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Retrospetiva de 2018: Rui Costa Pimenta analisa “os limites do nacionalismo e o Golpe de Estado”

Em um dos momentos da “Análise Política da Semana” do dia 29 de dezembro de 2018, Rui Costa Pimenta, presidente do PCO, reflete a respeito dos limites do nacionalismo e o Golpe de Estado. Ouça neste link, ou se preferir, acompanhe, abaixo, a transcrição deste trecho.

“Para que a gente entenda o que está acontecendo e para que a gente entenda o problema que a esquerda teve em lidar com a questão do Golpe. Os governos que entraram aí foram governos nacionalistas de tipo moderado. Vocês já devem ter percebido, as pessoas que acompanham as nossas análises, que todo mundo trabalha com uma listinha. Então, você fala assim: ‘governo nacionalista’, então, a pessoa chega e fala assim: ‘o que é um governo nacionalista? Ah, um governo nacionalista é o Perón, é o Getúlio Vargas. Então, o Getúlio Vargas criou a Petrobras, fez a legislação do trabalho, etc. e tal. Aí você pega o governo nacionalista de plantão, o que que o governo fez? O Bolsa Família. Bom, mas o Bolsa Família é uma realização muito inferior à do Getúlio Vargas, então, se não se encaixa na minha lista de características de governo nacionalista, não é um governo nacionalista’.

A esquerda caiu nesse erro brutal e muitos chegaram a falar que o governo Lula no Brasil, por exemplo, era o governo mais pró-imperialista que existia no mundo porque, logicamente, o governo Lula foi um governo nacionalista muito moderado. E por que ele foi um governo muito moderado? Não por nenhum problema moral. Ele foi um governo muito moderado pelas características do desenvolvimento político brasileiro – o nível de pressão da classe operária, as possibilidades econômicas. Uma coisa que muita gente não leva em consideração, não vamos fazer aqui um tratado sobre o nacionalismo, é que esse nacionalismo ao qual as pessoas estão se referindo, veio num momento de ascenso econômico mundial. Então, combinaram-se dois fatores: a fraqueza do imperialismo e o ascenso econômico mundial.

Daí que o nacionalismo latino-americano daquela época tivesse grandes planos de desenvolvimento. Estes planos de desenvolvimento eram todos, numa grande medida, um beco sem saída porque, como a gente pode ver aqui, não houve desenvolvimento nenhum ou muito pouco e tudo isso daí fracassou. Mas, as possibilidades existiam. Em 1954, por exemplo, nós estamos em pleno desenvolvimentos dos chamados anos dourados da economia. A economia mundial crescia, o que não vai acontecer mais depois de 1974. Os governos nacionalistas de agora estão vindo numa situação de terra arrasada e, portanto, as ambições e os planos da burguesia nacional tendem a ser muito mais moderados diante da situação que nós estamos vivendo. A pessoa olha e diz assim: ‘vamos fazer isso, vamos fazer aquilo outro’. Por exemplo, como escapar da rede formada pelos bancos para aprisionar todos esses países atrasados? A pessoa não têm a fórmula para isso. Para fazer isso, você precisaria ter um governo revolucionário, você precisaria ter um governo socialista, um governo da classe trabalhadora, que não foi o caso do governo do PT: As pessoas se enganaram e acharam, que é uma confusão comum no interior da pequena burguesia, da esquerda pequeno-burguesa,  que os governos que aí estavam Kirchner, Lula, Rafael Correa e tudo mais eram, na verdade, a representação do imperialismo no governo. Quando o imperialismo, que não pensava absolutamente nada disso, nem nada parecido com isso, começa a derrubar esses governos, ele pega de surpresa as pessoas que tinham uma avaliação completamente equivocada. Eu não sei se todo mundo tem noção disso daí, mas, no momento em que começa o Golpe de Estado do Brasil, havia uma discussão bizantina, em geral a discussão da esquerda, em que o pessoal ficava discutindo se o PT era ou não era um partido de esquerda. Se ele seria um partido, na verdade, de direita. Agora esta discussão, como toda a discussão besta, desapareceu do mapa.

Então, as coisas se modificam e essa percepção completamente equivocada da realidade foi por água abaixo, mas a coisa estava nesse pé. O imperialismo, logicamente, organiza todo um plano. Enquanto a esquerda está nas nuvens da política, pensando em eleger deputados, em conquistar o mundo através das eleições e da democracia, enquanto que a esquerda achava que eles tinham chegado ao poder para ficar para sempre, eles eram uma nova forma de existência da sociedade, quer dizer, a burguesia teria abandonado o poder à organizações de esquerda mesmo que moderadas. Essa seria a teoria. Uma vez que você está no governo, você é o dono da situação, o proprietário da situação e você vai se manter lá para sempre. De repente, aconteceu como em determinados filmes de terror: a música bonitinha e delicada desapareceu, o cenário maravilhoso desapareceu, veio um som estridente, o negócio ficou todo escuro e aí a burguesia mostra que não quer saber de governo de esquerda, não adianta ser tão moderado assim. Você pode ser o mais moderado que você quiser, você pode chamar o economista do Itaú para fazer parte do seu governo que ninguém liga a mínima. Eliminando mais uma confusão da esquerda: não é porque você tem capacidade de servir a burguesia , que a burguesia vai se servir de você e de todas as oportunidades.

Nós temos que entender o seguinte, isso é uma coisa que a esquerda não entende: o governo burguês é como a empresa ou a própria casa da burguesia. Tudo é administrado mais ou menos no mesmo sentido. Então, vamos supor que a burguesia contrata lá uma espécie de mordomo para administrar a sua residência. O mordomo todo dia faz salamaleque para os patrões, se esforça para fazer tudo direitinho, não briga, não arruma encrenca nem nada. Ele está garantido como mordomo? Não. No primeiro problema que os patrões encontrarem, e que pode até ser um problema totalmente falso, alguém cismou que o mordomo está ficando arrogante, os patrões vão lá e dão um jeito de colocá-lo na rua. Por que? Porque ele é um empregado. Mesmo que um empregado tenha um grande poder na empresa, se ele não é dono da empresa, ele é uma pessoa dispensável. A hora que os patrões precisarem de um outro tipo de empregado, eles põem os empregados para fora e contratam outros empregados. Às vezes, eles têm dificuldade de fazer, principalmente no regime político em que têm eleições etc. e tal, mas eles acabam fazendo. O governante no estado capitalista, por mais esquerdista que ele seja, é sempre um funcionário do estado capitalista, ou seja, da burguesia. É assim que a burguesia vê. Bom, primeiro a gente vê que a maioria desses governos aí teve que governar com várias imposições de ministérios e tudo mais. Lula teve que governar com Meirelles e com um monte de gente da burguesia. Tudo imposição para que eles aceitassem o governo dele.

Num certo sentido, isso está acontecendo também com o Bolsonaro agora. O Bolsonaro vai matar, torturar, arrancar cabeça, arrancar perna e tal, ele é um grande esquartejador e tudo mais, mas, na hora que o pessoal chegar e falar pra ele, como já aconteceu, ‘tem que botar esse cidadão aqui na Economia’, é isso aí. Ele é um funcionário também. O Estado pertence à classe capitalista. Não pertence ao Bolsonaro, ao Lula ou ao Cunha. Os políticos todos, num certo sentido, são vistos aí como funcionários da burguesia. Bom, chegou o momento que o imperialismo decidiu que era necessária uma mudança de política e decidiu acabar com a esquerda no governo e lançar uma ofensiva. A maior parte da esquerda nacional nem viu isso daí. Eles estavam tão aprisionados dentro de um esquema mental que dizia que a esquerda não era esquerda, que o governo mais satisfatório para o imperialismo era justamente o governo daquela esquerda e tal, tudo que é uma simplificação política extraordinária, e a burguesia começou a desmantelar estes governos.

O primeiro foi o de Honduras que caiu através de um golpe, natural que fosse em Honduras, porque a América Central e o Caribe são considerados para os norte-americanos com o status profundamente colonial. Eles não querem, naquela região governos que não sejam absolutamente submissos. Daí o enorme enfrentamento que eles têm com os cubanos, não apenas por motivos ideológicos, mas pelo fato de que há um país fora de controle ali na porta dos Estados Unidos. Isso é muito grave. No entanto, o caso de Honduras não foi um caso isolado. Nós assinalamos na época que, com o golpe de Honduras, a burguesia imperialista havia tomado a decisão de primeiro botar um limite à expansão dos ditos governos nacionalistas. Na América Latina, com exceção da Colômbia, todos os países já tinham governos de esquerda. Esses governos de esquerda se espalharam para El Salvador. Na Nicarágua, o governo sandinista começou a dar uma guinada para a esquerda também, governo que estava numa posição muito direitista, e aí Honduras. Então, os norte-americanos observaram bem a situação e falaram “isso aqui tem que parar”. Não dá pra continuar porque, se continuar, nós vamos acabar perdendo totalmente o controle da situação”. E montou-se o plano de um Golpe de Estado continental.

Isso é uma coisa que é importante a gente frisar. Nós falamos isso aí várias vezes, mas é importante frisar. Por que? Porque a esquerda brasileira teima em ver o problema brasileiro de um ponto de vista exclusivamente nacional quando não se trata de um problema nacional. Se trata de um problema internacional. E, no caso do Brasil, inclusive, nós temos que levar em consideração, o caso do Brasil é, justamente, o caso mais internacionalizado de todos. Porque Honduras é um país secundário no funcionamento do conjunto da América Latina, mas o Brasil não. O Brasil é o país central no funcionamento do continente. Se você quer dar um golpe continental, o miolo, o centro, o vórtice do Golpe é o Brasil. É o país que mais importância internacional tem. Quando você, por exemplo, faz com que alguma coisa aconteça no Brasil, a repercussão, a influência sobre os demais países do continente, tende a ser gigantesca. Por exemplo, o Lula chegou ao poder com base no susto que a burguesia levou com acontecimentos como a derrota do golpe na Venezuela, o argentinazo, as mobilizações no Equador e, principalmente, a insurreição proletária que derrubou os governos bolivianos. Por que eles não esperaram no Brasil que a coisa desandasse? Porque, se no Brasil, acontecesse alguma coisa desse nível, isso daí aprofundaria muito a crise nos demais países.

Assim, também, como o golpe continental foi organizado tendo em vista realizar uma operação no centro dos acontecimentos que era o Brasil. O grande problema era, justamente, o Brasil. Isso daí não foi entendido e, portanto, a esquerda perdeu pé, ficou numa discussão muito estranha sobre se poderia ou não haver golpe no Brasil, qual era o caráter original do nosso País. Finalmente, nós temos aqui frutas tropicais que só nós temos e tudo mais, porque a gente não pode ter um regime político também que seja absolutamente original e etc. Ficaram nessa discussão se vai acontecer, se a democracia brasileira, que é uma ficção, sempre foi uma ficção, era sólida, sem levar em consideração que, sendo uma ficção, ela jamais poderia ser sólida. E, com toda essa discussão, veio a operação golpista. Ela foi sendo montada aos poucos. Toda essa operação golpista foi interpretada como sendo mais uma operação parlamentar , porque a esquerda, quando ingressa no Parlamento, às vezes até quando ela não consegue ingressar no Parlamento, vê tudo de um ponto de vista de manobras parlamentares. Então, por exemplo, a eleição de 2014 já era uma declaração de guerra ao governo. Foram feitas declarações no sentido de que se o governo fosse eleito, ganhasse as eleições, apesar de todo o jogo sujo, ele ia cair em seguida porque já tinham criado uma série de escândalos políticos para derrubar o governo. Quando o Cunha apareceu com uma bancada enorme  dominada por ele e começou uma oposição declarada ao governo do PT, tudo isso também foi interpretado como vontade de negociação de cargos etc. e tal até a hora em que foi apresentado o problema do impeachment, que também foi interpretado como sendo mais uma manobra para barganhar mas, no final das contas, tudo isso era uma grande miragem e o que estava em marcha mesmo era um Golpe de Estado, que acaba por derrubar a presidenta da República, em 2016”.

Estes e outros momentos da “Análise Política da Semana” podem ser acessados pelo canal da Causa Operária TV e Rádio da Causa Operária no YouTube, pela página do PCO – Partido da Causa Operária, no Facebook e pela rede social russa VK. A “Análise Política da Semana”, realizada pelo presidente do PCO Rui Costa Pimenta, é transmitida todos os sábados às 11h30. Quem estiver em São Paulo, pode assistir presencialmente no Centro Cultural Benjamin Péret (CCBP), na rua Serranos nº 90, próximo ao metrô Saúde.

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