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27 anos depois

Relatório oficial: França “se absteve” em genocídio de Ruanda

Estudo encomendado em 2019 pelo governo francês tenta eximir imperialismo de culpa pelo genocídio de Ruanda apontando simplesmente "abstenção" da França no caso

Um estudo solicitado em 2019 pelo governo francês sobre a ligação do país com o genocídio ocorrido em Ruanda em 1994 confirmou que o governo de François Mitterrand, presidente da França na época, teve participação no massacre da população tutsi.

Na época, o governo ruandês de Juvenal Habyarimana, assassinado com a derrubada de seu avião, era aliado da França. O estudo confirma que várias organizações, instituições e até mesmo o serviço secreto francês avisaram o presidente Mitterrand de que havia a possibilidade de um genocídio através do estado de Ruanda, que utilizava grupos paramilitares para a perseguição da minoria étnica tutsi. O presidente da França, no entanto, não deu ouvidos aos avisos, segundo o documento.

O estudo liderado por Vicent Duclert confirma, no entanto, somente que a França fez vista grossa para o que acontecia no país africano, sem confirmar a participação ativa do país no genocídio.

Porém, não há como negar que o presidente francês sabia do que ocorria em Ruanda, já que o assunto foi amplamente divulgado em todo o planeta. Para além disso, o governo de Ruanda não só tinha o suporte da França, como também era praticamente um vassalo dos países imperialistas.

A Ruanda vivia um período de intensa polarização política e a derrubada do governo fantoche do imperialismo era vista no horizonte pela população local. Sendo assim, o imperialismo, para manter o controle do regime político, incentivou o genocídio com métodos fascistas, como a formação de milícias paramilitares para a perseguição de dissidentes políticos e de minorias étnicas consideradas um problema para a estabilização do regime.

Com a derrubada do avião em que se encontrava Juvenal Habyarimana e o presidente do Burundi, Cyprien Ntaryamira, ambos hutus, o estado ruandês iniciou a propaganda pela dizimação dos tutsis, os culpando pela queda do avião. Foram utilizados grupos paramilitares na ocasião, armados com rifles e ferramentas agrárias, como foices, facões e outros, para matar os tutsis. 

As milícias agiam nas cidades e aldeias, entravam em igrejas, escolas e outros prédios à procura de tutsis, que estavam desarmados em sua maioria, e os matavam, torturavam, estupravam e cometiam outros crimes. Cerca de 70% da minoria étnica foi morta no período de 100 dias.

Há indícios, inclusive, de que o genocídio vinha sendo preparado há mais de um ano em conjunto pelos países imperialistas e o governo de Habyarimana. Com a derrubada de seu avião, o imperialismo encontrou o pretexto ideal para o início do massacre que matou cerca de 1 milhão de pessoas, além da realização de outros crimes, como uma onda de estupros que atingiu cerca de 500 mil mulheres.

É de conhecimento geral, inclusive, que as organizações imperialistas, incluindo a própria ONU, se negaram a ajudar a população tutsi, não só impedindo o genocídio através da força (a ONU pode intervir em conflitos quando julga que há um genocídio em curso), como impedindo o transporte de tutsis para locais seguros, como é mostrado no filme Shoting Dogs, ou Tiros em Ruanda, de Michael Caton-Jones.

O documento divulgado recentemente não só exime a França de uma participação ativa, tentando dizer que houve somente uma abstenção, como também exime todos os demais países imperialistas e a própria ONU no caso.

Nem mesmo a Bélgica (Ruanda era colônia da Bélgica até 1962) e os EUA, que tiveram participação mais ativa e negaram o genocídio na época, são acusados de terem participado da ação que levou ao massacre.

Sendo assim, o documento serve muito mais para tentar limpar a imagem do imperialismo, apontando “erros” pontuais da França e tentando dizer que agora, 27 anos depois, o país seria uma democracia comprometida com a paz mundial, que revira seus erros históricos para não os cometer mais (enquanto apoia o genocídio contra a Síria no mesmo exato momento) e outros argumentos supostamente humanitários.

O caso de Ruanda é uma pedra no sapato do imperialismo, que agora tenta se livrar do fardo de o ter cometido, pois ele prova que todas as instituições criadas pela burguesia internacional para supostamente fazer o mundo progredir e levar a paz a todos os cantos, age exatamente no sentido contrário, como podemos observar com a nulidade de ações da Organização Mundial da Saúde (OMS) diante da pandemia do coronavírus.

No entanto, a demagogia feita com o caso de Ruanda não é de agora. Logo após o fim do genocídio, o imperialismo criou o Tribunal Penal Internacional, também conhecido como Tribunal de Haia, para poder condenar internacionalmente inimigos do imperialismo e aliados que já não têm mais serventia e que, ao contrário, mostram a face horrorosa do regime de terror mundial imposto pela burguesia imperialista.

É assim que crimes de guerra, invasões, genocídios e outros promovidos pelo imperialismo não são julgados, como os que acontecem no Afeganistão, no Iraque, na Síria e o que ocorreu na Líbia. A França, a Bélgica, os EUA, os demais países imperialistas e a própria ONU não serão julgados por esse tribunal.

Ao contrário do que tenta fazer a França agora, com um pedido de desculpas pela metade, é necessário frisar que a única forma de realmente fazer justiça pelos crimes cometidos em Ruanda, assim como impedir que eles continuem acontecendo, é acabando com o imperialismo e seu regime de terror. Para isso, é necessário não alimentar ilusões em documentos promovidos pelos próprios assassinos, como é o caso dos divulgados no estudo em questão.

Se quiser entender melhor o que foi o genocídio em Ruanda, quais são suas causas e como o imperialismo agiu, leia o artigo do DCO publicado em 2019, na ocasião dos 25 anos do acontecimento.

https://www.causaoperaria.org.br/25-anos-do-massacre-em-ruanda-como-a-luta-entre-dois-paises-europeus-levou-a-morte-de-milhares-de-africanos/

https://www.causaoperaria.org.br/25-anos-do-massacre-em-ruanda-como-a-luta-entre-dois-paises-europeus-levou-a-morte-de-milhares-de-africanos/

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