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Produto da crise

A miséria da população que vive nas ruas

Crise econômica, pandemia e política golpista levam as cidades brasileiras a uma situação cada vez mais desesperadora

Miséria, drogas, fome, no último dia 18/08/2021, registramos uma situação de vulnerabilidade sem igual na praça da Sé, região central da cidade de São Paulo.

Segundo o extinto Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, por meio da Secretaria Nacional de Assistência Social, a população em situação de rua é caracterizada como: “grupo populacional heterogêneo, composto por pessoas com diferentes realidades, mas que têm em comum a condição de pobreza absoluta, vínculos interrompidos ou fragilizados e falta de habitação convencional regular, sendo compelido a utilizar a rua como espaço de moradia e sustento, por contingência temporária ou de forma permanente.”

A prefeitura divulgou, em 31/01/2020, que 24.344 pessoas estavam em situação de rua. O último censo, realizado em 2015, identificou 15.905 pessoas, crescimento de 34,67%. Porém, o Sr. Robson César, fundador e presidente do Movimento Estadual das Pessoas em Situação de Rua, contabilizou 32.500 pessoas, crescimento de 51%.

Lançaram nesse mesmo dia um pacote de ações para população em situação de rua que previa acolhimento baseado em um plano de abordagens comissionadas por técnicos do CREAS e CRAS, segundo afirmou o secretário de Governo, Mauro Ricardo Costa.

“Hoje se paga por uma abordagem algo em torno de R$ 356 independente do resultado, se levou para o acolhimento ou não. Vamos propôr pagamentos diferenciados. Serão R$ 200 pela abordagem e R$ 500 para abordagens com sucesso. Queremos estimular o abordador para que ele leve essa pessoa em situação de rua para os nossos Centros de Acolhida”.

Como bem sabemos, o PSDB é o partido que desestatiza e terceiriza o máximo de serviços possível, inclusive assim desmonta todo um sistema estatal, que deveria estar sendo construído em conjunto com políticas públicas do SUS por exemplo.

Há todo um cuidado por trás de uma abordagem, onde não deve haver coação, chantagem e maus tratos, difícil imaginar um cenário diferente desses quando é sabido que se ganha mais “carregando” mais um morador para um centro de acolhida lotado, sem privacidade e autonomia.

O Plano previa:

– Geração de emprego e renda;

– Ampliação do Programa Operação Trabalho;

– Aplicação de R$ 60 milhões em Programa de Locação Social;

– Implantação e manutenção de bebedouros públicos, em áreas públicas externas, para acesso a água potável pela população;

– Instalação e reforma dos banheiros públicos, bem como a contratação de empresa para realizar a gestão, manutenção e oferta de materiais de limpeza;

– Reforma e requalificação das instalações dos serviços de acolhimento;

– Oferta de locais para guarda de pertences pessoais e bagageiros;

– Oferta de espaço próprio para carroças e que garantam o ingresso e a permanência de animais de estimação da população em situação de rua;

– Ações de respeito a particularidades e diferentes graus de autonomia da população em situação de rua, em especial para idosos, mulheres, travestis e transexuais, famílias e imigrantes;

– Alocação pela Secretaria Municipal de Saúde de enfermeiro e técnico de enfermagem para atendimento nos Centros de Acolhida. Especial (CAE) para Idosos e Instituição de Longa Permanência para Pessoa Idosa (ILPI);

– Promover a inclusão digital e o acesso a programações culturais, de esporte e de lazer diversificadas e inclusivas para a população em situação de rua.

Segundo o morador de rua da praça da Sé, Sr. João e sua esposa Gabriela, eles nunca tiveram acesso às tais iniciativas, mesmo com o agravamento e impacto da pandemia de COVID-19 na cidade. No momento, os dois e seu filho de 1 ano e 7 meses vivem embaixo de um viaduto na Radial Leste, não recebem os benefícios do governo por não terem documentos e desconhecem como reavê-los e os tais benefícios que podem buscar no CRAS ou CREAS.

Ao contrário do pacote, o Governo João Doria pretende fechar durante os finais de semana, 30 unidades do Bom Prato, que servem como importante alternativa para essa população. 

Nossa reportagem entrevistou João, conhecido como “Vô”, na praça da Sé.

DCO: João, há quanto tempo você é morador de rua?

João: A vida inteira, cheguei na praça da Sé com 5 anos, sempre vivi alí naquele poste, nas barracas de lona preta, tenho 40 anos.

Hoje eu e minha mulher vivemos embaixo do viaduto por causa do frio que tá fazendo, temos um filho pequeno e ele não ia aguentar o frio da barraca.

DCO: Onde você vive, você tem uma estrutura mínima? banheiro, fogão, geladeira e cama?

João: Tenho um colchão de casal que dorme nós 3, tem 1 banheiro pra 12 famílias e tenho fogão e geladeira no meu barraco, que consegui montar porque o padre Júlio me deu as madeiras.

DCO: Depois da pandemia você se sentiu mais vulnerável morando na rua? ficou com medo de morrer?

João: Não dona, nóis da rua nem pega isso, se pega nem sente, é tanto bicho no nosso corpo que esse aí não faz efeito. Depois da pandemia melhorou pra nós, as pessoas ajudam mais, o padre Júlio passa todo dia pra ver se nós “tá bem”.

DCO: Melhorou porque o governo deu mais estrutura e renda da prefeitura e auxílio emergencial?

João: Não, eu e minha mulher não tem documento e por causa da pandemia não consegue tirar e não consegui receber nada. As pessoas ou o padre que ajuda nós.

DCO: Você que sempre esteve na rua, acha que aumentou o número de moradores de rua depois da pandemia?

João: Vixi, um monte de gente perdeu o emprego, o bico que pagava seus barracos de invasão e caíram pras rua e viaduto. Antes era 5 família lá onde eu tô, hoje é 12.

DCO: Hoje você tem 40 anos, e pras ruas é um “vô”, tem alguma coisa de “jovem” que você ainda pensa em realizar?

João: Quero dar um teto “direito” pra minha mulher e pro meu filho e casar no papel com ela, mas eu fui atropelado e tenho sequelas que não me deixam trabalhar porque tenho ataques e os médicos do INSS diz que é mentira, mas não fazem exame pra ver como a minha cabeça é torta porque quebrou no acidente.

Depois de a reportagem ler o pacote de ações da prefeitura para o João, ele riu muito e disse que dali ele só viu “cobertor de pelo de rato”.

Foi questionado sobre os centros de acolhidas, projetos de aluguel social e moradias sociais autônomas e ele riu novamente e disse que sente mais segurança em dormir no poste do que no albergue, que são maltratados e humilhados no acolhimento, por isso ninguém quer ir e ainda tem o problema que os cachorros não podem entrar.

-“Se fosse bom, nem precisava vir aqui convencer a gente, a gente mesmo ia né?”

A cidade de São Paulo registrou 16 mortes de moradores de rua neste último inverno, apesar de milhares de civis fazerem o trabalho do Estado e promoverem ações para aplacar o sofrimento dessa gente.

A situação de miséria da população aumentou muito com a pandemia, mas é produto em primeiro lugar da crise econômica que se agrava, produto em primeiro lugar da política de fome dos golpistas.

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