Em meio a crise de saúde do Coronavírus, a direita brasileira aproveita para atacar aquilo que deveria ser um direito das mulheres garantido pelo Estado: o aborto. O senador Eduardo Girão (Podemos-CE) declarou que é contraditório que a OMS defenda o aborto como serviço de saúde essencial diante da pandemia. Para o senador, é contraditório que isso seja declarado nesse momento de pandemia pois estamos em um momento de preservação da vida. Mais uma vez, a direita usa do discurso raso cheio de fundamentalismo e conservadorismo de que o aborto é um assassinato e também da hipocrisia do pró nascimento, esquecendo de todas as circunstâncias que envolvem o nascimento de uma criança.
A declaração da OMS surgiu justamente por outros casos de discursos direitistas. Nos Estados Unidos, após a suspensão de cirurgias eletivas, as mulheres que residem nos estados onde o aborto já foi legalizado estavam encontrando dificuldades de realizar o procedimento por causa das lotações de hospitais em meio ao Coronavírus, algo totalmente injusto com as mulheres já que o tempo para fazer o procedimento de forma correta e segura é algo essencial, pois quanto mais o tempo passa mais difícil ou até mesmo o aborto deve ser descartado pelo estágio da gravidez.
O aborto é um direito que as mulheres devem ter garantido pelo Estado para que seja algo seguro e realizado da forma correta. Esse direito não é apenas só a questão do direito da mulher de decidir sobre seu corpo e sobre sua vida, mas também envolve questões psicológicas, econômicas, familiares.
O senador Eduardo Girão alegou que mulheres que realizam o aborto estão mais suscetíveis ao uso de remédios controlados, uso de drogas, álcool, depressão, ansiedade e até mesmo suicídio. O que é ignorado é que uma mulher que é obrigada a ser mãe e não recebe uma assistência do Estado está exposta a consequências também prejudiciais não somente a ela, mas até mesmo a criança, como a fome, a pobreza, a falta de direitos básicos garantidos, ou outras questões que envolvem a criação da criança. Aliás, a mulher que tem o aborto garantido por lei recebe do Estado não apenas o direito de realizar o procedimento, mas também o acompanhamento psicológico necessários para que não aconteça aquilo que o mesmo alega que acontecem com mulheres que abortam. O peso que a mulher carrega ao realizar um aborto na grande maioria das vezes não está no ato de realizar o aborto, e sim no peso que ele carrega por ser algo proibido e tão julgado pelo conservadorismo da sociedade. Um Estado que garante seu direito livre de julgamentos garante um outro ambiente para que a mulher possa realizá-lo. O aborto é um direito essencial das mulheres e deve ser garantido por lei, em clínicas públicas e com o acompanhamento e realização adequados, e não deve ser mais um pretexto para que a direita ataque às mulheres e sua emancipação na sociedade.