Por Victor Assis
Nas vésperas das eleições de 2018, fomos obrigados a testemunhar os atos do #EleNão, organizados pela burguesia como última tentativa para viabilizar a fracassada candidatura de Geraldo Alckmin (PSDB) à Presidência da República. Os atos não impediram que Bolsonaro garantisse uma votação expressiva para o segundo turno e, posteriormente, vencesse as eleições fraudadas daquele ano. Contudo, serviram como um grande ensaio para que a burguesia encapsulasse frações significativas da esquerda nacional em uma frente ampla com setores da direita, como Fernando Henrique Cardoso e Rachel Sheherazade.
Ali, abandonou-se por completo uma série de conclusões importantes que a experiência da luta contra o golpe haviam imposto. A luta de classes foi substituída pela luta do bem contra o mal e os golpistas, que outrora estavam tramando a derrubada de Dilma Rousseff e a prisão de Lula, se tornaram valorosos aliados na luta contra o maligno Bolsonaro.
Tal concepção, ardentemente defendida pelos intelectuais da esquerda pequeno-burguesa, era absurda e criminosa — afinal, os interesses dos trabalhadores não podem ser conciliados com os interesses da burguesia. O tempo, no entanto, mostrou que, além de absurda e criminosa, tal posição não passava de uma farsa.
Os novos aliados da esquerda na luta contra o fascista Bolsonaro eram ninguém menos que o famoso centrão — isto é, os políticos e partidos tradicionais da burguesia, principais responsáveis pela aplicação da política neoliberal nos últimos anos e base de sustentação do governo Bolsonaro. Inimigos, por definição, dos trabalhadores.
Na medida em que a crise do regime foi se aprofundando, o apego à burguesia se mostrou mais fiel. É tanto que ontem (6), em meio ao pior momento do governo Bolsonaro, no início de uma pandemia que deverá deixar milhares e milhares de corpos para trás, o deputado federal Marcelo Freixo (PSOL) estava lançando a palavra de ordem de Fica Mandetta. Isto é, defendendo explicitamente que o ministro direitista Luiz Henrique Mandetta, ex-deputado do DEM e executivo da Unimed, que não esta fazendo absolutamente nada para evitar que o coronavírus mate uma parcela expressiva da população, permanecesse em seu cargo.
Ao mesmo tempo em que a esquerda pequeno-burguesa foi se mostrando mais dependente da burguesia, ao mesmo tempo em que os gritos de golpista e xingamentos foram dando lugar a abraços fraternais — pelo Twitter, obviamente —, a oposição ao governo Bolsonaro foi ficando cada vez mais diluída. A cada semana que se passou das eleições de 2018, percebeu-se nitidamente, que a vontade política de derrubar o governo era cada vez menor.
O problema, no entanto, é que, diante da quantidade de ataques que Bolsonaro já disparou contra a população e do nível de revolta em que os trabalhadores se encontram, a única maneira de ser contra o governo Bolsonaro é lutar para a sua derrubada. Dito em outras palavras: ser contra o governo Bolsonaro, ter a compreensão de que o governo Bolsonaro é uma ameaça à vida dos trabalhadores, é lutar para que ele caia imediatamente.
Bolsonaro é um representante direto da burguesia — a última alternativa encontrada que os capitalistas encontraram para derrotar eleitoralmente o Partido dos Trabalhadores (PT). Nesse sentido, sendo um representante dos piores inimigos dos trabalhadores, que querem saquear o Estado enquanto o povo morrerá de fome, é e será diretamente culpado pelo desastre que o Brasil deverá testemunhar em um período muito próximo.
Contudo, é preciso ter claro que Bolsonaro só recebeu poderes para tal — e continua tendo — porque não há uma política séria, consequente, por parte das direções das principais organizações da esquerda nacional para derrubá-lo. É preciso, portanto, passar já para essa posição. Ser contra Bolsonaro é mobilizar os trabalhadores, de maneira independente da burguesia, pelo Fora Bolsonaro.