O atacante camaronês, Samuel Eto’o, estrela e artilheiro por clubes como o Barcelona e Inter de Milão, denunciou em entrevista para o Canal + da França, exibida no último domingo, 6 de dezembro, o racismo sofrido pelos treinadores negros no futebol europeu.
Eto’o já foi alvo de ofensas racistas em alguns jogos que disputou pela Europa. Durante dois jogos em 2006, quando atuava pelo Barcelona no campeonato espanhol, o camaronês foi alvo de insultos racistas por parte de torcedores de times rivais. Em um dos jogos, contra o Zaragoza, o atacante ameaçou abandonar o campo, acabou permanecendo na partida e ainda deu um passe para um dos gols que deu a vitória ao time catalão.
Hoje Eto’o está com 37 anos e joga no Qatar, pelo Qartar FC. Na entrevista o camaronês afirmou que pretende seguir carreira como treinador de futebol, e que quer dirigir uma equipe europeia. Entre as dificuldades, Eto’o citou o racismo por parte dos clubes europeus. O atacante afirmou que mesmo muitos treinadores negros tendo credencial para dirigir um clube europeu, “não existe confiança por parte dos dirigentes no treinadores negros”. “Somos vistos como seres de segunda classe”, concluiu o jogador.
A denuncia do jogador faz todo o sentido quando se observa que quase não existem treinadores negros dirigindo equipes, não só no futebol europeu, mas em escala mundial. Apesar do futebol ter sido revolucionado pelos negros, jogadores como Pelé, Didi, Garrincha, Ronaldinho Gaúcho, Neymar, entre outros que modificaram radicalmente a forma de se jogar futebol, inserindo aí a criatividade, a inteligência, o drible, entre outros atributos, os negros são mesmo vistos como seres de segunda classe como afirmou Eto’o quando a questão é a direção das equipes.
Aqui se reproduz a visão preconceituosa que perpassa não somente o futebol, mas outros campos de trabalho, onde, para o negro, somente se deve destinar os trabalhos braçais, que exigem força, sendo que os cargos de direção e comando devem ser deixados para os brancos, estes por supostamente serem dotados de uma maior inteligência.
No caso do futebol um exemplo escancarado deste racismo com os treinadores negros foi caso do ex-treinador e jogador do Flamengo, Andrade. Andrade, que é negro, dirigiu o clube carioca em 2009, foi campeão brasileiro em uma campanha espetacular, ganhou o título de melhor treinador daquele ano, mesmo assim foi demitido em 2010 e nunca mais conseguiu voltar a dirigir um clube da primeira divisão.
Exemplos como estes e a denúncia do jogador camaronês, Samuel Eto’o, deixam claro que mesmo em um esporte onde os negros foram e são as maiores estrelas, o racismo e a discriminação contra os negros consegue ter muita influência.