Os dois maiores clubes de futebol da região norte do país quase conquistaram juntos o acesso à Série B do Campeonato Brasileiro. O Remo conquistou o acesso justamente após vencer o rival no último dia 10, o Paysandu chegou muito perto mas perdeu a vaga na reta final da competição.
Sediados na capital paraense, Bélem, os clubes contaram com o apoio decisivo das suas torcidas. Mesmo afastados das arquibancadas devido à pandemia de Covid-19, torcedores de ambos os clubes seguiram comprando ingressos, virtuais e simbólicos, pois não detêm nem ao menos os direitos de transmissão dos jogos. A diretoria do Paysandu afirma ter vendido mais de 27 mil ingressos, enquanto o Remo superou os 17 mil.
Torcedores do Remo realizaram uma arrecadação virtual, uma “vaquinha”, para pagar a premiação aos jogadores e funcionários no caso da conquista do acesso à Série B, o famoso “bicho”. A arrecadação superou os 90 mil reais.
Em um dos estados brasileiros que mais dependeram do minguado auxílio emergencial durante a pandemia, segundo o IBGE 61% das famílias paraenses recebeu o benefício em novembro, teve torcedor que chegou a repassar parte do valor ao time do coração.
Esses exemplos deixam explícitas duas situações: a destruição do futebol operada pelos capitalistas e o engajamento dos torcedores para salvar seus clubes. O fato de times centenários, que mobilizam massas populares, estarem dependendo de doações dos seus torcedores escancara o descaso daqueles que lucram com sua atividade.
Para se ter uma ideia, os direitos de transmissão da Série C pertencem à empresa inglesa de streaming DAZN. Os clubes precisam tirar leite de pedra com as verbas das bilheterias e essa fonte de recursos simplesmente estancou em 2020.
No outro lado da moeda, essa quase inexplicável dedicação das torcidas. Num contexto de intensa crise econômica e sanitária, apoiar o time do coração entrou na lista de prioridades de muitos torcedores. Segundo o site “Organizadas BR”, nada menos do que 16 torcidas organizadas foram criadas para apoiar Remo ou Paysandu.
Justamente por isso são os próprios torcedores aqueles que deveriam controlar os times, participando diretamente da sua administração. Eles são os maiores interessados no sucesso e no desenvolvimento do futebol brasileiros e quem mantém os clubes em sintonia com o povo.