Sérgio Camargo, o presidente ilegítimo da Fundação Palmares publicou, nesta quarta-feira, 13 de Maio, Dia da Abolição da Escravidão no Brasil, dois artigos onde homenageia a Princesa Isabel, colocando-a como mártir responsável pelo fim da escravatura no Brasil, e Zumbi dos Palmares como mito da esquerda. Isso configura um ataque brutal à história de luta do povo negro contra a escravidão, uma luta de resistência desde o primeiro minuto de prisão com chutes, desobediência e fuga até os dias de hoje, com a luta pelo poder do povo negro, e contra o racismo financiado pelo sistema capitalista.
Desde que foi nomeado pelo presidente, também ilegítimo, Jair Bolsonaro, Sérgio vem exercendo com excelência o que seria o papel da figura histórica de ‘Capitão do Mato’. Ou seja, o negro que, mandado pelos brancos, nega sua origem, sua história e sua própria condição de subalterno das elites ricas e brancas. Qual seria o sentido de homenagear uma nobre branca por ter assinado um simples documento, completamente pressionada politicamente por uma luta de 400 anos do povo africano escravizado? Não seria outro senão apagar o legado de luta negra cotidiana durante todo o tempo de escravidão.
Isso mostra com clareza a missão que a extrema-direita delegou quando o nomeou para o cargo de presidente da Fundação, que é de destruir os patrimônios da história do povo negro no Brasil. Bolsonaro é inimigo da classe trabalhadora negra, e delega a Camargo a tarefa de esconder o racismo estrutural e o extermínio da população pobre e negra no Brasil.
Em declaração, este último teria alegado que não há racismo estrutural no Brasil, apenas circunstancial. Entretanto, segundo dados do Instituto Brasileiro de geografia e Estatística (IBGE), das pessoas que estão em situação de pobreza no Brasil, 75% delas são negras. Dos números recordes de desempregados hoje no Brasil, quase 70% são negros. O genocídio negro não é nem um mito, pois 76% das pessoas mortas pela ações criminosas da Polícia Militar são negras. Das pessoas que dependem do Sistema Único de Saúde, 80% é de população negra. É preciso denunciar, o povo negro ainda sofre os efeitos da escravidão e é maioria esmagadora da população trabalhadora deste país.
É nesse mesmo sentido que Douglas Belchior, historiador e membro da Uneafro Brasil, nos conta que
“o 13 de maio como dia da libertação é uma mentira cívica, como dizia Abdias do Nascimento, e conta com o cinismo escravocrata que é a marca da elite brasileira. […] A população negra continua estruturalmente no mesmo lugar em que estava no dia seguinte à abolição”.
Isto é, o dia 13 de Maio de 1888 foi o dia que a coroa foi forçada a assinar a abolição da escravidão no Brasil, mas as condições de vida da população negra mais de 100 anos depois são consequências diretas da escravidão.
No artigo em que homenageia a princesa escravocrata, Camargo afirma que ela teria dado “fim à desumana forma de exploração humana” que teria sido a escravidão. Num simples jogo de retórica, é possível revelar que o governo Bolsonaro estaria em busca, então, de uma “forma humana” de explorar a população negra em um governo que é capacho dos ricos?
A política da Fundação Palmares, em sua determinação de origem na Constituição de 1988, é a de “promover a preservação dos valores culturais, sociais e econômicos decorrentes da influência negra na formação da sociedade brasileira”. Nos dias de hoje ela está fazendo o contrário, negando e escondendo as condições históricas do povo negro no país. Esta política negacionista é fruto do projeto político do governo Bolsonaro.
Para que possamos recolocar a Fundação à serviço do povo negro novamente, é preciso derrubar de uma vez o governo Bolsonaro. A experiência já nos provou que, caso conseguíssemos derrubar Sérgio Camargo do cargo, é possível que o governo o substitua por alguém pior e mais demagógico ainda. Sendo assim, é preciso romper completamente com um governo da direita que é inimigo do povo negro, de sua história e de sua luta contra o racismo e pelo poder político.