A pandemia de coronavírus e a política do isolamento social estão sendo utilizados ardilosamente pela burguesia para atacar ainda mais duramente os trabalhadores por meio de seu calhorda parlamento. A MP 905, que prevê a criação da carteira verde-amarela, é uma delas, mas acabou tendo sua votação adiada em uma manobra da direita para evitar aumentar a crise do regime.
Diante desse evento, nossa redação tomou conhecimento do cartaz virtual abaixo, da CSP-Conlutas, central sindical dirigida pelo PSTU.
O cartaz chama bastante atenção, pelas razões que discutiremos logo em seguida. Em primeiro lugar, porque não há nada o que comemorar: a suposta revogação da carteira verde-amarela não é nenhuma vitória do povo contra seus inimigos — até porque, não há nenhuma mobilização real, hoje, contra a medida. O conteúdo da carteira verde-amarela, isto é, o aprofundamento da reforma trabalhista, forçando os trabalhadores a seguirem o dilema imposto pelo presidente Bolsonaro — emprego x direitos —, é a política defendida pelos capitalistas, e tanto o Poder Executivo, como o Legislativo, como o Judiciário estão sob controle firme da burguesia.
A revogação no parlamento é, nesse sentido, apenas uma manobra da burguesia, uma forma de o regime político fortalecer a unidade criminosa entre a esquerda e o centrão— a frente ampla — e de, portanto, se fortalecer durante a profunda crise em que se encontra. Quando os golpistas avaliarem que estão em melhores condições, irão, inevitavelmente, impor a carteira verde-amarela ou outra medida ainda pior.
Prova de que não é uma vitória — e que a burguesia continua em uma ofensiva contra os trabalhadores — é que há uma série de outros ataques acontecendo, neste exato momento, às categorias. Nada menos que 60% dos rodoviários de Pernambuco chegaram a ser demitidos, enquanto os trabalhadores de entrega por aplicativo estão submetidos a, cada vez mais, condições desumanas. É necessário, portanto, organizar os trabalhadores para, de fato, entrar em choque com o regime e impor um programa que proteja sua saúde e seu sustento perante a pandemia.
O cartaz divulgado pelo PSTU também apresenta um detalhe bastante curioso: a legenda não tem nenhum representante no Congresso Nacional — portanto, sequer teria participado da “grande vitória”, que não é uma vitória do povo, mas, no máximo, uma suposta vitória dos parlamentares da esquerda, que, ao invés de denunciar as falcatruas do regime golpista, estão se lançando em uma aliança desastrosa com a direita para referendar o programa do imperialismo para a crise.
Ou seja, se a política do frente parlamentar já é uma completa farsa, a política apresentada pela CSP-Conlutas e pelo PSTU é ainda mais farsesca: o lobby parlamentar com os parlamentares dos outros. Há, na linguagem popular, uma expressão bem menos educada para o uso alheio de benesses de outrem.
É preciso, portanto, abandonar essa política de completa dependência em relação à burguesia. É preciso que os trabalhadores tomem a iniciativa na situação política, e não ficarem a reboque de seus inimigos. Por isso, ao invés de jogos completamente desmoralizantes que têm como objetivo nada além de um bom desempenho eleitoral, é preciso mobilizar os trabalhadores em torno de sua sobrevivência. Fora Bolsonaro e todos os golpistas! Formar conselhos populares!