Manuel Bandeira

Manuel Bandeira dá lição a identitários

"Tísico profissional, sim. Identitário? Nunca!" Provavelmente, se fosse nos dias atuais, seria assim que Manuel Bandeira faria um autorretrato.

ManuelBandeira

Manuel Bandeira figura, sem sombra de dúvidas, entre os grandes poetas brasileiros. Sua maleabilidade, sua irreverência, coragem de experimentar e inventar, são marcantes. Esse pernambucano de Recife tem seu nome também ligado ao Modernismo, que neste ano completa seu centenário. Por essa razão, o PCO tem feito uma série de programas e textos dedicados a esse importante movimento, nos quais procura analisar suas repercussões, contradições e motivações políticas, bem como o que representam as conquistas artísticas que ajudam a conformar a cultura brasileira.

No poema Auto-retrato, Manuel Bandeira, que teve tuberculose, termina dizendo de si “Um tísico profissional”, prova de seu humor. No entanto, queremos destacar um poema dedicado àquele que deve ser considerado o maior poeta da Língua Portuguesa: Luís de Camões, autor de Os Lusíadas, que inicia assim:

As armas e os barões assinalados,
Que da ocidental praia Lusitana,
Por mares nunca de antes navegados,
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados,
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram
Novo Reino, que tanto sublimaram;”

A seguir, temos o poema A Camões, de Bandeira:

Quando n’alma pesar de tua raça
A névoa da apagada e vil tristeza,
Busque ela sempre a glória que não passa,
Em teu poema de heroismo e de beleza.

Gênio purificado na desgraça,
Tu resumiste em ti toda a grandeza:
Poeta e soldado… Em ti brilhou sem jaça
O amor da grande pátria portuguesa.

E enquanto o fero canto ecoar na mente
Da estirpe que em perigos sublimados
Plantou a cruz em cada continente,

Não morrerá sem poetas nem soldados
A língua em que cantaste rudemente
As armas e os barões assinalados.

(De A cinza das horas – 1917)

Como todo grande intelectual, Bandeira se percebe como herdeiro, como devedor de pessoas que, antes dele, se aventuraram pelo desconhecido e com as próprias mãos trataram de mudar o mundo. Por isso Manuel Bandeira reconhece os feitos dos portugueses, a “estirpe que em perigos sublimados plantou uma cruz em cada continente”. Essa visão contrasta com a mesquinharia identitária que tem se espalhado pela esquerda e pelas produções artísticas e acadêmicas brasileiras.

O identitarismo é uma ideologia importada das universidades americanas. Há muito incentivo para autores que se dedicam a apresentar a formação do Brasil como sendo uma mera sucessão de crueldades. Há um esforço enorme para pintar o bandeirantismo, por exemplo, como uma cruzada dedicada à escravização e ao estupro. A conclusão óbvia, para os identitários, é que o Brasil não passa de um erro.

A arrogância dos identitários, que não conseguem enxergar que a história humana está repleta de contradições, chega ao cúmulo de querer queimar, de fazer tábula rasa de mais de quinhentos anos de história. Por isso, é importante assistir ao curso que o PCO vem ministrando sobre a história do Brasil. O curso tem uma abordagem nova e que nos permite analisar a partir do materialismo histórico como o Brasil vem se formando desde antes do Período Colonial. Visite o sítio da Universidade Marxista e se inscreva.

Em breve haverá um programa Arte e Revolução que será dedicado a Manuel Bandeira. Um grande artista que, ao contrário dos limitados identitários, se propõe humildemente a continuar um legado, e promete a Camões que “Não morrerá sem poetas nem soldados / A língua em que cantaste rudemente / As armas e os barões assinalados”.
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obs.: “sem jaça” significa sem manchas/imperfeições.

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