A esquerda pequeno-burguesa é dada a modismos. É dessa mentalidade que vem a insistência em defender a ideologia da derrubada de estátuas e monumentos. Alguns griingos fizeram isso nos Estados Unidos e na Inglaterra e esses setores da esquerda começam a defender que deveríamos copiar essa mesma ação aqui no Brasil.
O Brasil ainda não ingressou em grandes mobilizações que tomaram conta dos EUA, em grande parte graças à política paralisante dessa própria esquerda. Menos ainda, podemos dizer que há nas massas brasileiras um desejo de ver estátuas caindo ao chão. Muito longe disso. Em compensação não vemos o mesmo ímpeto no que diz respeito a impulsionar uma mobilização real aqui no Brasil, a maioria dessa esquerda ainda vive no tempo do “fique em casa”, mesmo que a direita já esteja mandando todo mundo sair de casa, trabalhar e adoecer.
A colunista do portal Esquerda online e membro da corrente do PSOL, Resistência, Sílvia Ferraro, defendeu que a “Derrubada de estátuas é reparação histórica”. Segundo ela, “um processo revolucionário começa ou termina pela subversão dos símbolos da sociedade anterior.”
Há nesse ideia muito sobre a política que o PSOL e a maior paerte da esquerda pequeno-burguesa vem levando aidante no Brasil. Para a colunista, um processo revolucionário “começa ou termina” com a derrubada de símbolos, ou como ela afirma no título do artigo, por uma “reparação” da história.
Mas por qual processo revolucionário passa o Brasil hoje. Mais precisamente, nem mesmo os Estados Unidos, que assistem a enormes mobilizações. Nesse sentido, então, podemos concluir que para esse setor da esquerda, o essencial a se fazer nesse momento é isso: “reparar a história”, “subverter os símbolos”, não mobilizar o povo.
A “revolução” dessa esquerda é “simbólica”. Depois a gente vê como fica a luta contra a exploração da burguesia, que é a escravidão atual, a luta contra a PM, que é o capitão do mato atual, enfim, a luta política real, contra o golpe, a destruição dos direitos políticos e econômicos do povo, a matança da polícia. Por isso insistem tanto nas estátuas e nos símbolos e não dizem nenhuma palavra sobre a mobilização real do povo.
No artigo, Sílvia Ferraro comemora que “este movimento está fazendo com que alguns prefeitos e autoridades se antecipem e eles mesmos proponham a retirada das estátuas de maneira ‘civilizada’. O prefeito de Londres, Sadiq Khan, disse que criará uma comissão para garantir que as ruas e parques reflitam a diversidade da cidade e retirará homenagens relacionadas à escravidão.”
Fica claro outro aspecto do problema: o caráter reformista de tal ideologia. Basta esconder as estátuas que estamos diante de uma vitória. Enquanto isso, tudo continua normalmente. Na realidade é um reformismo sem nenhuma mudança concreta, apenas “simbólica”. A “reparação histórica” é na realidade uma maneira de ocultar o passado, somente isso.
Por fim, é preciso dizer uma palavra sobre a ideia de que o processo revolucionário “começa ou termina” com a “subversão dos símbolos da sociedade anterior”. Essa é na realidade uma simplificação e uma distorção dos acontecimentos. Se não podemos negar que as revoluções, com todo o ansio de transformação das amplas massas, acabam por agir sobre determinados “símbolos” que estão relacionados à sociedade que se quer combater, também não é correto dizer que isso faça parte de uma ideologia revolucionária, menos ainda do marxismo.
Os marxistas reconheciam que nas revoluções as massas cometem até mesmo excessos, o que não invalidam – de nenhuma maneira – essa revolução. Portanto, se uma estátua ou várias delas forem derrubadas – não estamos dizendo que necessariamente isso seja um excesso – isso não tem nada a ver com uma ideologia, mas mais com o curso mais ou menos incontrolável dos acontecimentos. Ao contrário disso, o marxismo acredita que as ideias, as obras, os monumentos, em suma, toda a historia, são conquistas da humanidade, com toda a sua contradição, sobre a qual se erguem novas e poderosas ideias.
Apagar, esconder, destruir a historia não encherá a bariga de ninguém. Só vai servir mesmo para aumentar a dissimulação daqueles que dominam.