Entre os dias 22 e 26 de novembro de 1910, acontecia no Rio de Janeiro um dos mais espetaculares episódios da luta do negro brasileiro, tratava-se da Revolta da Chibata, que completa 109 anos nesta data, e muito pouco conhecida do povo em geral, especialmente por conta da historiografia oficial.
A presença do negro foi fator fundamental em quase todos os motins e revoltas brasileiras, isso sem falar nas que o negro organizou sua própria luta, como foi o caso da Revolta da Chibata, de 1910, comandada pelo marinheiro João Cândido.
É importante destacar, em primeiro lugar, que a Revolta da Chibata é uma dentre centenas de levantes de negros ocorridos no País, antes e depois da escravidão, e que revela que o povo negro sempre lutou contra o regime de opressão racial da classe dominante. É o exemplo de Canudos, revolta duramente reprimida já em 1897.
Naquela época, era comum os castigos corporais na Marinha Brasileira, através de chibatadas, onde os punidos quase morriam durante a tortura. Esses castigos eram, invariavelmente, contra os negros, até porque a escravidão havia acabado, oficialmente, fazia poucos anos (1888), e, como se sabe, o castigo corporal era a regra durante o regime escravista.
A Revolta da Chibata colocou em xeque todo o regime da República Velha, posto que João Cândido e seus comandados chegaram até a atirar, por canhões, contra a sede do estado brasileiro na época, que ficava no Rio de Janeiro, rejeitando as tentativas oficiais de negociação e conciliação com o regime racista, forçando a burguesia a atender os interesses dos revoltados.
Organizada e levada adiante por marinheiros negros, a Revolta da Chibata colocou abaixo as teorias da classe dominante que classificavam os negros como seres inferiores, não merecedores de direito democrático algum.
Durante a revolta, quem toma a frente é João Cândido, um marinheiro negro, operário, que, em conjunto com os demais revoltosos, mata a maioria dos oficiais que se opõe ao levante, controla a Marinha brasileira e comanda as operações da frota inteira.
O regime, apesar de ceder inicialmente às demandas dos revoltosos, depois de uma série de manobras, consegue conter a revolta e, logo em seguida, manda para a cadeia boa parte dos revoltosos e outros tantos para campos de trabalho forçado. João Cândido, líder negro nacional, é preso também.
De qualquer maneira, o episódio revela que o negro não é e nunca foi pacífico diante da repressão do regime racista, ao contrário do que quer fazer crer toda a imprensa e produção literária da burguesia. Revela mais: que o negro, apesar das dificuldades, se organiza em torno de suas reivindicações e leva adiante sua luta.
Além da Revolta da Chibata, é o que nos mostra o Quilombo dos Palmares no século XVII, dirigido e organizado por Zumbi, a Revolução Haitiana no final do século XVIII, uma das principais revoluções do povo negro em todo mundo contra o domínio colonial, a Revolta dos Malês na Bahia em 1835, dentre outros tantos episódios revolucionários protagonizados pelo negro.
Em homenagem à luta do marinheiro negro é que o coletivo de negros do Partido da Causa Operária foi batizado de Coletivo de Negros João Cândido, que, por sinal, lançou sua revista, de número 13, já disponível para aquisição dos interessados.