Esse 1 de janeiro de 2019, não indicou apenas mais um início de ano, mas através de acontecimentos marcantes sinalizou que estamos entrando em nova etapa política, marcada pela acirramento das contradições e das polarizações políticas no Brasil.
No Distrito Federal, através de um ostensivo esquema de segurança, sem uma efetiva participação popular, tomou posse como Presidente da República, Jair Messias Bolsonaro, que chegou ao cargo, após uma espetacular fraude. Em Curitiba, na frente da sede da polícia Federal, militantes e populares que participaram na noite anterior do Réveillon Vermelho, realizavam um ato pela Liberdade Lula e contra o impostor de Brasília.
No Centro Administrativo da Bahia (CAB) em Salvador, foi reempossado para um novo mandato, o governador da Bahia, Rui Costa( PT). O discurso de posse do governador, bem poderia ter sido proferido em Brasília, uma vez que o eixo foi a justificativa da “ política de austeridade” ou seja corte de verbas e arrocho sobre o funcionalismo público e aumento de investimento na “ segurança pública”.
Entretanto, o que mais marcou na posse do governador da Bahia, não foi o seu discurso, mas suas declarações sobre a posse que se realizou em Brasília, e qual a atitude tomar diante do governo federal.
Visando realçar a contrariedade da direita do PT com a posição da direção do Partido de boicote a posse de Bolsonaro, Rui Costa declarou que em “ ambiente democrático” é um “ erro” não participar da cerimônia de posse de um adversário. (https://www.causaoperaria.org.br/ala-direita-rui-costa-pt-ba-defende-que-esquerda-precisa-reconhecer-governo-bolsonaro).
A imprensa golpista que ajudou a camuflar a fraude eleitoral e que na posse de Bolsonaro fez um esforço colossal para dar ares de “ normalidade” institucional a sucessão dentro do regime golpista, evidentemente criticou de maneira ostensiva a posição do PT de não participar da posse.
” Eu vou ajudar”
Mais engana-se quem pensa que as posições do governador da Bahia e da direita do PT são apenas picuinhas contra a falta de “ modos democráticos” da militância do PT , expressas na resolução de boicote a posse de Bolsonaro.
A direita do PT parece ter uma verdadeira obsessão não somente em “ aceitar a normalidade dos resultados eleitorais” da fraude organizada pelos golpistas como não perde a oportunidade de “ desejar sorte” e “ torcer” para que Bolsonaro seja “ bem-sucedido”. Nunca é demais lembrar, que Fernando Haddad, ex- candidato do PT à Presidência da República, no dia seguinte, ao resultado da fraude que colocou Bolsonaro na presidência, publicou uma mensagem desejando “ Boa sorte” Bolsonaro.
Agora, o governador da Bahia depois de criticar o boicote a posse de Bolsonaro, declarou que estava “ torcendo” por Bolsonaro. E mais ainda que estava disposto a “ ajudar”.
“No que depender de mim como cidadão, como governador para as coisas darem certo, eu vou ajudar” https://www.bahianoticias.com.br/noticia/230868-rui-sugere-que-pt-errou-ao-boicotar-posse-de-bolsonaro-em-brasilia.html
Antes de ser empossado como governador da Bahia para o segundo mandato, Rui Costa sancionou, após aprovação pela Assembleia Legislativa da Bahia, um pacto de ataques ao funcionalismo público, que na sua essência é a mesma política golpista e bolsonarista de cortes de verbas, aumento de contribuição previdenciária dos servidores. Neste sentido, podemos concluir Rui Costa já esta “ ajudando” efetivamente os bolsonaristas.
A direita do PT, Ciro Gomes e a conciliação com Bolsonaro
As declarações de Rui Costa, e também de Ciro Gomes, corresponde a uma adesão interesseira à política geral de legitimação dos resultados da fraude, que a burguesia no seu conjunto procura impor.
Reconhecer e mesmo congratular Bolsonaro é tão somente um desdobramento da política anterior de “ virar a página do golpe” pregada pela direita do PT, que não lutou contra o impeachment e impôs o plano B nas eleições.
Mais ainda do que no período anterior, existe uma coincidência entre as posições políticas da direita do PT, vocalizadas pelo governador Rui Costa e as declarações de Ciro Gomes, que pretende através de uma “ frente parlamentar” sem o PT ser uma espécie de “ oposição” oficial domesticada no interior do regime golpista.
Sem dúvida, a política da direita do PT, do Ciro Gomes e de outros oportunistas associados na politica ” vamos ajudar Bolsonaro” e fazer uma “oposição” de fachada, ” torcendo” para o governo dar certo, nada mais é do que uma sinalização que setores oportunistas lançam para os donos do golpe. A constituição de uma ” oposição” de mentirinha representa aceitação das ” regras do jogo” do regime golpista.
Por sua vez, as declarações ” de boa sorte presidente” de setores da direita do PT expressam um profundo temor com o ímpeto dos ataques a ” democracia”. Não se trata da defesa das liberdades constitucionais nem dos direitos populares esmagados pelos golpistas, mas da sobrevivência de posições conquistadas na franja do regime politico, ( mandatos, etc).
A política ” Bolsonaro estou aqui para ajudar” significa uma frenética e desesperada busca de integração ao regime golpista por setores oportunistas, que usam as lutas populares para beneficio próprio.
É importante sublinhar que a direção PT da Bahia justifica essa política do governador Rui Costa de ” oferecer ajuda a Bolsonaro” como uma política ” pragmática”, em defesa dos ” interesses do Estado”. Essa ” justificativa” também é utilizada fartamente para convencer os incautos da ” necessidade” de alianças com setores egressos do carlismo, representantes das velhas oligarquias ainda dominantes em boa parte do território baiano.
O vice – governador da Bahia, Joao Leão,(PP) é o caso típico. Oriundo do núcleo duro das forças carlistas, que diante do fracasso político, do ex-comandante político e ascensão do PT, trocou de lado, mas manteve a mesma política anterior, agora através do governo da ” esquerda”. Leão e outros de grupos tradicionais tem postos chaves no governo baiano. O governador Rui Costa tem o seu vice como uma ponte com Bolsonaro. Joao Leão recentemente declarou, que conhece Bolsonaro de longa data, uma vez que o mesmo fez sua trajetória política recente na Câmara de deputados no PP.
As articulações entre o governador Rui Costa e a direita do PT não é fruto de improvisações, as declarações de ” boa sorte” e de ” oferecimento de ajuda” não são discursos retóricos, nem apenas ” declarações infelizes”, mas é parte de uma estratégia de colaboração. O setor que tem uma posição retorica, apenas para marcar posição, é a esquerda oficial do PT que se limita a se queixar, como se diz na ” boca pequena”. Um exemplo cabal disso, foi durante as eleições, quando ” questionaram” com notas a candidatura para o senado de outro carlista, Ângelo Coronel na chapa da Frente Popular, mas não esboçaram nenhuma critica ao cerne da questão, a aliança do PT com a direita, inclusive não ” questionaram” João Leão como vice.
É preciso se posicionar politicamente. Qual o significado da declaração de Rui Costa que ” Bolsonaro “cuide do povo brasileiro”? isso dito, no momento em que o mesmo toma posse e mais uma vez anuncia uma verdadeira guerra social contra o povo.
Essas declarações do governador Rui Costa do PT não é ” pragmatismo” nem muito menos ” espirito democrático” é tão somente uma posição de traição pura e simples a esmagadora maioria do povo baiano, que massivamente votou contra Bolsonaro.
Essa política precisa ser duramente criticada, pois representa uma política de derrotas para os movimentos populares. Não se trata de opinião nem de uma critica moral, mas de uma necessária luta política contra uma política de profunda capitulação política.
