-lhe os direitos eleitorais. Só com a palavra de ordem Fora Bolsonaro é que o povo brasileiro terá a chance de retomar seus direitos perdidos, sua história e sua cultura. Esta é a palavra de ordem que deve estar na boca de todos os trabalhadores brasileiros.