Bernie Sanders conseguiu a sua terceira vitória seguida nas primárias do Partido Democrático dos EUA. Após vencer em Iowa e em New Hampshire, Sanders levou 48% dos votos e garantiu 22 dos 32 delegados. Ele venceu o voto popular nos três primeiros estados. E foi a única pessoa da história a fazer isso, seja no partido democrata, seja no partido republicano. Com isso, ele esta ganhando com uma larga margem a frente dos outros candidatos e está se colocando a altura de ser o candidato oficial, apesar de toda a oposição da direita do Partido.
A ala direita do Partido democrático optou pela política de divisão de votos em detrimento do “um contra um” colocado nas eleições internas, com a Hillary Clinton versus Bernie Sanders de 2016. Em 2020, ao menos cinco dos dez candidatos estão colocados de fato na disputa dos votos. Pete Buttigieg disputando os votos esquerdistas de Sanders junto a candidata Elizabeth Warren por um lado, e o candidato oficial da direita, Joe Biden, junto aos outros conservadores, como Army Klobuchar, por outro.
Com isso, a direita conseguiu que, mesmo com a vitória no voto popular em Iowa, com 45,831 contra 43,273 de Buttigieg, este ganhasse em numero de delegados (12 contra 13, respectivamente). Fato é que o primeiro Estado das primárias já indicava a crise política em favor de Sanders. Foram mais de dois dias de contagens de votos, em meio a uma série de denúncias de fraude de boicote a Sanders. Mesmo assim, a vitória popular foi do candidato oficial da ala esquerda do Partido. Da mesma forma, em Nevada, a direita chegou a cooptar a burocracia do principal sindicato do Estado, o Sindicato dos Trabalhadores Culinários, para abrir campanha contra o candidato. Mesmo assim, a vitória de Sanders foi acachapante.
É importante analisar, neste sentido, que Sanders se baseia num movimento de fato popular. A prova disso é que sua candidatura é financiada por doações populares. É a chapa com maior número de doações, contrapondo a oposição de toda a burguesia à sua campanha. Isso porque, a ala esquerda do partido, a qual ele representa, é a ala dos movimentos populares e dos sindicatos: a representação dos trabalhadores na estrutura política norte-americana.
Nessa lógica, é simples entender que o Partido Democrático, finalmente, é o responsável direto pela contenção do desenvolvimento político dos trabalhadores norte-americanos. Dessa forma, a tarefa política de conter a vitória do bloco, via Sanders, é a própria tarefa de conter o aprofundamento da polarização poíitica e a crise da pauta imperialista. Sanders seguir como candidato oficial em detrimento da ala direita democrata, não só colocaria a ala esquerda no próprio domínio do Partido, como desenvolveria a tendência de uma nova conformação partidária no País. Se a direita do Partido Democrático não conseguir controlar a esquerda, há a tendência de ruptura do partido.
Nesse sentido, é preciso explicar que Sanders não é nenhum radical, na realidade, a sua política é bem moderada. Contudo, a ala que ele representa é bem mais radical do que ele. Trump é semelhante. Apesar de direitista, ele é menos fascista do que a sua própria base. As eleições de Sanders contra Trump deverão ampliar essa radicalização a política (e ampliar a crise do centro político), desenvolvendo uma nova tendência política no país. A formação dessas alas ideológicas, com programas bem definidos, seja de esquerda, seja de direita, apontam para a formação de novos partidos além dos tradicionais Partido Republicano e Partido Democrático. A vitória de Sanders, portanto, abre uma crise dentro do próprio aparato imperialista de conjunto.
