A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) anunciou na última quarta-feira (24) a sueca, Pia Sunghage, como a nova treinadora da seleção feminina de futebol. Ela substitui o técnico Vadão, demitido após a participação da seleção na Copa do Mundo deste ano, realizada na França.
A contratação de treinadores estrangeiros para os clubes e seleções nacionais é uma tendência que vem se manifestando com mais força nos últimos anos no Brasil. Ela reflete a gigantesca campanha promovida sobretudo pela imprensa golpista pró-imperialista contra os jogadores brasileiros (Neymar, principalmente), contra o jogo praticado no Brasil, contra as torcidas organizadas do país, contra os treinadores brasileiros, em suma, contra o futebol brasileiro de modo geral.
Em se tratando dos técnicos brasileiros, o ataque adquiriu um caráter mais explícito e agressivo a partir de 2014, ano em que foi realizada, já com o Golpe de Estado em andamento, a Copa do Mundo no Brasil. O início da imperialista Operação Lava Jato, com o seu rastro de destruição da economia nacional e de perseguições arbitrárias e ilegais contra dirigentes políticos da esquerda, a campanha “Não Vai Ter Copa”, na qual grande parte da esquerda pequeno-burguesa (Boulos à frente) embarcou, e a ofensiva geral da direita contra o governo de Dilma Rousseff, com uma ampla campanha da mídia golpista e pressões de todo tipo, criaram o ambiente no qual se gestou a desastrosa derrota da seleção canarinho para os alemães.
A partir daí, o coro dos comentaristas da imprensa capitalista contra os treinadores brasileiros se amplificou e ganhou ares de verdade incontestável. Para eles, os treinadores brasileiros estariam “obsoletos”, “ultrapassados”, não teriam acompanhado a “evolução tática” do jogo, não dominariam as “metodologias modernas” de treinamento etc. Em compensação, para esses mesmos comentaristas venais, a “modernidade” e a “evolução” seriam hoje monopólio do futebol europeu e, em particular, de seus treinadores.
A pressão da direita e sua imprensa em favor da contratação de treinadores estrangeiros tem conseguido alguns efeitos práticos. Santos e Flamengo, hoje, são dirigidos por um argentino e um português, respectivamente. Para pegar outro exemplo, vale mencionar o caso do São Paulo, que, de 2015 a 2018, teve três técnicos estrangeiros: o colombiano J. Carlos Osorio, o argentino Edgardo Bauza e o uruguaio Diego Aguirre. Outros treinadores estrangeiros também apareceram num clube ou outro, quase sempre sem deixar saudade, durante esse período.
Agora, com a contratação de uma treinadora sueca para a seleção brasileira feminina, a política de ataque contra o elemento nacional, brasileiro, no futebol, ganha mais terreno. A entrada de um treinador estrangeiro na seleção feminina é uma espécie de porta de entrada ou antessala para o objetivo maior: a entrada de um treinador estrangeiro na seleção masculina. Que imagem seria melhor para representar a “incompetência”, a “obsolescência” e o “atraso” do treinador brasileiro do que o fato de a seleção masculina de futebol ser treinada por um europeu?
A política dos lambe-botas do imperialismo europeu constitui um ataque contra o futebol brasileiro e entra em contradição com as próprias tendências históricas de desenvolvimento desse esporte no país. Criado em solo estrangeiro, na Inglaterra, o futebol, uma vez introduzido no Brasil, enraizou-se na sociedade brasileira, tornou-se a prática esportiva cotidiana dos pobres, dos negros e dos operários brasileiros, adquiriu ao final características absolutamente originais e transformou-se numa “arte”, num elemento fundamental da cultura nacional. O “futebol-arte” brasileiro, além das centenas de jogadores extraordinários que deu ao mundo, também produziu treinadores condizentes com sua rica história. Quem dirigiu a seleção brasileira nas suas cinco conquistas de Copa de Mundo? Foram os técnicos europeus? O país que produziu Vicente Feola, Aymoré Moreira, Zagallo, João Saldanha, Telê Santana, Carlos Alberto Parreira, Vanderlei Luxemburgo, Luiz Felipe Scolari, Tite, entre outros, não precisa de treinadores produzidos pelo imperialismo europeu.