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Minas Gerais

Em ação criminosa, PM assassina dois homens em Ribeirão das Neves

Um deles foi morto pelo simples fato de ter presenciado a ação criminosa da polícia

 Jefferson, de 20 anos, foi executado em uma queima de arquivo, por ter presenciado o assassinato de outro jovem.

Na tarde de quarta-feira, 28 de julho, Jefferson Guilherme da Costa Santos de 20 anos foi executado pela polícia no bairro Veneza, em Ribeirão das Neves. Outro homem, chamado Bruno, que havia se mudado recentemente para o local, estava sendo procurado pela polícia, no entanto teve sua casa invadida e foi morto pela polícia sem direito de defesa. Jefferson, que ainda não conhecia seu novo vizinho, trabalhava em uma empresa farmacêutica e no momento da abordagem estava no portão ajudando a filha de uma moradora do local, e mesmo não tendo nenhuma relação com a investigação, foi pego à força pela polícia, espancado e executado.

De acordo com a versão da polícia, os militares teriam entrado na casa por uma porta aberta e, tendo a casa invadida, os garotos teriam atirado contra os policiais, só então os supostos agentes da lei os executaram. Os jovens estavam sendo procurados supostamente por trocarem tiros com a polícia no dia 25 de junho no Estado do Espírito Santo. Entretanto, a versão da família e dos vizinhos é deveras diferente, além de que o sangue do garoto se encontrava no lado de fora da casa e ele foi atingido pelas costas, o que prova a farsa desta versão. 

Segundo a família, Jefferson era um garoto trabalhador e participava de um grupo de oração na igreja perto de sua casa, não era envolvido com o tráfico e muito menos possuía passagem por qualquer crime. Ele trabalhava a noite, com carteira assinada, em uma empresa do ramo farmacêutico e cosmético na marginal da rodovia 040. Os vizinhos relataram, que no dia do crime o garoto acordou no final da manhã fez um café e como de rotina foi para o outro lado da rua tomar sol. Quando a polícia chegou seu novo vizinho estava na porta de casa e ali mesmo foi atingido, onde a poça de sangue permaneceu, como uma pena de morte, que nem mesmo existe no Brasil, uma execução fria.

Ao perceberem que Jefferson estava ali perto na calçada, os policiais, sabendo que estavam cometendo um crime, mas com a soberba de quem está acima da lei, o pegaram a força e colocaram na casa de seu vizinho, caído na porta, e ali mesmo, mais uma vez sem qualquer julgamento, o espancaram e o executaram. 

Dois de seus irmãos e sua cunhada estavam em casa na hora, segundo eles ao ouvirem disparos e gritos, que pareciam ser de Jefferson, tentaram sair para ver o que estava acontecendo, entretanto foram impedidos de uma forma agressiva por outros policiais que estavam na escolta. Ao ver que não iriam conseguir chegar ao local, tentaram gravar ou fotografar, mas os policiais continuaram os impedindo de exercerem o seu direito de se manifestar e confiscaram os celulares dos familiares. Os documentos do rapaz também foram recolhidos, mas sua existência não consta no laudo e eles não foram devolvidos. Além disso, a família afirma que depois do crime a polícia tem passado todas as noite em frente à casa da vítima, aparentemente com o intuito de intimidar as pessoas que presenciaram os assassinatos. 

Mesmo que Jefferson fosse realmente procurado pelos militares, como o outro jovem, nada justificaria a ação criminosa e desumana da polícia, todos temos direito, como previsto na constituição, a um julgamento e a defesa judicial. No entanto, ele era acusado de estar em um confronto com a polícia no dia 25 de junho, evento esse, que seria impossível sua participação, pois no mesmo dia aconteceu a missa de sétimo dia de seu pai, Fábio Guilherme dos Santos, falecido por parada cardiorrespiratória, e todos os familiares que foram confirmam que Jefferson se fazia presente na igreja. Como o garoto poderia estar em dois lugares, a mais de 300 quilômetros de distância, no mesmo dia?

Sendo assim, fica claro que a versão da polícia é mais uma história criada para encobrir seu crime, não aconteceu nenhuma troca de tiros, além de que Jefferson era inocente da acusação. Sua morte teve apenas uma motivação, esconder um outro crime que acabara de presenciar. No português claro, o que ocorreu foi uma queima de arquivo cometida pela polícia a luz do sol, a presenciada por quem pudesse ver.

Este é mais um caso de assassinato da Polícia Militar, que mostra o tamanho da opressão e da violência usada por eles contra a população. Não importa qual a acusação, se é contra a classe operária o julgamento acontece ali mesmo e o veredicto é dado por quem segura a arma.

No dia 3 de agosto, terça-feira, foi realizada uma manifestação pacífica, organizada pela família, na BR 040, altura do bairro Veneza, com o objetivo de trazer justiça por Jefferson Guilherme. Segundo a mãe adotiva do rapaz, quem cuidou dele desde os dois anos de idade, todo mundo conhecia ele no bairro, era  trabalhador e não tinha envolvimento com o crime, ele foi executado pela polícia. O objetivo da família é limpar seu nome e provar que toda esta história da polícia não passa de uma mentira para proteger os reais criminosos. 

Da mesma forma que Jefferson, vários jovens morrem nas mãos da polícia todos os dias no Brasil. Os militares só protegem a população nos bairros nobres da cidade, no resto, entretanto, eles passam exalando poder e soberba, invadindo casas, revistando quem eles acharem devido, tratando qualquer um de forma desmedidamente agressiva além de possuírem um direito exclusivo de matar sem ser julgado. Casos como esse são frequentes no noticiário burguês, mas sempre com a versão da polícia, e quem assiste prefere por se enganar com uma história sem qualquer precedente e fechar o olho para o extermínio que acontece ao lado. 

Neste caso, a princípio a imprensa burguesa nem abriu espaço para a família se expressar. As primeiras matérias sobre o caso contavam com certeza a história fornecida pela polícia, acusando mais uma vez sem qualquer julgamento. Foi só com a manifestação de rua em defesa do jovem, que a família foi ouvida e mesmo assim o discurso continua como se fosse apenas uma família revoltada e não uma organização corrupta, treinada para matar sua própria população. 

Este problema, portanto, não pode ser tratado como eventos separados ou um simples despreparo de um soldado. Esse comportamento é estimulado na própria academia policial, onde os futuros policiais são ensinados a se reconhecerem como militares, tendo sua identidade como civil apagada. Dessa forma o policial não se identifica como parte população, mas sim como moderador dela, e, desta forma, alguém superior aos demais, os distanciando cada vez mais da sociedade civil. 

A grande hierarquização das corporações e a limitação do pensamento crítico dos soldados é o maior dos causadores deste distanciamento. Ao entrar para a polícia, estes militares não têm o mínimo direito à opinião e são obrigados a responder às ordens sem questionar, isso faz com que ao se depararem com uma sociedade com tamanha diversidade de opiniões e ideologias estejam acostumados a reprimir estas diferenças da mesma forma como foram reprimidos.

Segundo Adilson Paes de Souza, coronel da reserva, ao condicionar os soldados a uma obediência cega e a um comando de grande repressão, eles se tornam cada vez mais inseguros e por causa disso tentam sempre afirmar uma identidade de herói, muitas vezes utilizando de preconceitos estruturais da própria corporação. 

É a partir daí que podemos entender a diferença de tratamento dado por eles em bairros nobres e no resto da cidade. A PM sempre foi uma uma organização classista, e diferente da teoria, nunca foram os defensores de toda a população, mas sim de uma parte ínfima dela: A burguesia. Por isso, eles são ensinados a respeitar os mais ricos e a aterrorizar os mais pobres, sendo eles os responsáveis pelo controle da população que os ricos tanto querem.

Em um estudo de Adriano Dias de Andrade feito com 20 policiais, publicado na revista Linguagem em Foco em 2018, conclui- se que parte considerável dos estudantes se consideram como um herói, ou seja, alguém sobre-humano superior aos demais. Desta forma, fica claro o quão difundido é este sentimento de superioridade dentro da corporação.

O caso de Jefferson é apenas mais um exemplo de como a polícia vê com desprezo sua própria população, e como a violência é um fator naturalizado em sua rotina, a ponto de executar, sem ressentimentos, um jovem trabalhador. Isso mostra o quão problemática é a Polícia Militar, e desbanca a teoria de que estão na rua para proteger o povo. Eles estão na rua para proteger o bem-estar da burguesia, mesmo que para isso eles tenham que ir contra seus compatriotas. 

Para resolver esse problema não basta uma reforma na instituição, já que seu interesse nunca foi proteger o povo. Precisamos do fim desta política genocida e principalmente da criação de uma força popular que defenda seus próprios direitos, tirando da mão dos ricos o poder de reprimir a população.

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