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Genocídio dos trabalhadores

Uma análise das mortes dos trabalhadores na pandemia

Os desligamentos por morte nos quatro primeiros meses de 2021 atingiram a marca de 35.125 registros, que corresponde 55,16% de todo período de 2020 e 66,56% de 2019

Diante do genocídio em curso contra a população brasileira, produto da política do governo Bolsonaro e demais governos golpistas nos estados e municípios de todo o País, o Diário da Causa Operária apresenta os impactos da pandemia da Covid-19 para classe trabalhadora, bem como, a equivocada política do “fique em casa” que foi adotada pelas organizações de esquerda, principalmente dos sindicatos no fechamento de suas portas. A análise sobre a real situação enfrentada pelos trabalhadores na pandemia considerou o número mensal de mortes de pessoas infectadas pelo coronavírus, a população economicamente ativa ocupada do País, o número de trabalhadores sob regime da Consolidação das Leis Trabalhistas e os desligamentos por mortes no período. 

O Brasil registrou oficialmente 16,8 milhões de casos de infecção por coronavírus e superou a marca de 470 mil pessoas em decorrência da Covid-19, números que podem ser até três vezes maiores conforme relatório Organização Mundial de Saúde (OMS). Essa hecatombe social, não por acidente, resulta da falta de uma política de combate à pandemia, não houve campanha nacional de recomendações sanitárias, nenhuma distribuição de máscaras e álcool 70% para a população, não foi realizado testagens em massa, as atividades de fábrica nunca foram interrompidas ou fiscalizadas pelas organizações operárias, as embarcações e estações de transporte público sempre estiveram funcionando com aglomerações de pessoas, e tampouco há vacinas para a população. Apesar de 47,7 milhões de pessoas terem sido vacinadas, número que corresponde à 22,5% da população do país, somente 22,7 milhões tomaram a segunda dose da vacina, ou seja, menos da metade dos vacinados estão imunizados (10,7% da população).

É nesse contexto que 80,2 milhões de pessoas, mais de 92% da população ocupada, estão trabalhando normalmente. Assim, os trabalhadores continuam a ser massacrados na pandemia para atender os interesses econômicos da burguesia. 

A evolução do contágio na classe trabalhadora 

Para se ter uma melhor compreensão dos impactos da pandemia da Covid-19, é preciso verificar o comportamento das curvas de desligamentos de trabalhadores por morte, não somente do ano anterior ao último período em comparação, mas também dos anos que o antecederam para verificar um padrão para então tirarmos as devidas conclusões. Desta forma, elaborou-se um gráfico baseado em estudos obtidos através de dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). A curva a ser analisada tem início em março de 2020, mês onde foram registradas as primeiras mortes provocadas pelo coronavírus, e término em fevereiro de 2021, quando a pandemia completou um ano desde sua chegada ao Brasil. As demais curvas para comparação contemplam o mesmo período em anos anteriores (2017/18, 2018/19 e 2019/20). 

Fonte: Ministério da Economia/Novo Caged 

Analisando a curva dos períodos anteriores, verifica-se uma tendência à diminuição dos desligamentos por morte e já no período da pandemia uma discrepância bastante evidente. Com a chegada da Covid-19, tem-se um aumento de 22,4% nas mortes em relação ao período anterior e de 19,1% em relação à média do período anterior, um incremento de 10.300 trabalhadores mortos que podemos atribuir à pandemia. 

Fonte: Ministério da Economia/Novo Caged 

Um estudo do Dieese (Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos) demonstra que no mês de março de 2021 as mortes aumentaram de forma bastante brusca. O primeiro trimestre de 2021 comparado ao anterior imediato teve variação de 48%, no 4° trimestre de 2020 o número de desligamentos de trabalhadores por morte foi de 15.289 e saltou para 22.636 no trimestre seguinte. Se compararmos com o mesmo período do ano anterior, quando foram registrados 13.194 desligamentos, a variação é de 71,6%. 

Fonte: Ministério da Economia/Novo Caged 

Dentre os agrupamentos de categorias (Seção de Atividade Econômica) com maiores variações percentuais de desligamento por morte em relação ao mesmo trimestre no anterior estão os trabalhadores da educação (106%), os trabalhadores do transporte (95,2%) e os profissionais da saúde (71,7%).  

Seção de Atividade Econômica 1° tri 2020 2° tri 2020 3° tri 2020 4° tri 2020 1° tri 2021 Var(%) 1°tri 2020 / 1° tri 2021 
Eletricidade e Gás 38 53 57 58 92 142,1 
Informação e Comunicação 194 270 256 259 435 124,2 
Atividades Financeiras e de Seguros 157 205 187 228 337 114,6 
Educação 465 611 602 500 961 106,7 
Administração Púbica 268 298 382 333 536 100 
Transporte e Correio 1270 1984 1745 1551 2479 95,2 
Atividades Imobiliárias 53 77 60 64 103 94,3 
Atividades Científicas e técnicas 278 378 407 361 519 86,7 
Atividades Administrativas 1774 2786 2456 2047 3170 78,7 
Saúde 586 933 919 752 1006 71,7 
    Fonte: Dieese/Novo Caged 

Uma classificação dos desligamentos por estados demonstra que as regiões mais pobres são as que tiveram maior variação percentual, o estado do Amazonas apresentou um aumento de 437,7%. Essa grande variação no número de desligamentos se deve ao colapso do sistema de saúde em Manaus, capital amazonense, onde faltou oxigênio e dezenas de pessoas foram mortas asfixiadas. É importante destacar que o prefeito da capital do Amazonas era Arthur Vírgilio Neto do PSDB, que reabriu as escolas para aulas presenciais no momento mais crítico da pandemia, o que resultou no contágio de 342 professores em apenas 15 dias, 32,2% da categoria que tem 1.064 profissionais. O estado mais populoso do país, São Paulo, teve o maior aumento em números absolutos, passou de aproximadamente 4.500 para 7.900 desligamentos de trabalhadores por morte. 

Estado 1° tri 2020 2° tri 2020 3° tri 2020 4° tri 2020 1° tri 2021 Var(%) 1°tri 2020 / 1° tri 2021 
Amazonas 114 317 125 147 613 437,7 
Roraima 18 29 12 18 50 177,8 
Rondônia 70 94 108 91 188 168,6 
Acre 21 36 31 31 44 109,5 
Paraná 925 934 1242 1125 1854 100,4 
Rio Grande do Sul 834 872 1028 974 1666 99,8 
Goiás 372 409 600 470 686 84,4 
Mato Grosso 246 317 480 283 453 84,1 
Santa Catarina 668 712 825 903 1228 83,8 
São Paulo 4459 5999 6111 5123 7864 76,4 
Outros 5467 7948 6562 6124 7990 46,1 
Brasil 13.194 17667 1724 15289 22636 71,6 
Fonte: Dieese/Caged 

O método utilizado de comparação de variação percentual tem suas limitações, uma vez que não retrata quais atividade econômicas estão tendo maior número absoluto de desligamentos por morte. Mesmo em variação percentual a análise é delimitada pelos agrupamentos de categorias, na seção de Saúde, por exemplo, a variação apresentada foi de 71,7%, porém o desligamento de médicos teve variação de 204% e de enfermeiros 116%. 

Categoria 1° tri 2020 2° tri 2020 3° tri 2020 4° tri 2020 1° tri 2021 Var(%) 1°tri 2020 / 1° tri 2021 
Médicos 25 65 59 58 76 204 
Enfermeiros 25 47 59 45 54 116 
Atividades de atenção à saúde 498 825 802 655 876 75,9 
Técnicos de enfermagem 145 220 211 171 233 60,7 
Auxiliares de enfermagem 49 64 72 55 72 46,9 
Fonte: Dieese/Caged 

O aumento do nível de desligamentos de trabalhadores por morte se consolida com a chegada mês de abril de 2021, quando as mortes diárias por Covid-19 atingiram a marca de 5 mil pessoas, e se torna bastante visível os impactos da pandemia. Do primeiro para o segundo bimestre de 2021 há um salto de 12.288 para 22.837 mortes, uma variação de 85,8%. Em comparação ao segundo bimestre de 2020, que teve 9.896 mortes, uma variação de 130,7%. Se compararmos os desligamentos no mês de abril de 2021 com a média do ano de 2019, quando não a pandemia ainda não havia chegado no Brasil, a variação é de 166%.   

Fonte: Ministério da Economia/Caged 

Os desligamentos por morte nos quatro primeiros meses de 2021 atingiram a marca de 35.125 registros, que corresponde 55,16% de todo período de 2020 e 66,56% de 2019.  O excesso de desligamentos por morte durante o período da pandemia, de março de 2020 até abril de 2021, que considera a média de desligamento dos anos anteriores, totaliza quase 14 mil trabalhadores.   

É importante destacar que os desligamentos por mortes registrados no Caged consideram apenas os trabalhadores com vínculos formais com empregadores sob regime da CLT, ou sejam, trabalhadores com carteira assinada. De acordo com a pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de pessoas ocupadas no Brasil é de 86,1 milhões de brasileiros dos quais apenas 29,8 milhões possuem carteira assinada, isto é 34,6%. A população subutilizada, trabalhos precarizados, sem jornada definida e com rendimentos abaixo do ideal para viver, é 32,4 milhões de pessoas. Assim pode-se estimar que 85 mil trabalhadores foram mortos em decorrência pandemia da Covid-19. 

Sobre os dados que foram utilizados na análise, cabe destacar ainda que foram obtidos do Novo Caged, disponível na página do Ministério da Economia. As informações públicas são de difícil acesso e provavelmente não representam a realidade dos trabalhadores, uma vez que, o Ministério do Trabalho foi extinto e foram transferidas da antiga base do Caged com alterações. 

A política do “fique em casa” 

Diante de quase uma centena de trabalhadores mortos na pandemia com projeção de aumentar ainda mais esses números, os dirigentes do movimento operário entraram na histeria dos setores de classe média e fecharam as portas dos sindicados. Enquanto os trabalhadores ficaram expostos ao contágio do coronavírus nos ambientes de trabalho, nas fábricas e no transporte público, a burocracia ficou escondida debaixo da cama. É um crime adotar essa política no momento que os trabalhadores são atacados em seus direitos, salários e condições de vida. Os dirigentes sindicais deveriam estar nas ruas lutando para garantir os direitos e as condições de vida dos trabalhadores. 

De maneira geral, os partidos da esquerda também se debruçaram na política reacionária da direita de ficar em casa, sem campanha sobre os cuidados sanitários, sem distribuição de máscaras para população e sem testes massivos, o resultado foi meio milhão. O isolamento social como única providência de combate ao coronavírus, defendido como medida científica, mas apontado pela própria OMS como ineficaz, foi um verdadeiro fracasso. Os atos virtuais e tuitaços na internet não resolveram a questão das mortes e tampouco das condições de vida que seguem sendo destruídas. 

Evidentemente a política adotada pelas organizações de esquerda de conjunto não encontravam respaldo na realidade, bastava olhar para as estações e transportes abarrotados de gente nas capitais de todo país, bastava verificar que as fábricas permaneceram abertas desde o início da pandemia, bastava acompanhar o crescimento das mortes da população. Diante da cegueira generalizada da esquerda, um estudo do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) revelou o óbvio, os trabalhadores nunca estiveram em casa, em nenhum momento puderam realizar o isolamento social, até porque não poderiam se sustentar sem trabalhar. 

Uma minoria de trabalhadores, em torno de 7 milhões de pessoas, puderam trabalhar em home office, menos de 10% de toda massa proletária do país, um grupo seleto de pessoas majoritariamente branca e com curso superior. A política dos dirigentes sindicais e dos partidos da esquerda contemplaram apenas esse setor ao qual se somaram durante a pandemia.  

Pelo fim do genocídio, ocupar as ruas! 

A insistência dos setores mais combativos do campo político da esquerda, que detinham uma análise baseada na situação real do país e que foram para a rua no dia 1° de maio pra lutar por vacina e auxílio emergencial digno, mostraram que era possível mobilizar os trabalhadores por seus interesses mesmo na pandemia. A mobilização de centenas de pessoas de todos os lugares do país no dia 29 de maio, confirmou o acerto da política de ocupar as ruas pelo Fora Bolsonaro para garantir as condições de vida da população. 

Não há outro caminho para evitar um genocídio ainda maior e para evitar que a população seja arrastada para miséria.  Não basta derrubar Bolsonaro, é preciso um governo dos trabalhadores independente da burguesia e somente Lula, a maior liderança popular do país, tem capital político para unificar toda esquerda. É preciso ir pra ruas para exigir vacina para toda população e o fim do golpe de estado no Brasil.       

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