Quem entre no sítio eletrônico do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) lá encontrará uma entusiasmada comemoração acerca dos resultados das eleições municipais de 2020. Pode-se apresentar como exemplo disso a matéria intitulada PSOL elege seu 1º prefeito em SP: Cido Sobral é eleito em Marabá Paulista. Nela, o leitor encontra o seguinte sobre o “ótimo resultado” na cidade do interior do estado de São Paulo:
O PSOL elegeu o seu primeiro prefeito no estado de São Paulo nas eleições municipais do último domingo (15) na cidade de Marabá Paulista, na região oeste do estado. Cido Sobral foi eleito com 51,12% dos votos válidos da cidade, derrotando o atual prefeito Miguel Duarte da Costa (PSDB), que ficou em segundo lugar com 42,15% dos votos. O vice-prefeito da chapa eleita é Vilmar, de 46 anos e também do PSOL. O partido teve um ótimo resultado na eleição para a Câmara Municipal de Marabá Paulista e elegeu três vereadores das 9 cadeiras do parlamento municipal
Muita coisa tem sido dita sobre os resultados das eleições 2020 no primeiro turno. Há quem diga que quem venceu as eleições foi o centro, enquanto a esquerda se enfraqueceu, o que é uma meia verdade, pois os candidatos dos partidos do chamado centrão que se elegeram foram os mais direitistas possíveis. Há quem diga também que o único partido de esquerda que cresceu foi o Partido Socialismo e Liberdade (PSOL). O suposto crescimento foi, inclusive, exaltado pelo já muito conhecido Mussolini de Maringá, o ex-juiz Sérgio Moro, que disse que o partido do Sol sorridente foi a grande revelação dessas eleições. Só o fato de que um lesa pátria como Moro tenha feito um comentário como esse já deveria levantar uma série de desconfianças, afinal, por que um dos principais representantes da direita brasileira iria presentear um partido de esquerda com o prêmio de revelação do ano?
Mas, além disso, é preciso alertar que essa avaliação de que houve uma grande conquista do PSOL (e, portanto, da esquerda) nas eleições é algo falso. Mais do que falso, trata-se de uma análise delirante. Vamos aos números: no que se refere aos prefeitos eleitos, o referido partido pulou de dois para quatro, ou seja, dobrou o número de prefeitos. Ao analisar o fenômeno apressadamente é possível concluir que isso é positivo, pois são quatro prefeitos de esquerda. Mas é nesse ponto que está o engodo.
E se disséssemos, por exemplo, que, dos quatro psolistas eleitos para prefeituras, um deles é um latifundiário, inimigo das lutas dos trabalhadores rurais, contrário à reforma agrária, contrário à legalização do abordo e contrário à legalização das drogas? Em resumo, e se um desses fosse um direitista de carteirinha? Pois o leitor pode verificar e verá que é isso mesmo o que ocorreu: um dos quatro prefeitos psolistas é João Alfredo, um latifundiário, com todas as características elencadas, que foi eleito na cidade de Ribas do Rio Pardo, cidade do interior de Mato Grosso do Sul.
O caso do latifundiário “socialista” e inimigo do trabalhador rural é, provavelmente, o que mais chama a atenção, mas não é o único. O que ocorre é que muitos dos candidatos supostamente esquerdistas eram, na verdade, direitistas que se lançaram candidatos por meio de partidos que, embora pequeno burgueses, são de esquerda. Trata-se de um indício de um crescimento falso da esquerda no terreno eleitoral, por ser um crescimento artificial.
Mas, um fator muito importante para compreender a “vitória” do PSOL nas eleições é também o impulso dado à candidatura Boulos. Guilherme Boulos, o candidato amoroso que promete vencer o ódio, teve sua candidatura impulsionada de várias formas pela burguesia, mas o que torna mais explícito o apoio burguês a essa candidatura foi a cobertura feita pela imprensa golpista à campanha do líder do movimento “não vai ter copa”. Quem consultasse a imprensa burguesa em São Paulo, poderia ver o impulsionamento dado a campanha, através de matérias em que o candidato era, via de regra, elogiado. Aliás, até mesmo quem procurasse as matérias sobre o candidato do PT, Gilmar Tatto, encontraria algum elogio ou referência a Boulos, o que foi parte de toda uma campanha para que os petistas renunciassem a sua própria candidatura para apoiar a de outro partido, que tem muito menos presença entre a população.
Tal impulsionamento foi um importante diferencial. Sem isso, seria praticamente impossível o PSOL chegar ao segundo turno na capital paulista, o que está sendo visto como uma grande “vitória” pela esquerda, que desde o início das eleições está sendo pressionada por todos os lados a fazer campanha para Guilherme “não vai ter copa” Boulos. Entretanto, não há vitória real. Como já dissemos, trata-se de um crescimento eleitoral artificial, em vários casos com candidatos muito direitistas e, mesmo nos casos em que se trata de candidatos esquerdistas pequeno-burgueses, também não se deve recomendar grandes entusiasmos, visto que não irão impulsionar a luta dos setores explorados e oprimidos da sociedade. A vitória real dos oprimidos não ocorrerá por meio de falsas vitórias eleitorais da esquerda pequeno-burguesa, mas pela luta de classes, que só pode ser travada de forma consciente e consequente por meio de um partido operário, revolucionário e de massas.