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Sabrina Fernandes, do Tese Onze: ideóloga da esquerda bolsonarista?

As manifestações contra o corte brutal de verbas das universidades e institutos federais e contra os ataques gerais contra a educação, como é o caso do “escola sem partido” trouxeram de volta grandes mobilizações de rua contra Bolsonaro e os golpistas. Há claramente uma tendência de que o ato desta quarta-feira, dia 15, seja enorme em todo o País, tendo como principal alvo, como não poderia deixar de ser, o próprio governo golpista e fraudulento.

Junto com essa tendência de grandes mobilizações, apareceu, ainda que de maneira pontual em algumas manifestações, uma política que estava adormecida desde o início dos atos coxinhas, mais especificamente desde que a direita infiltrou-se nos atos contra o aumento da passagem em junho de 2013: a política dos “sem partido” e do “abaixo essa bandeira… vermelha”. Nas redes sociais, agora, alguns elementos desqualificados passaram a defender tal política, procurando arrebanhar alguns setores despolitizados e inexperientes.

Quem entrou na política em defesa do projeto “manifestação sem partido” foi a “vlogger” e comentarista de esquerda Sabrina Fernandes (Psol). A estrela do Youtube tem pedigri: já foi considerada pela Rede Globo, através da sua revista Época, como “a resposta de esquerda a Olavo de Carvalho”. A moça, que se dedica a fazer vídeos explicando temas políticos no canal do YouTube chamado “Tese 11”, decidiu defender a censura contra as bandeiras dos partidos de esquerda em seu Instagram. Referindo-se ao caso da manifestação dos estudantes do Colégio Pedro II no Rio de Janeiro, quando alguns direitistas ou desavisados tentaram fazer o PCO abaixar as bandeiras.

Sabrina Fernandes diz na postagem do Instagram que a “juventude tem medo da apropriação de suas manifestações orgânicas via bandeiras e carro de som” e que portanto dará importantes “dicas”. Ansiosos pelos seus ensinamentos tão valiosos, nós lemos que o problema é que os partidos políticos não “constroem no cotidiano” a mobilização, que falta até mesmo “humildade para construir em conjunto” e que por fim não podemos comparar os que têm uma política de MBL com o MBL por que isso não “conquista essa juventude”. O que seria de nós sem essas dicas tão descoladas e inovadoras?

Mas a nossa querida “vlogger”, em sua aventura pelas redes sociais, foi contestada por uma seguidora no Instagram que ponderou suas dicas críticas apelando para o que deveria ser óbvio: que o movimento é democrático e que portanto todos os partidos de esquerda do PCdoB ao PCO têm o direito de se expressar. E mais ainda, a seguidora chama a atenção que essa política de “abaixar a bandeira” deu origem ao MBL e que foi o que favoreceu a infiltração da direita nas manifestações em 2013.

Mas a nossa Sabrina não se deu por vencida e retrucou: “no caso do colégio Pedro II o PCO se apropriou do movimento com bandeiras desproporcionais e que essa é uma prática dirigista que não cola no século 21”.

Segundo a ideia da nossa “vlogguer”, para que um partido possa levar bandeiras em uma manifestação ele deveria participar da “construção” desse movimento, mas o que isso significa? Quem conhece a política do mundo real sabe o que isso quer dizer na prática. O partido precisaria  pedir autorização para a “autoconstruída” e suposta direção do  movimento para usar a sua bandeira e para se expressar. Aí, “democraticamente”, as pessoas que são as “construtoras” desse movimento vão autorizar (ou não) que aquele partido leve as bandeiras. É um sistema “esquerdista” de censura. De repente, se levarmos ao pé da letra as “dicas” de Sabrina, os “construtores” do movimento poderão até mesmo adotar um tamanho adequado de bandeiras aos partidos. Resumindo: se um partido precisa passar por tudo isso para levar bandeiras, estamos diante de um caso antidemocrático. Está claro que não se trata apenas de bandeiras: é muito comum a tentativa de censura dos oradores, das palavras de ordem etc.

O que a esquerda pequeno-burguesa – que tem uma mentalidade coxinha – não entende, é que o direito de usar bandeiras não está em discussão. É um direito e ponto final.

Outra coisa importante é sobre a tal da “construção” do movimento. Sabrina, que é uma “vlogger” do século XXI talvez não saiba, mas seu conceito de “construção” do movimento já criou teia de aranha de tão antigo, e quem conhece sabe, não passa de uma palavrinha bonita para fazer demagogia e dar golpe no povo. A tal “construção” é um álibi para um pequeno grupo se reunir à parte e justamente estabelecer regras para a manifestação como se esta fosse propriedade dele. Um movimento de massas não se “constrói”, mobiliza-se abertamente à luz do dia e se organiza em reuniões e assembleias abertas. De mais a mais, movimentos de luta que são reais não têm dono, são abertos e democráticos. O copyright, antidemocrático em todas as situações, não tem lugar aqui.

Quem já participou de algumas assembleias comandadas pela esquerda pequeno burguesa, principalmente nas universidade sabe bem como funciona essa “construção”: “não vamos fazer a greve agora, vamos construir antes”, “não podemos ocupar a reitoria agora, vamos construir antes”, “você não constrói o movimento, portanto não pode se expressar” e por aí vai.

A juventude do século 21, como gosta de dizer Sabrina Fernandes, precisa é aprender com a experiência política para não cair nesses golpes fuleiros e muito antigos da esquerda pequeno-burguesa, cujo único objetivo é calar os opositores e monopolizar ditatorialmente as manifestações, censurando vozes inconvenientes. Para uma “vlogger” moderninha, Sabrina está bem ultrapassada na demagogia esquerdista.

No mais, é preciso ainda dizer uma última coisa. Um ato verdadeiramente popular e com pautas populares – como é o caso da Educação – deve aglomerar todos aqueles e todas as organizações que se colocam a apoiá-lo. Quem está lutando realmente quer o máximo de apoio para sua causa. Qual seria o interesse em proibir as bandeiras e os partidos? O único interesse, como bem disse a seguidora de Sabrina, é da direita que precisa se infiltrar nos atos para destruí-los.

Esta medíocre tentativa de monopólio esquerdista, por outro lado, só tem dado até o momento frutos para a direita, até mesmo porque é uma política da direita. Como a direita (PSL, DEM, MDB, PSDB e outros) não podem levar suas bandeiras aos atos de massas, a única solução é zerar o placar expulsando a esquerda dos atos.

A ideia de que um partido levar suas bandeiras na manifestação seria “dirigismo” – seja lá o que exatamente quer dizer essa palavra – faz parte da mentalidade da esquerda pequeno-burguesa eleitoral. Não está disposta a impulsionar um movimento mas a competir por votos. Não importa se na eleição geral ou se na eleição para o Grêmio e o CA, ela quer votos e para isso vale até mesmo tentar calar o outro.

Toda essa política esconde uma espécie de bolsonarismo de esquerda que deve ser energicamente combatido. É essa a ideologia que Sabrina Fernandes representa e talvez por isso Sabrina tenha recebido cada vez mais espaço na própria imprensa burguesa, com reportagens na revista Época da Globo e outros jornais. Mas uma coisa é fato, é preciso sair às ruas com as bandeiras da esquerda, com as palavras de ordem da esquerda e não aceitar nenhuma “dica” que vai servir para que a direita ocupe a manifestação como em 2013.

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