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Pedro Monzón, Cônsul de Cuba

“Se o socialismo triunfa é um demérito imenso para o capitalismo”

Na Entrevista da Semana, o DCO conversou com o Cônsul de Cuba no Brasil sobre o exemplo do combate à pandemia no País

Pedro Monzón Barata, Consul Geral de Cuba em São Paulo

Nesta edição especial de domingo, o Diário Causa Operária traz uma entrevista com o Cônsul Geral de Cuba em São Paulo, Pedro Monzón Barata. Na conversa, foram tratados temas referentes à crise sanitária e econômica com destaque para a política de Cuba no combate à COVID-19, o desenvolvimento de vacinas para erradicação da doença, as dificuldades econômicas em decorrência da pandemia e também aspectos gerais da política exterior da ilha caribenha.

A crise sanitária levou o sistema de saúde de inúmeros países imperialistas ao colapso e a política de um país pobre como Cuba ganhou destaque internacionalmente. Para o diplomata, o sucesso do país caribenho resulta de uma política que não está submetida aos interesses capitalistas: “Cuba, como se sabe, tem um Estado forte, uma política definida que tem critérios estratégicos e que coloca em primeiro lugar os interesses do povo. Em segundo lugar, completamente subordinado, os interesses econômicos. Primeiro, tem que salvar os cubanos”, afirma Monzón.

Brigada Henry Reeve na Itália

O planejamento foi uma questão totalmente ignorada pelos países da América Latina dominados por governos subservientes aos interesses imperialistas como o Brasil. O caos que vivia a Itália noticiado em meios de comunicação do mundo todo era um preludio do que enfrentariam. Sobre esse aspecto importante declarou “Em Cuba desde antes que fosse detectado o primeiro caso de COVID-19, o país já estava se preparando para enfrentá-lo”.

Destacou ainda a importância das organizações revolucionárias do País para mobilizar nas tarefas emergenciais como desastres naturais e epidemias, assim afirmou que Cuba possui “um sistema muito sofisticado de instituições de diferentes tipos. Quando há alarme nacional ou uma emergência de qualquer tipo todos nos unimosPara Cuba, não é difícil mobilizar toda essa força, são mecanismos muito maduros de muitos anos que tem origem na própria Revolução”.

Ernesto Che Guevara, comandante revolucionário e médico, liderou campanha de alfabetização em Cuba.

Sobre a questão educacional e nível cultural da população, ponderou que “O povo cubano é um povo educado com nível de cultura alto, em Cuba não há desigualdade dos níveis de educação, não há desigualdade das riquezas, não há um grupo pequeno de pessoas com nível alto de educação e uma maioria, uma grande quantidade do povo, sem educação. Todo mundo, de maneira uniforme, tem educação básica. Há científicos que tem alto nível, sempre há diferença, mas todos tem educação básica e acesso à cultura. Esse fator é muito importante. Um povo educado e culto é capaz de entender as orientações”.

Cuba desenvolve 5 vacinas exclusivas: Abdala, Mambisa, Soberana 01, Soberana 02 e Soberana Plus

Além de todos esses aspectos de fundamental importância para se combater a pandemia da COVID-19, Cuba trabalha no desenvolvimento de seis vacinas para erradicar a doença, cinco são exclusivamente cubanas e uma cubano-chinesa. As vacinas que estão no estágio mais avançado dos ensaios são a Soberana 2 e a Abdala, ambas estão sendo aplicadas na terceira e última fase em quase 100 mil voluntários cubanos de faixa etária entre 18 e 80 anos. Outras centenas de milhares de doses da vacina foram enviadas para países como Irã e Venezuela.

Orçamento de gastos públicos de Cuba por setores.

Para o cônsul, Cuba deve atingir a produção de 100 milhões de doses das vacinas até agosto desse ano e, ao final dos ensaios, terá capacidade de produzir diariamente 100 mil doses de vacinas. Segundo Monzón, a política conquistada pela Revolução permitiu o desenvolvimento industrial e científico do país, medicamentos que são únicos no mundo, um sistema de saúde com base na profilaxia. Pedro afirma que o desenvolvimento da biotecnologia cubana está no mesmo nível dos países imperialistas, uma área da ciência que recebeu aporte de bilhões de dólares em mais de 35 anos. Declara ainda que mais de 50% do PIB de Cuba são destinados a temas sociais como saúde e educação.

Fidel Castro, líder revolucionário de Cuba, em seu primeiro discurso ante a ONU, em Nova Iorque na ano de 1960, denuncia as agressões dos Estados Unidos ao mundo.

A questão econômica foi classificada como preocupante principalmente pelo bloqueio econômico imposto pelos Estados Unidos e que o mesmo se trata de uma política de guerra contra os cubanos, assim, Pedro declara que “Há problemas que estamos resolvendo, alguns tem a ver com a necessidade de escapar do bloqueio, mas todas as mudanças econômicas de Cuba não podem ignorar o bloqueio. Por isso, muitas vezes temos que fazer inventos estranhíssimos, do ponto de vista econômico, para sobreviver à pressão do bloqueio. Isso tem gerado preocupações, isso é muito complicado. Por exemplo, agora temos uma mudança que chamamos ‘reordenamento econômico’, onde estamos revendo coisas que já não funcionavam para tornar mais eficiente. Mesmo para essas mudanças, não podemos esquecer que somos um país sitiado, os que estão em guerra conosco querem nos destruir. O bloqueio não é um fenômeno técnico, não é um fenômeno contábil, se trata de um fenômeno político, querem destruir a Revolução Cubana. Mas, se não houvesse o bloqueio, o desenvolvimento de Cuba seria impactante devido ao nível de desenvolvimento da população. Por isso, não retiram o bloqueio. Se o socialismo triunfa é um demérito imenso para o capitalismo ocidental. Podem mudar a forma de nos tratar, mas irão manter o bloqueio”.

Joe Biden, presidente genocida dos Estados Unidos

Para o Cônsul cubano, a eleição de Joe Biden não trouxe nenhuma mudança na relação dos Estados Unidos com Cuba e outros países que sofrem a violência da política imperialista, muito pelo contrário, disse “Penso que o imperialismo é um sistema com propósitos e interesses, isso não se muda. A política dos Estados Unidos, não somente em relação a Cuba, mas ao mundo todo, demonstra seus interesses imperiais. Por isso, estão no Oriente Médio. Por isso, Biden segue fazendo o mesmo que Trump, não retirou uma única das terríveis medidas que aquele aplicou contra Cuba. Já bombardeou a Síria, já teve conflito com a China e também com a Rússia porque quer manter o controle do grande capital sobre a economia mundial”.

Confira na integra a entrevista com o Cônsul Geral de Cuba, Pedro Monzón Barata:

Diário Causa Operária: Gostaríamos que contasse tudo que se passa em Cuba desde o início da pandemia da COVID-19, também da vacina Soberana 2 que está na terceira fase de desenvolvimento, são 40 mil pessoas entre 18 e 80 anos que participarão voluntariamente dos testes. Cuba tem cerca de 350 mortos de coronavírus, o que faz de Cuba um país tão excepcional no sentido do combate à pandemia? A que você atribui essa condição?

Pedro Monzón: Em Cuba desde antes que fosse detectado o primeiro caso de COVID-19, o país já estava se preparando para enfrentá-lo. Cuba, como se sabe, tem um Estado forte, uma política definida que tem critérios estratégicos e que coloca em primeiro lugar os interesses do povo e em segundo lugar, completamente subordinado, os interesses econômicos. Primeiro, tem que salvar os cubanos. Cuba tem mostrado muitas vezes que quando se tem um ciclone, ou uma tempestade, ou algo assim, é preciso gastar o que for preciso, cada vez que se trata de ser mais eficiente, salvamos os cubanos. Em outros países das Antilhas, Estados Unidos ou da América Central há muitos mortos e em Cuba há muito pouco, produto de que se prioriza a atenção ao ser humano. Mas, por trás, há um Estado forte com critérios sólidos, com princípios de política. Ademais do que trabalho estratégico, um sistema muito sofisticado de instituições de diferentes tipos. Quando há alarme nacional ou uma emergência de qualquer tipo todos nos unimos tanto organizações não-governamentais como organizações políticas, governamentais, ministérios, universidades. Tem-se uma política que trata todos os fatores com todas instituições, onde todos trabalhamos em função dessa política incluindo os meios de comunicação. Quando há um ciclone, por exemplo, todo mundo trabalha em função de aliviar o ciclone tanto organizações do governo, governos municipais e provinciais como universidades, as forças armadas, os meios de comunicação que são fundamentais porque diariamente estão dando informações e orientações de como se deve atuar. Para Cuba, não é difícil mobilizar toda essa força, são mecanismos muito maduros de muito anos que tem origem na própria revolução. Sabe-se que, em poucos dias, podemos organizar manifestações de centenas de milhares de pessoas ou de milhões. Convoca-se para ‘Liberdade dos Cinco Heróis’ ou para Liberdade de Elian que tinha sido sequestrado pelos Estados Unidos, em dias se pode convocar uma manifestação e vão centenas de milhares, um milhão em Havana e mais de milhões em todo o país. Isso se coordena nacionalmente, um sistema de coordenação muito rigoroso, muito bem estabelecido. Em Cuba, ademais, há um sistema de saúde de muito alto nível, muito profissional, que parte da gratuidade e da universalidade. Todo mundo tem direito gratuito à atenção da saúde, onde queira há um clínico, hospitais, médicos de famílias que estão a nível de bairros. Então, esse sistema de saúde pública se coloca em função das pessoas, das famílias, de alertá-los porque a ideia é sempre evitar a enfermidade. Não somente agora na pandemia, sempre a profilaxia, a medicina comunitária para que não se enfermem, para que não sofram e não morram finalmente. Esse sistema de saúde é fundamental. Não se pode entender Cuba se não se sabe que tem um sistema tão desenvolvido, que tem alcançado o mundo inteiro devido à cooperação de muitos países que tem a vantagem de ter apoio no sistema de saúde. O povo cubano é um povo educado com nível de cultura alto, em Cuba não há desigualdade dos níveis de educação, não há desigualdade das riquezas, não há um grupo pequeno de pessoas com nível alto de educação e uma maioria, uma grande quantidade do povo, sem educação. Todo mundo, de maneira uniforme, tem educação básica. Há científicos que têm alto nível, sempre há diferença, mas todos têm educação básica e acesso à cultura. Esse fator é muito importante. Um povo educado e culto é capaz de entender as orientações e não se deixa levar por possíveis notícias falsas ou rumores, que, em Cuba, como se sabe, não proliferam. Não é como aqui ou em outros países que as notícias falsas se movem com liberdade, ainda que os meios dos Estados Unidos tratam de se inserir e às vezes inserem rumores e notícias falsas. Há um povo capaz de entender e seguir as orientações, o que não quer dizer que não há indisciplina, os cubanos gostam de dançar e beber como os brasileiros. As pessoas estão muito tempo fechadas em casa e muitas vezes saem para festas, uma parte são afetados pela pandemia graças ou por desgraça dessa indisciplina. Como você disse, não são 300, temos pouco mais de 400 pessoas falecidas, que para nós é uma cifra enorme. Mas quando se compara a outros países, a cifra é muito pequena, o mesmo pode se dizer para pessoas contaminadas. Cuba tem um desenvolvimento científico muito alto, um desenvolvimento da biotecnologia comparado ao desenvolvimento de países de primeiro mundo. Temos medicamentos que não existem em outros países, que são únicos de Cuba: contra vários tipos de câncer, contra câncer de pulmão [que é muito especial], de próstata, de cabeça, de pescoço, medicamento contra vitiligo, medicamento contra psoríase, medicamento que evitam a amputação da perna das pessoas que têm diabetes [coisa que é muito comum nos diabéticos porque gangrenam, evitam quase completamente, um alto percentual]. Isso porque temos uma biotecnologia que tem 35 anos de existência, onde se tem investido uma alta quantidade de dinheiro, mas sobretudo temos os recursos humanos. O mais importante que temos em Cuba são as pessoas [a cabeça, cérebro e atitude do povo], graças ao nível de educação, essa política de princípios da revolução. Por isso, temos uma ciência de muito alto nível e uma biotecnologia do mais alto nível sem discussão. Ademais, te repito, há biotecnologia porque há pessoas com cérebro, com iniciativa, com inteligência e preparação. E há biotecnologia porque há um Estado forte que decidiu investir mais de 2 bilhões de dólares no pior período da revolução, que foi chamado “Período Especial”, quando a União Soviética desapareceu, junto aos países socialistas, e o bloqueio se reforçou. Nesse período, quando Fidel decidiu investir mais de US$ 2 bilhões, as pessoas pensavam que estava louco e que era impossível, agora resulta que somos um país que está na vanguarda do desenvolvimento da biotecnologia mundial. Temos uma plataforma científica-tecnológica muito sólida na produção de medicamentos para muitos públicos e na produção de vacinas [em Cuba são oito que se consomem, há vacinas que são unicamente cubanas]. Por isso, quando chega a COVID-19, Cuba já tem o treinamento, tem os cérebros, uma plataforma científica e a experiência que permite conseguir as vacinas. Conseguiu-se, no início, mais de 40 possibilidades de vacinas, mas a política foi concentrar-se nas que poderiam ser mais efetivas. Por isso, ficamos apenas com duas. Agora temos cinco candidatas à vacina, além de uma sexta que estamos trabalhando em conjunto com a China. Vamos empregar a tecnologia cubana, a ciência cubana e os recursos da China. Temos importantes investimentos em biotecnologia na China, Índia, Tailândia, Irã, etc. De todas essas cinco vacinas, sobre a sexta não sei de seu estado, há duas que são as mais avançadas. A primeira é a “Soberana 2” que está na terceira fase de ensaio clínico que é a última fase. Na prática, temos mais da metade do universo que estamos vacinando, são 44.010 (pessoas) e por volta dos 80% estão vacinados para o ensaio. Junto com isso está se fazendo outro processo que se chama “intervenção de estudos” com mais 150 mil pessoas. A segunda, segue muito próximo da Soberana 2, também na terceira fase que é o último ensaio, que se chama “Abdala” e está sendo aplicada na zona oriental de Cuba em 48 mil pessoas. Realiza-se também a intervenção de estudos com esses voluntários. O plano de Cuba, que seguramente será cumprido, é vacinar 100 milhões de pessoas até agosto e terminar o ano com a vacinação de todos. A Soberana 2, assim como Abdala, está sendo aplicada em pessoas de 18 e 80 anos. No mês de abril, vamos começar aplicar a Soberana 2, também outras Soberanas (Soberana 01 e Soberana Plus) em crianças e adolescentes de 5 a 18 anos. Temos grande capacidade de produção com todas instituições científicas que são muitas, as fundamentais para produção destas vacinas são Institutos Finlay de Vacinas, centros de engenharia genética e biotecnologia. Temos muitas fábricas ou instituições fabris para produzir vacinas, registradas e seguindo as normas internacionais deste tipo de medicamento, que exigem requisitos muito rigorosos. Penso que com Soberana teríamos mais de 100 milhões de vacinas já neste ano, essa é minha opinião pessoal. Abdala poderá agregar vacinas adicionais quando estiver aprovada, vamos ter a capacidade de produzir 100 mil vacinas diárias. De tal forma, que poderão ser utilizadas para terminar de vacinar o povo cubano e para apoiar outros países. Não vamos presenteá-los, mas é possível que alguns países muito pobres tenha a vantagem da nossa solidariedade, outros países a preços módicos porque Cuba não é um consórcio farmacêutico privado. Estamos dialogando com a OPAS (Organização Pan-americana de Saúde), com ALBA-TCP (Aliança Bolivariana para os Povo da Nossa América – Tratado de Comércio dos Povos), um grupo de países do Caribe e também existe a possibilidade de uma ação bilateral onde um país solicite a vacina – sempre a preços que não tem nada a ver com as farmacêuticas porque não são preços para lucrar, mas para produzir a vacina e ademais alimentar o sistema de saúde de Cuba. Neste momento, estão fazendo ensaios clínicos, não somente em Cuba, mas também Irã que já recebeu 100 mil vacinas para que façam a vacinação e Venezuela que receberam também uma quantidade de vacinas. Supõe-se que farão ensaios com Soberana 02 e Abdala. Essa é a situação, até agora, dos resultados que é muito positiva. Em Cuba, há um representante da OPAS e da OMS (Organização Mundial da Saúde) que está entusiasmado com a vacina cubana. Evidentemente, não se aprova a vacina internacionalmente até que se registre na OMS, mas ele vê muito positivamente por estar muito vinculado com os ensaios clínicos e seguindo também muito de perto as intervenções de estudo. A situação do mundo é tão difícil que se pode decidir que a vacina seja usada antes de ser aprovada, a maioria das vacinas que estão se utilizando ainda não foram aprovadas pela OMS, estão sendo usadas em condições de vacina emergencial. Essa é a realidade do que está passando em termos muito gerais.

DCO: Então, o que você está dizendo é que mais importante que ter uma grande economia como as potencias imperialistas é a política. Cuba é um país pobre que sofre um bloqueio criminoso do imperialismo. Gostaria de saber como é a participação da população para combater a crise, existem conselhos populares? Como os cubanos se organizam?

PM: A primeira coisa que temos que dizer é que os países desenvolvidos podem ter estatísticas macroeconômicas impressionantes, mas socialmente muitas vezes a situação é desastrosa. Nos Estado Unidos, muitas pessoas vivem na rua, há muitíssimos analfabetos e o sistema de saúde não serve para nada. De maneira, que o PIB (Produto Interno Bruto) não corresponde ao desenvolvimento real. É um desenvolvimento fictício que sobretudo se concentra nos grandes interesses financeiros e monopólios. O povo não recebe por igual os ganhos, uma grande maioria é afetada pelo desemprego, há grande analfabetismo, há muitas pessoas sem teto, há fome e há muita desigualdade. Primeiro que, nos países desenvolvidos a preocupação é a economia, mas para os interesses do grande capital, das oligarquias, dos grandes políticos, etc. Não necessariamente responde aos interesses do povo, ainda que digam que estão preocupados com a economia. É impossível estabelecer essa relação sem ter em conta os interesses da população, não é possível que se preocupe com desenvolvimento econômico sem sequer colocar de imediato uma preocupação com a população. Sobre isso hão há discussão, não fica nenhuma dúvida. Em Cuba, não há pessoas vivendo nas ruas, não há crianças vivendo nas ruas e não há fome. Sem dúvida, um dos países melhor alimentados apesar do bloqueio ou com menos insegurança alimentar que os países da América Latina. Não há desigualdade econômica, há um alto nível cultural e de educação. O desenvolvimento do ser humano não é o desenvolvimento da contabilidade capitalista, não são números. Um indivíduo é uma soma de átomos, mas que tem como consequência a geração de um ser humano com pensamento, com sentimento, etc. O bem-estar do ser humano não pode ser traduzido em números de forma alguma. Sobre o acesso à Cultura, um espetáculo que no Japão vale 50 mil dólares, em Cuba não custa 5 pesos cubanos. Temos uma série de vantagens neste terreno ainda que tenhamos muito trabalho, sobretudo pelo bloqueio dos Estados Unidos que é brutal e que se pôs muito mais agressivo. Há problemas que estamos resolvendo, alguns tem a ver com a necessidade de escapar do bloqueio, mas todas as mudanças econômicas de Cuba não podem ignorar o bloqueio. Por isso, muitas vezes temos que fazer inventos estranhíssimos, do ponto de vista econômico, para sobreviver à pressão do bloqueio. Isso tem gerado preocupações, isso é muito complicado. Por exemplo, agora temos uma mudança que chamamos “reordenamento econômico”, onde estamos revendo coisas que já não funcionavam para tornar mais eficiente. Mesmo para essas mudanças, não podemos esquecer que somos um país sitiado, os que estão em guerra conosco querem nos destruir. O bloqueio não é um fenômeno técnico, não é um fenômeno contábil, se trata de um fenômeno político, querem destruir a Revolução Cubana. Mas, se não houvesse o bloqueio, o desenvolvimento de Cuba seria impactante devido ao nível de desenvolvimento da população. Por isso, não retiram o bloqueio. Se o socialismo triunfa é um demérito imenso para o capitalismo ocidental. Podem mudar a forma de nos tratar, mas irão manter o bloqueio. Oxalá retirassem. Penso que o imperialismo é um sistema com propósitos e interesses, isso não se muda. A política dos Estados Unidos, não somente em relação à Cuba, mas ao mundo todo, demonstra seus interesses imperiais. Por isso, estão no Oriente Médio. Por isso, Biden segue fazendo o mesmo que Trump, não retirou uma única das terríveis medidas que aquele aplicou contra Cuba. Já bombardeou a Síria, já teve conflito com a China e também com a Rússia porque quer manter o controle do grande capital sobre a economia mundial. Sobre as organizações em Cuba, há inúmeras que são de massas e que existem desde o início da Revolução. Essas organizações são verdadeiramente de massas, não são como ONGs ou grupos pequenos de outros países, que recebem um pouco dinheiro para então fazer campanhas. As organizações agrupam a imensa solidaria Defesa da Revolução. Os comitês de Defesa da Revolução foram criados no início da Revolução quando havia sabotagens, etc. Em um discurso, Fidel disse “Vamos criar Comitês de Defesa da Revolução do Povo, bairro por bairro, quadra a quadra”. Assim, se organizaram as milícias populares, em cada bairro para proteger os interesses da revolução. Depois desta etapa agressiva de intervenção ianque, onde se produziu a invasão da Baía dos Porcos, os Comitês de Defesa se ocuparam de outras coisas como, por exemplo, ajuda na vacinação, nas eleições, na obtenção de matérias-primas, etc. Os Comitês de Defesa correspondem de 80 a 90% da população de Cuba, onde está a Federação de Mulheres Cubanas que reúne quase todas mulheres, as quais respondem a política de protagonista fundamental da sociedade. Há associações de juristas, associações de economistas, de estudantes secundários, associação de estudantes universitários onde a maioria participa. Não pertencem ao governo, mas são revolucionários porque a imensa maioria do povo de Cuba é revolucionária. E os meios de comunicação respondem aos interesses da Revolução, não são privados. Se houvesse independência, o dinheiro iria fluir para financiar esse tipo de meio. Nunca estiveram jamais em mão privadas porque implicaria em fazer política, estariam a serviço de destruir a Revolução. Em Cuba, está acontecendo de grupos muitos pequenos de pessoas delinquentes estarem recebendo dinheiro dos Estados Unidos para falar contra a Revolução. Em Miami, há pessoas falando barbaridades, mentiras absolutas sobre Cuba. Se abrirmos a porta para influência dos Estados Unidos, sabendo que são o país mais forte do mundo, o mais agressivo e que estão 90 milhas de nossa costa, estamos fritos. Não podemos dar de presente a Revolução que tem custado tanto esforço, tanto sangue e que beneficia a imensa maioria do povo. Há também organizações de artista em Cuba. Entre todas organizações está agrupada toda população de Cuba em diferentes setores que apoiam a Revolução.

DCO: Qual parte do orçamento geral de Cuba é destinado para atender a saúde pública?

PM: Primeiro, Cuba não é um país capitalistas, os ingressos do país não são destinados aos bolsos dos capitalistas. Há alguns poucos produtores e comerciantes privados. Mas uma economia, evidentemente, estatal e, obviamente, os privados tem que pagar impostos. Os ingressos chegam ao estado que canaliza para saúde pública, educação, etc. e etc. Cuba é um dos países, senão possivelmente o que mais destina dinheiro, de maneira permanente, do orçamento aos temas sociais. Um percentual altíssimo, mais de 50% dos pressupostos. Há instituições como Ministério da Cultura que ingressa dinheiro e com isso se autofinancia, muito pouco passa a nível estatal. Temos milhares de músicos, Cuba culturalmente é muito forte. Em condições muito especiais, tem que se conduzir de outra maneira. Agora, por exemplo, com a pandemia da COVID-19, há gastos imensos para garantir que a população não adoeça, não sofra, não morra. Sem dúvidas é muito mais dinheiro que se outorgava antes. Nossa economia está numa situação muito crítica devido o bloqueio e a pandemia. O bloqueio é terrível, não permite que recebamos um único centavo. E agora com a pandemia, um país cujos ingressos do turismo são os mais importantes, tivemos quase zero. No Brasil o turismo também é quase zero, isso passa no mundo inteiro. A situação econômica é muito difícil e, no entanto, para atender a população temos gasto mais dinheiro para assegurar estejam protegidos da pandemia.      

DCO: Cuba tem enviado médicos para vários países todo mundo, aqui no Brasil tínhamos até o governo Bolsonaro quase 10 mil profissionais da saúde que poderiam estar ajudando na pandemia. Qual a importância que tem a política internacional cubana?

PM: A política exterior de Cuba é um princípio fundamental de solidariedade, Cuba não usa o princípio de solidariedade como instrumento de política. A solidariedade é um princípio ético e moral da Revolução, tanto dentro de Cuba, entre nós, como com os demais povos. Por isso, Cuba defendeu a Independência de Angola, combateu o Apartheid e lutou pela liberdade de Mandela. Sobre Angola, disse Fidel “De Angola, os cubanos trouxeram somente seus mortos para Cuba, nenhum diamante”. Não é como os Estados Unidos, que entram no Iraque e o que fazem é apoderar-se do petróleo, entram no Barein falando de democracia e, finalmente, se apropriam da economia colocando nas mãos do grande capital. Cuba jamais fez isso. Cuba oferece ajuda em diversos terrenos, quando há furacões e terremotos. Tem enviando técnicos, especialistas, médicos, enfermeiros, etc. para colaborar. Cuba recebeu 26 mil crianças irradiadas no acidente de Chernobyl, algumas com seus pais, gratuitamente, para curá-los. Também de Goiás, algumas crianças também receberam radiações nucleares. Podemos falar dos vietnamitas, que estudaram em massa em Cuba durante a guerra, enviaram muitos de seus cidadãos para estudar engenharia, idiomas…de tudo. Muitas pessoas das universidades e do governo falam espanhol porque estudaram em Cuba no período da guerra. Cuba se tornou uma escola latino-americana de medicina, onde estudaram mais de 30 mil médicos de países pobres, foram formados muitos médicos do Brasil, a imensa maioria de forma gratuita. Ultimamente, para os países que possuem dinheiro, para pessoas que possuem dinheiro, também facilitamos os estudos, mas pagando valores que são muito inferiores que outros países. Cuba tem prestado solidariedade há muitos anos. Quando a Revolução triunfou em 1959, fizemos algumas coisas, e, em 1961, dá-se as primeiras amostras de ajuda aos países da América Latina. Nós temos enviado mais de 400 mil médicos ao mundo em condições de solidariedade, além de técnicos e enfermeiros que tem salvado vidas em mais 70 países. Temos a Brigada Henry Reeve que atende em situações excepcionais como epidemias graves, acidentes climáticos e geofísicos. Quase 100 mil médicos, em 56 brigadas, ante mais de 40 países, estão ajudando agora com a pandemia e também correndo risco. Tudo isso tem sido feito, não em troca de dinheiro, não para fazer política, mas por razões de princípios. Não significa que, depois, estes países não nos agradeçam. Não fazemos para obter lucros diplomáticos como Estados Unidos e outros países. Quando fomos à Angola foi porque sentíamos um compromisso com o povo angolano, porque temos sangue africano como os brasileiros, porque detestamos o que aconteceu por conta da escravidão, as coisas terríveis que se fizeram. Cuba esteve comprometida durante a época da colônia espanhola e foi para África por isso, para defender Angola e outros países africanos. Cuba tem ajudado muito os países da África porque nos sentimos também africanos, o sangue africano corre em nossas veias. Tem a ver com nosso pensamento, com a nossa cultura, etc. Quero dizer com isso que é um problema de princípios, um problema moral, um problema ético. Do Brasil, fomos embora porque nos agrediram. A política do país a nível central começou a agredir continuamente os médicos cubanos, dizendo que eram maus profissionais e que formavam guerrilheiros. Disseram de tudo. Tantas barbaridades disseram sobre os médicos. Bestialidades. Mentiras absolutas e insustentáveis. Todo mundo sabe aqui no Brasil e no mundo inteiro que os médicos cubanos são profissionais e humanos. São pessoas que trabalham, não por dinheiro, o que não quer dizer que não precisam, mas porque estão formados em valores. Por isso, vão para lugares muito difíceis e muitas vezes de risco. Lugares perigosos onde não há nenhum médico desses países, que preferem estar na cidade, em uma casa com ar condicionado, com um bom automóvel, etc. Não se metem numa comunidade quilombola, por exemplo. Estive na Austrália, em comunidades aborígenes, o único diplomático que havia era eu, o médico aparecia a cada 15 dias e não olhava na cara dos pacientes, usam uma enfermeira como intermediaria. Essa não é a posição de Cuba, em nosso país todos tem direito e acesso a saúde. Nós levamos acesso a saúde para todos os países. Somos o país que tem mais médicos por habitantes no planeta. Nossa política é a solidariedade. Durante muito tempo tínhamos um gasto bruto ou absoluto, mas, passados os anos com a situação difícil que tínhamos, começamos a diferenciar países pobres e países ricos. Há países ricos que podem pagar, ainda assim recebemos sempre muito menos do que se paga por estes serviços e os médicos cubanos vão para lugares muito difíceis. Estes rendimentos alimentam o Sistema de Saúde de Cuba, por isso nunca vão para mãos privadas. O estado canaliza também esses recursos para ajudar os países que não podem pagar, com os quais temos que ser solidários.

DCO: Uma curiosidade, você disse que os cubanos gostam de bailar como os brasileiros, que festejam e se divertem. Cuba necessitou de alguma medida repressiva contra população para que as pessoas não estivessem nas ruas?

PM: Em Cuba, as pessoas não sabem o que é a repressão dos países capitalistas. Um soldado, um militar, um policial é uma pessoa comum. Não se vê ninguém com capacete como em outros países, jato de água para expulsar as pessoas das ruas e tampouco usando gás pimenta contra o povo. Primeiro, o povo está educado sendo capaz de entender, mas sempre há quem se desvia porque se cansa e põe-se impaciente. Pode-se dizer que se tem aplicado multas para quem andar sem máscara, etc. Nós não temos um povo absolutamente consciente, que sabe tudo o que se tem que fazer e atua como uma máquina. Somos seres humanos com virtudes e defeitos, mas temos possivelmente muito mais virtudes que os outros povos devido ao nível de educação e cultural.

DCO: Tampouco é uma multa que vai esmagar as pessoas como acontece no Brasil?

PM: Em nada (risos).

DCO: Bom, creio que falaste sobre todos temas que tínhamos interesse. Agradeço muito ter nos atendido prontamente.

PM: Eu agradeço a oportunidade. Para nós, falar de Cuba é uma grande oportunidade. A imprensa normalmente, exceto a alternativa que não tem grande alcance a imprensa, não fala de Cuba ou, pior, falam muito mal de nosso país. A grande imprensa oligárquica e tradicional segue a linha dos Estados Unidos. Por isso, toda vez que nos dão a oportunidade, aproveitamos com prazer enorme.  

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