Por quê estou vendo anúncios no DCO?

Estado, "herói" do capital

Sem o Estado, capitalistas quebrarão, alerta presidente da GM

GM quer que a grande indústria seja socorrida pelo Estado durante a crise do coronavírus

Nesta sexta-feira, Carlos Zarlenga, referido presidente da General Motors na América Latina, “veio a púlpito” tentar de forma sutil, mas firme, como sempre se tenta por parte dos grandes capitalistas, “instruir” (à força) que o mundo é (e tem de ser!) dividido em dois simples lados.

De um lado, ele nos apresenta o Estado: lembre-se, aqui se trata deste Estado que, nos discursos típicos vindos dos capitalistas, durante os períodos de “crise menos evidente” ou de “crescimento à vista”, sempre “usurpa”, “corrompe”, “suga impostos” (os mesmos impostos que vêm a compor, logo em seguida, os 70% do PIB separado para pagar nossa dívida pública a instituições financeiras privadas, fora do Estado), “impede o desenvolvimento livre” e “gasta demais com políticas de assistência” – o típico discurso que é temporariamente abandonado tão logo essa assistência, por exemplo, passa a ser “necessária” não para o povo, mas para as grandes empresas, que é o caso atual, ou tão logo essa “boquinha” pareça estar ao alcance – Estado este que Zarlenga, no período como o atual, convenientemente nos apresenta como um outro Estado, o do período de “crise” explícita e aguda – no fim, crise sanitária, crise de consumo, crise de produção… crise cujo ônus desce diretamente para os trabalhadores e pequenos proprietários, claro! Jamais para o capital financeiro. Crise que “atinge a todos!”. Ele nos apresenta este Estado como tendo de ser responsável por salvaguardar a todos (o mesmo que podia negligenciar, até poucos dias, quase 80% de sua população em uma série de quesitos básicos sem “quebrar o país” – agora vem a calhar, certo?), que deve ajudar especialmente o outro lado, o lado “austero e verdadeiramente produtivo” que se encontra, “obviamente, fora do Estado”: a mencionada grande indústria – em outras palavras, o capital.

Mas estão assim tão separados? Ou, como num “tango argentino”, unem-se e se repelem quando convém, numa dança entre dois corpos que, às vezes, “parecem formar um só”? Seria metaforicamente bonito, se não fosse a maior das abstrações, e profundamente enganosa. Não se trata de apenas parecer. Nem de apenas às vezes. Num momento e discurso como esse, o capital revela não apenas parecer formar “um único corpo” com o Estado brasileiro, mas emerge e torna-se o próprio, age através deste.

Se pensarmos como este mestre do tango, esta face da ordem do capital (que seria o contrário do “Mercado”, este neutro “espaço de virtude”, à parte da administração civil) que ele chama de Estado, nos períodos de “possível crescimento” (para quem?) é o elemento da sociedade responsável pelo roubo dos que verdadeiramente produzem (em seu panorama ideológico, o capitalista); na “crise extrema”, é aquele que deve ser responsável por salvar a todos ou afundar a civilização. E que o “Estado” possa dormir com essa consciência…! Zarlenga dormirá tranquilamente após mais um dos quase anuais ultimatos da GM. Seu discurso, em verdade, deixa muito claro o caráter capitalista (e imperialista) do nosso Estado e de como os grandes capitalistas mobilizam a todo custo seus esforços para saquear, em qualquer situação (e durante uma pandemia, ainda mais), cada átomo de trabalho produzido no Brasil.

É bom lembrar que, em entrevista à UOL em setembro de 2019, Zarlenga declarou seu explícito e firme apoio à reforma Reforma Trabalhista porque esta “viria a gerar um enorme impacto de competitividade, não apenas na parte de maior eficiência na mão-de-obra, mas por um marco jurídico que dê mais tranquilidade, porque você sabe que se você cumpre com o ‘convênio’ (acordo) de trabalho que você tem com seus empregados e com o sindicato […] você não vai ter um “liability” (risco), [e] isso impacta muito o custo”, declarando ainda de sobejo que o custo de produção dos carros era composto de “40% a 50%” da mão-de-obra – deixando não apenas nas entrelinhas, mesmo com sua rebuscada linguagem corporativa, que seria o trabalhador que estaria no coliseu sanguinário da competição. Para a General Motors, quanto mais flexível e opressoras as leis – e esta é sua exigência central -, tanto trabalhistas, quanto de isenção de impostos e de flexibilidade nos investimentos (entenda-se “saque dos cofres públicos”), menor serão os prejuízos à cadeia produtiva, “à economia”, e por fim, dos salários. Nesta lógica, os prejuízos possivelmente causados aos salário (o dinheiro que pertence ao trabalhador) serão pagos com o dinheiro que, em última instância, também pertence ao trabalhador.

É de se notar, em especial, seu temor quanto à “ausência de caixa”, quando na entrevista concedida ele aponta para a “falta de liquidez” (termo usado 14 vezes durante a entrevista). Simplificando: a impossibilidade de “ter dinheiro em conta” para não ter de arcar com os custos dos salários dos trabalhadores durante a baixa produtiva e de vendas neste período de COVID-19 (a mesma mentalidade que a GM apresenta ao falar em “liability” quando apoiou o crime da Reforma Trabalhista) sem tocar no tesouro de suas ações, tanto nos contratos com bancos privados quanto na relação da GM Brasil com sua matriz americana. O recado é claro: neste período de baixa produtiva e baixa de consumo, se os cofres brasileiros não nos “ressarcirem” (porque os cofres da matriz não o farão, tampouco nossos cofres e ações nos bancos privados – como se fossem instituições completamente distintas; empresas diferentes!), a “indústria brasileira” vai quebrar – e junto com ela, sua mão-de-obra.

Devemos lembrar que esta “indústria brasileira”, que pela fala de Zarlenga é apenas a GM – e que de brasileira tem apenas a mão de obra altamente explorada e o vácuo de suas isenções tributárias – é a maior montadora nos EUA. Neste quesito, tampouco nos esqueçamos do recente IncentivAuto de João Dória, acordado em São Paulo: um pacote de isenções fechado sob ameaça explícita de “fuga empresarial de capital”, que gerou congelamento de salários e isenção tributárias de diversas ordens para que a GM não corresse para algum recanto mais explorável do mundo, deixando milhares de trabalhadores desempregados e outros milhares mais humilhantemente exploráveis. Esta mesma “indústria brasileira” que vem pedir “a humilde ajuda do (nosso) Estado” em “tempos difíceis para todos” é também e ainda a atual líder de vendas de automóveis no país, mesmo que suas vendas tenham caído nas últimas semanas junto do mercado como um todo, como alega o “Chief Executive Officer” Latin America (vamos ornar com suas gravatas na língua) com verdadeira preocupação relativa à “falta de caixa das empresas” e a impossibilidade de receber ajuda financeira da matriz (que é também a 4ª montadora no mundo).

Como a maior montadora de automóveis dos EUA se convenceu de que o Estado brasileiro deve “salvar” os capitalistas (e aqui, trata-se obviamente do capital imperialista)? O que teria Zarlenga a dizer sobre a queda ainda mais brutal (e mais preocupante) do setor do varejo, que atingiu 70% em geral? O setor de restaurantes teve queda de 72%, o de vestuário, 83%. A empresa mais comum no Brasil é a loja de roupas! A indústria têxtil também caiu em 52%. Esses setores tem um impacto menor na economia? Eles obviamente não podem impor ameaças de deixar o Brasil, tampouco negociar isenções de imposto, quanto mais baixo estiverem na escala de setores. De acordo com a GM, os botes salva-vidas devem ser dados primeiro às maiores “indústrias brasileiras” – e pelo Estado.

Gostou do artigo? Faça uma doação!

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Quero saber mais antes de contribuir

 

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.