Na última quinta-feira, completou-se 50 anos da fundação das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (ROTA), tropa de elite da Polícia Militar de São Paulo. Nestas quatro décadas, a ROTA destacou-se pelo alto índice de letalidade contra a população negra e pobre das periferias.
A ROTA surgiu no contexto dos chamados anos de chumbo (1968-1973) da ditadura militar, período de implantação do terrorismo de estado e extermínio de toda a resistência armada ao regime. A tropa de elite da PM era destinada ao combate armado aos grupos de guerrilha urbana, isto é, sua finalidade, desde o início, era única e exclusivamente assassinar. Seu primeiro apelido foi “Ronda Bancária”, já que seu intuito era combater os assaltos a bancos cometidos pelos guerrilheiros urbanos em São Paulo.
O fim da ditadura fez com que a ROTA se especializasse no “combate à criminalidade”. Isso pode ser entendido como a repressão permanente à população pobre, de forma a manter as parcelas da população consideradas como um perigo à ordem social capitalista em estado de terror. Um exemplo da atuação da ROTA foi o episódio do Massacre do Carandiru, quando 48 policiais da tropa participaram diretamente do massacre de 111 presos no Pavilhão 9.
Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública de 2018 demonstram que 75% dos mortos pela ROTA eram negros. No período entre 2000 e 2019, policiais da ROTA mataram 1.222 pessoas em situações descritas como trocas de tiros e resistências. A média é de 64 assassinatos por ano, algo em torno de 5 pessoas por mês. É de se destacar que os dados são manipulados, pois sabe-se que a ROTA modifica as cenas de crimes, oculta cadáveres, planta provas. A própria polícia manipula os dados nos registros de boletins de ocorrência por crimes cometidos pelos policiais.
Os números são bastante subestimados devido grande pressão social contra as ações da polícia militar. Para se ter claro o tamanho do genocídio, uma denúncia no início da década de 1990 revelou que de 1970, a ROTA foi criada, até 1992 o número de assassinatos pela polícia militar foi de 3.846, dos quais mais de 65% das pessoas sequer tinham registro de antecedentes.
A ROTA é um perverso legado da ditadura militar. Sua existência comprova a completa ausência de democracia no país. Este batalhão de elite é uma milícia fascista institucionalizada, responsável por levar adiante um verdadeiro genocídio contra a população pobre e negra.
A formação dos policiais da ROTA é direcionada para naturalizar o assassinato e cultuar a morte. A doutrinação de extrema-direita, do tipo fascista, prevalece no batalhão. Os policiais da ROTA são impregnados de uma ideologia de combate à esquerda.
Em 2019, o governo sanguinário de João Doria (PSDB) criou o Batalhão de Ações Especiais de Polícia (BAEP), uma espécie de Rota do interior do estado, que em 11 meses assassinou 27 pessoas. Os governos tucanos nos últimos 30 anos vem tornando a Polícia Militar uma máquina cada vez mais mortífera contra população pobre.
É preciso reivindicar a dissolução imediata da ROTA e de toda Polícia Militar. Uma reivindicação democrática fundamental para pôr um fim aos massacres, torturas, ocultação de cadáveres e todos os tipos de arbitrariedades contra a população.