A Santa Casa de Misericórdia de São Paulo lançou a “adoção” de kits cirúrgicos – agulhas, fios de sutura, órteses, luvas – por pessoas físicas e jurídicas para seguir atendendo os pacientes que estão em filas de espera para procedimentos sem urgência.
As Santas Casas são as instituições de saúde mais tradicionais do Brasil. Constituíram uma das espinhas dorsais do sistema colonial português desde o século 16. Hoje, porém, a Santa Casa de São Paulo é uma instituição privada, sem fins lucrativos e filantrópica, dependendo praticamente na íntegra de convênios com o Sistema Único de Saúde (SUS) e com o governo de São Paulo. Evidentemente, com o aprofundamento do golpe, o boicote à instituição intensificou-se. Como acontece sempre que a direita ascende ao poder, a imprensa golpista coloca como solução natural a filantropia. Trata-se na verdade de um problema de política pública. Se o hospital presta serviços essenciais à população com dinheiro público, deveria ter sido estatizado e incluído na rede pública de saúde.
A crise financeira da Santa Casa decorre fundamentalmente de desvios na administração do banqueiro, herdeiro do grupo Itaú, Kalil Rocha Abdalla, provedor da Irmandade Santa Casa, de 2009 a 2015. Dentre outros desvios, Abdalla teria vendido alguns dos imóveis da instituição por valores abaixo do mercado em 2014. Então, suas dívidas eram de R$ 770 milhões, tendo chegado a R$ 868 milhões em 2016. As constantes denúncias de improbidade administrativa contra o provedor levaram ao bloqueio de seus bens pela Justiça Federal em 2016.