O segredo das campanhas eleitorais é apresentar as questões básicas escamoteadas por uma cortina de fumaça. Assim, o eleitor é levado a escolher dentro de um leque de opções previamente estabelecidas justamente algo contrário aos seus interesses. Do ponto de vista política mais fundamental, o sistema eleitoral configura uma profunda ilusão de que existe uma “participação popular” nas escolhas “democráticas”.
Entretanto, a questão decisiva que é a ilusão de que o “povo” tem controle sobre os governos ou parlamentos que saíram das urnas. A direita evidentemente manipula o processo eleitoral para continuar exercendo a sua dominação política, que expressa os interesses das classes dominantes. Por outro lado, a esquerda reformista apresenta a noção de que é possível dentro do regime burguês, um governo “democrático e popular” que atenda os interesses das massas populares, sem quebrar o domínio do capital e de setores opressores, como banqueiros, latifundiários, grandes comerciantes e empresários.
Nestas eleições municipais, essa noção de “ governo democrático e popular” “ para todos” e outros slogans que abstratamente colocam a possibilidade de um poder “ alternativo”, dentro de um regime completamente controlado pela burguesia.
A esquerda pequeno burguesa que aparentemente se apresenta contra o “ sistema”, embarcou de maneira entusiástica na “ luta” por eleger seus representantes para as câmaras municipais, em alguns casos até mesmo pelo “ poder municipal”.
O caso da cidade de São Paulo é o mais eloquente dessa euforia que tomou conta da esquerda pequeno burguesa em pleno regime golpista. A candidatura de Guilherme Boulos e Luiza Erundina é apresentada pela imprensa burguesa como a “ candidatura de esquerda melhor colocada”, como um “ fenômeno eleitoral” pela insuspeita revista Veja tem exacerbado o “ sonho” de vitória não somente do PSOL, sigla que tem o passe de Boulos, mas de toda sorte de agrupamentos e partidos “ radicais” como o PCB, UP, Valério Arcary( ex-PSTU), MRT e todos os grupos que se dizem revolucionários e apoiam Boulos e o PSOL.
Se no inicio do ano a “esperança” dessa esquerda era Marcelo Freixo no Rio de Janeiro, com a sua desistência para apoiar indiretamente Eduardo Paes, todas as fichas estão depositadas em Boulos, que com apoio da imprensa burguesa, procura drenar os votos do PT, para enfraquecer a polarização política.
O Boulos não é candidato da burguesia, afinal ainda não é essa escolha preferencial. A direita se divide entre um candidato ligado ao bolsonarismo e outro liga ao PSDB, partido tradicional da classe dominante. Acontece que Boulos somente chegaria ao governo (como essa esquerda acha que pode chegar) se tivesse efetivamente a sustentação e apoio dos setores fundamentais da burguesia. Portanto, estando no governo, seria necessariamente um governo burguês (até pelas propostas de Boulos, ele tem um plano para administrar o estado burguês).
Essa política de participar de um governo burguês não tem nada haver com uma política marxista, nem muito menos do bolchevismo que alguns desses grupos da esquerda pequeno burguês dizem seguir. Entretanto, Lênin nunca cogitou participar do governo provisório. Na Revolução Russa de 1917, a política revolucionária foi expressa nas famosas teses de Abril de Lênin, que apontava como eixo fundamental “ nenhum apoio ao governo provisório”.
Essa política é válida ainda hoje, ou seja é fundamental a luta pela independência de classe perante todas as variantes de governos burgueses, inclusive as que tem a fachada do PSOL.