No ano em que o mundo parou, uma pandemia mudou completamente nosso cotidiano porém algo não mudou em essência. O povo negro continua oprimido, violado e assassinado, pela violência (de origem estatal ou privada), por fome e doenças, e isso muito antes de qualquer pandemia ou crise econômica. O povo negro é atacado economicamente e impedido de obter sua subsistência dignamente.
A maior parte dos desempregados de nosso país (64%) também são negros. Com o aumento geral da pobreza, o fim do auxílio emergencial e a completa falta de política de enfrentamento aos efeitos econômicos da pandemia de Covid-19, 12 milhões de brasileiros serão empurrados para a extrema pobreza e a maioria desses cidadãos são negros.
A polícia, braço armado da ditadura burguesa, reforçou sua predileção pelos negros como alvo de sua brutalidade. Foram diversos casos emblemáticos de violência durante o ano.
Nos EUA, o caso George Floyd, assassinado por policiais em maio, publicamente e enquanto implorava por sua vida, suscitou a revolta da população negra por todo o mundo. O movimento Black Lives Matter promoveu protestos enormes em plena pandemia enquanto iniciativas como o Not Fucking Around Coalition (NFAC), organização dedicada a autodefesa da comunidade negra americana, anunciavam uma disposição da população negra em ser mais consequente na sua defesa e independente do Estado americano.
No Brasil, nem as crianças foram poupadas. Em maio o menino João Pedro foi assassinado durante operação policial em São Gonçalo/RJ, gerando revolta nacional, contudo nem este e outros casos diminuíram a brutalidade policial. Em dezembro, já totalizavam 12 assassinatos de crianças.
Além das crianças, muitos outros casos de barbaridade foram registrados à luz do dia e sem medo da punição. Um dos mais emblemáticos foi o assassinato torpe e sem motivos, por policiais cariocas, de dois jovens negros pelo crime de andar de moto no bairro em que moravam. O crime, ocorrido em 14/12 foi gravado por câmeras de segurança da localidade.
A Rede de Observatórios de Segurança, grupo que reúne estatísticas da violência em diversos estados da federação, relatou em julho de 2020 que 75% dos mortos pela polícia no Brasil são negros. E isso não se restringe aos Estados governados por simpatizantes de Jair Messias Bolsonaro. Na Bahia, berço da maior população negra fora da África e governada pelo petista Rui Costa, 96,9% das vítimas dos assassinatos cometidos pela polícia eram negros.
Enquanto tudo isso ocorreu, autoridades de todos os níveis deram declarações da inexistência de racismo no Brasil. O caso mais emblemático envolveu o vice-presidente Hamilton Mourão, que em novembro, mês da Consciência Negra, resolveu afirmar que não existe racismo no Brasil.
A declaração de Mourão, por sinal, se deu em meio a outro caso que levou a uma comoção popular. No dia 19 de novembro, véspera do dia da Consciência Negra, João Alberto Silveira Freitas, foi brutalmente espancado e asfixiado até a morte por seguranças de um supermercado da rede Carrefour, em Porto Alegre. E este não foi um caso isolado de violência por forças privadas durante o ano de 2020.
2020 foi muito difícil e 2021 promete ser pior, e para o cidadão negro o que se avizinha no futuro é nefasto. Mas há esperança. A luta da classe trabalhadora, a união pela libertação da opressão da burguesia, essa é a resposta para verdadeira libertação da população negra. Por isso, 2021 será um ano de lutas, pelo Fora Bolsonaro, por Lula presidente e pelo fim do genocídio da população negra.
E que possamos encontrar na luta nossa força e esperança para superar tanta dor.