Veja a análise marxista da prisão do Lula feita por Rui Costa Pimenta na Análise Política da Semana no vídeo a seguir e entenda os efeitos para a luta contra o golpe:
Rui Costa Pimenta, presidente do Partido da Causa Operária (PCO), considera um erro gravíssimo Lula ter se entregado, mesmo influenciado com toda a pressão em volta dos advogados. O correto ali era resistir, chamar o povo o mais amplamente possível, ter muita gente lá e não se entregar de forma nenhuma.
Lula está cedendo diante da arbitrariedade, o que faz com que percamos a oportunidade de enfrentar de fato, no terreno da mobilização direta, o golpe de Estado em uma situação que estava se tornando cada vez mais favorável para os trabalhadores e os setores democráticos da população.
A mobilização contra o golpe tem todo um desenvolvimento, ela não é estática, se queremos compreender bem e traçar uma política séria, temos que entender este movimento. Primeiro, começou com a esquerda toda acuada e até com uma parte da esquerda apoiando descaradamente o golpe. A medida que a mobilização foi evoluindo, essa relação de forças foi se modificando. Eles conseguiram derrubar o governo Dilma Roussef.
O governo que assumiu já começou em baixa por causa das mobilizações, quando o governo começou a colocar em prática uma determinada política profundamente antipopular, ele se desmoralizou ainda mais e a tendência a esquerda se avolumou e vem se avolumando desde então. Pode-se perceber que mesmo com todos os recursos que têm, a burguesia não conseguiu colocar nenhuma mobilização séria porque a direita está desmoralizada.
Temos uma tendência ao crescimento das lutas em determinados setores. Recentemente, houve a luta dos funcionários municipais, uma luta que colocou em xeque o governo Dória. Também há os disparos contra a caravana do Lula, que abriu os olhos de muita gente que está nessa fantasia de que vamos seguir as instituições enquanto a extrema direita está saindo na bordoada com a esquerda. O Assassinato da vereadora Marielle Franco do PSOL do Rio de Janeiro mostrou que a situação é muito mais grave do que parece e agora a prisão do Lula, que não se esperava.
Diante das experiências políticas, setores cada vez mais amplos se posicionam a esquerda de modo revolucionário pois estão em posição combativa de perceber que aquela velha política de que vamos esperar para eleger alguém não vai dar certo. Esta política está desmoronando completamente, então nestas condições a ida do Lula para São Bernardo é até certo ponto um momento culminante de crescimento dessa resistência. Era o momento ideal para enfrentar uma decisão judicial profunda, bater de frente com o Judiciário.
A polícia não ia conseguir prender Lula em São Bernardo, a mobilização com o tempo iria crescer cada tempo e iria se radicalizar. Se começasse uma greve em qualquer ponto do ABC, a jogada estava certa para a classe operária. Isso poderia ter provocado nesse momento um enorme retrocesso na operação golpista. É um erro político e estratégico gravíssimo o Lula se entregar neste momento.
Tudo isso abrirá uma crise dentro do PT, vai abrir uma crise no meio da esquerda toda. A esquerda ficou brincando com a ideia de que se o Lula fosse preso não teria importância. Agora temos uma situação dada. Qual será o efeito dessa decisão se ela se concretiza. Em primeiro momento vai ter um efeito desmoralizante, pois freia o espírito de luta.
O efeito de desmoralização vai ser ainda menor do que os anteriores, quando a Dilma foi golpeada, provocou-se uma desmoralização que demorou um tempo para passar. O grosso das pessoas não imaginou que ela seria retirada, pois acreditavam no caráter sagrado da eleição.
Depois vieram várias iniciativas do governo Golpista e o pessoal acreditou que gritando Fora Temer na rua ia derrubar o governo, estes mesmos chegaram a fazer frente única com a rede globo para derrubar o Temer e nada deu certo. Uns venderam a ideia de eleições diretas, que também não deu em nada. Falaram que a palavra de ordem para pressionar o Supremo Tribunal Federal (STF) para anular o impeachment também não dava certo, assim não essa parte da população achou que não valia a pena se mobilizar, apenas por coisas ilusórias.
As pessoas estão superando estas ilusões e estão adquirindo uma concepção mais nítida da política, vamos ver agora qual vai ser o estrago da decisão totalmente errada do Lula. Até o pessoal deveria cercar o Lula e não deixa-lo se entregar.
O efeito desmoralizante e o baque será menor, pois a situação impulsiona a esquerda e percebeu-se que não se pode ficar chorando de viuvez por acreditar que a democracia que eles consideravam que existia não existe mais. Percebeu-se que o negócio é agir. Nesse sentido, é necessário ter uma política ativa.
A política ativa significa acima de tudo que não se acredita na saída pelas instituições atuais, que o regime político está em plena dissolução. A Constituição foi jogada na lata do lixo, os golpistas inclusive acabarão com a Constituição, as ameaças dos militares indicam isso. Estamos vivendo sob um regime que é controlado por dentro e tutelado pelos militares e a prisão do Lula vai incentivar a direita a ir para cima do restante da esquerda, a começar pelo PT, vão colocar em pauta a questão da ilegalidade do PT.
É preciso ver o efeito da entrega do Lula, que vai ser negativo em princípio, mas é preciso organizar a luta contra o golpe. A nossa política não é uma política subordinada a política do Lula. O próprio Lula em livro que saiu recentemente sob a sua perseguição, ele mesmo disse que não gosta da palavra de ordem “não a prisão de Lula”. Não vamos fazer parte desta ilusão, se muita gente tivesse adotado esta política, como fizeram vários petistas, provavelmente o desfecho da situação teria sido diferente deste da situação que estamos assistindo neste momento.
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