Segundo o colunista André Santana, do portal de notícias UOL, uma filial das Lojas Zara, em Fortaleza/CE, está usando um código de alerta sonoro para controlar a entrada de pessoas negras ou pobres em suas dependências. Essa prática foi escancarada quando a delegada Ana Paula Barroso, que é negra, se viu impedida de entrar no estabelecimento, no último dia 14 de setembro.
A notícia não surpreende em nada aqueles que acompanham a trajetória criminosa desta empresa capitalista: já em 2011, a Zara Brasil foi indiciada por manter trabalhadores em condição análoga à escravidão na cadeia produtiva da sua marca de roupas, pertencente ao grupo Inditex. A autuação ocorreu em agosto daquele ano. Na ocasião, uma ação do Ministério do Trabalho flagrou 16 funcionários, 15 deles bolivianos, produzindo peças para a multinacional em uma confecção na Zona Norte de São Paulo. Segundo os fiscais, os costureiros chegavam a trabalhar 20 horas por dia, em ambientes sem ventilação e com fiação exposta. A empresa alegou, à época, não monitorar seus fornecedores, mas foi responsabilizada por trabalho escravo pela 4ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo, em novembro de 2017.
Quanto aos casos de racismo envolvendo essa empresa, também não são incomuns: no ano passado, um jovem de 17 anos foi abordado, na loja do Shopping Ibirapuera, em São Paulo, enquanto experimentava roupas, sob suspeita de que teria a intenção de roubar algo. A mãe dele entrou na Justiça contra a loja. Também em 2020, duas ex-funcionárias acusaram a Zara de transfobia e racismo; Alina Durso, 20 anos, e Jade Asa, com 19 anos, foram contratadas através de um programa de inclusão para “pessoas em risco de exclusão social e com difícil acesso ao mercado laboral”. Ambas relataram, após quatro meses de estágio na Zara, uma série de episódios de caráter constrangedor e discriminatório protagonizados pela gerência do estabelecimento.
Apesar de chocar a política colocada em prática pela empresa Zara, essa “metodologia” não é recente e também é aplicada de maneira ostensiva pelas forças policiais, em particular a polícia militar. A PM utiliza esse método sem uso de robôs e de algoritmos (por enquanto), mas possui uma espécie de cartilha e de treinamento onde essa determinação é aplicada. As forças policiais usam esse critério para os negros e pobres brasileiros, discriminando e matando aqueles cuja mera existência é considerada pela sociedade brasileira como indesejável ou mesmo como dispensável. A polícia brasileira sabe muito bem que pode dispor dessas vidas impunemente. Em termos de discriminação social e racial, portanto, a grande inovação do infame período político em que vivemos são as medidas abertamente criminosas – e escancaradamente racistas – com que a burguesia nacional e internacional pretende encarar os direitos do povo brasileiro e sua já tão mal tratada cidadania.
O episódio, mais uma vez envolvendo as lojas Zara em atos racistas de discriminação dos seus clientes, assim como dos seus funcionários, é uma demonstração cabal da ameaça representada pelo fascismo aos direitos democráticos da imensa maioria da população brasileira e que é aplicada a muito tempo pelas forças policiais. Por isso é preciso além de ficar estarrecido com o racismo da Zara é preciso também lutar pelo fim da PM que utilizada de maneira mais incivisa e violenta esse mesmo critério nos bairros operários, favelas, ocupações e onde estiver trabalhadores por todo o país.