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História

Conheça 10 lideranças dos Panteras Negras

O grupo é respeitado até os dias de hoje, e é filho de um período de grande crise no regime político norte-americano

Há 55 anos, na cidade de Oakland, nascia uma das mais importantes organizações da história do movimento negro: o partido dos Panteras Negras. O grupo, que chegou a contar com um exército de admiradores nos cinco continentes e é respeitado até os dias de hoje, é filho de um período de grande crise no regime político norte-americano, quando as contradições entre a extrema-direita e os setores oprimidos estavam em seu pico.

Os Panteras Negras foram uma reação muito contundente e determinada à situação material dos negros norte-americanos entre as décadas de 1960 e 1970. Surgiram da necessidade de enfrentar violentamente os seus inimigos, em um momento em que a democracia burguesa já havia revelado sua absoluta incapacidade de resolver os problemas da maioria da população. Neste sentido, o partido, ao contrário do que defendem os grupos identitários no interior do movimento negro, tinham uma política voltada para a luta de classes real: defendiam o armamento do povo negro e a organização como método para o enfrentamento e a declaravam guerra aberta aos seus inimigos.

Embora o movimento fosse bastante radical, empurrado pela polarização à época, os Panteras Negras não chegaram a desenvolver um programa revolucionário acabado, que colocasse o problema da expropriação da burguesia como uma questão chave. Neste sentido, as confusões no interior do movimento, fruto das pressões pequeno-burguesas e da própria inexperiência de seus dirigentes, acabaram contribuindo para que o partido sucumbisse à duríssima repressão do imperialismo.

Inúmeras lideranças foram presas ou assassinadas. Vários, inclusive, passaram a maior parte da vida na cadeia. É o caso, por exemplo, de Jalil Muntaqim, solto em 2020, aos 68 anos, depois de ter passado 49 anos encarcerado. Já outras lideranças, como Angela Davis, conseguiram conquistar um papel de destaque na esquerda internacional, mas capitularam completamente para a política oficial do imperialismo.

Conheça agora as 10 principais lideranças dos Panteras Negras:

1.       Huey Newton

Huey Percy Newton foi um dos fundadores do partido dos Panteras Negras. Newton nasceu em 17 de fevereiro de 1942, no Estado da Luisiana e dedicou a sua vida à luta do povo negro. Embora um importante ativista, Huey Newton era também um dos membros do Panteras Negras com maior capacidade intelectual.

A parte mais expressiva do início de seu envolvimento com a luta do negro vem do tempo em que estudava na Merrit College, uma faculdade pública em Oakland. Na instituição, Newton teria tido contato com obras de Karl Marx, Vladimir Lênin, Malcolm X e Che Guevara. Quando finalmente vem a fundar o Partido Pantera Negra para Autodefesa, juntando-se a Bobby Seale, Huey Newton assumiu as funções de “ministro da Defesa”, enquanto Seale foi declarado presidente da organização.

Cerca de um ano depois da fundação do partido, Huey Newton foi preso. O jovem ativista disparou, em legítima defesa, contra o policial John Frey em outubro de 1967. Newton foi condenado por homicídio culposo, com pena de 2 a 15 anos de cadeia. Sob forte pressão popular, o regime acabaria soltando Newton em 1970.

Após sair da cadeia, Newton foi um dos membros que passou a defender que o partido voltasse a ações comunitárias, deixando de lado o propósito combativo dos Panteras Negras. Esse tipo de capitulação foi se tornando cada vez mais comum na medida em que o aparato de repressão ia conseguindo desmontar a organização.

Huey Newton foi assassinado em 22 de agosto de 1989, em Oakland. Segundo a versão da polícia, ele teria sido morto por um traficante chamado Tyrone Robinson, membro de uma gangue de rua chamada Black Guerrilla Family.

2.       Bobby Seale

O cofundador do Panteras Negras é um dos poucos membros ainda vivos hoje. Nascido em 22 de outubro de 1936, Bobby Seale teria iniciado sua vida como ativista quando participou de um comício de Malcolm X em 1962. O líder da Nação Islâmica morreria 3 anos depois.

A vida de Bobby Seale foi marcada por uma perseguição implacável do aparato de repressão do imperialismo norte-americano, que o pressionou a tal ponto de renunciar os princípios pelos quais fundou o Panteras Negras. Após ter sair da prisão em 1971, Seale renunciou à violência enquanto método e declarou sua intenção de participar da democracia burguesa.  Em 1973, concorreu à prefeitura de Oakland, perdendo a eleição. No ano seguinte, deixou os Panteras Negras.

A história de caça a Bobby Seale teve início pouco depois da fundação do partido. Em 1969, Seale foi acusado de conspiração pelo governo norte-americano, em um episódio que ficou conhecido como “Os oito de Chicago”. A acusação era de que Seale teria participado de protestos na Convenção Nacional Democrata de 1968 contra a Guerra do Vietnã. Seale não foi julgado no processo, mas acabou sendo sentenciado a 4 anos de prisão por “desobediência no tribunal”.

Enquanto cumpria a sentença, Seale foi levado novamente à Corte em 1970. Desta vez, acusado de ter participado do assassinato de Alex Rackley, um ex-Pantera Negra que admitiu ser informante da polícia, na cidade de New Haven. Os julgamentos foram acompanhados por uma grande manifestação em New Haven em 1º de maio de 1970, que coincidiu com o início da greve de estudantes em 1970. Desta vez, o Seale não foi punido. O cofundador do Panteras Negras foi libertado da prisão em 1972.

3.       Eldridge Cleaver

Uma das figuras mais ativas no partido dos Panteras Negras, mas que também foi se deslocando cada vez mais para a direita na medida em que o grupo ia sendo derrotado, é Eldridge Cleaver. Nascido em 31 de maio de 1935, Cleaver juntou-se aos Panteras Negras pouquíssimo depois de sua fundação, ainda no ano de 1966. Ele tinha acabado de sair da prisão, condenado por estupro e assalto. Foi na prisão que Cleaver teve contato, pela primeira vez, com o Manifesto Comunista.

Quando iniciou sua atividade junto aos Panteras Negras, Eldridge Cleaver foi nomeado ministro da Informação do grupo. Em 1967, Cleaver formou, junto com outros companheiros seus, o Centro Político-Cultural Casa Negra. Em 1968, foi candidato à presidência da República, tendo recebido 36.571 votos. No mesmo ano, Cleaver organizou uma emboscada mal sucedida contra três policiais, o que acabou lhe levando à cadeia. O ativista saiu sob fiança e fugiu para Cuba.

Depois de Cuba, Cleaver partiu para a Argélia, onde criou um escritório internacional para o Panteras Negras. Em 1969, Cleaver também se aproximou da Coreia do Norte.

No início da década de 1970, a pressão sobre o partido se tornou ainda mais intensa, levando a uma crise que praticamente liquidou os Panteras Negras. Huey Newton, seguido por outros membros aterrorizados pela repressão, defendiam a mudança do partido para que não pregasse mais a luta armada. Cleaver, no entanto, insistiu na defesa da luta armada e nas relações com a Coreia do Norte. Em 1971, seria expulso do partido.

Cada vez mais isolado na tentativa de levar o movimento negro a travar uma luta contra o imperialismo de conjunto, Cleaver foi se desmoralizando ao ponto de virar uma figura de direita. Em 1983, tornou-se Mórmon. No mesmo período, tornou-se um conservador entusiasta do partido Republicano.

4.       Elaine Brown

A mulher que conseguiu chegar mais longe no comando dos Panteras Negras chama-se Elaine Brown. Considerada uma pianista talentosa, Brown passou a frequentar as atividades dos Panteras Negras em 1968. Em 1971, foi eleita para o Comitê Central Pantera, tornando-se sua primeira mulher a chegar no cargo. Após a partida de Seale e de Newton, Brown foi nomeada presidente dos Panteras Negras em 1974, a única mulher a ocupar o cargo. Mas 3 anos depois, acabou saindo do grupo. Em 2008, concorreu para presidente como candidata do Partido Verde .

5.       Fred Hampton

No mesmo ano em que a fundação dos Panteras Negras completa 55 anos, foi lançado também o filme “Messias Negro”, que trata da história do jovem Fred Hampton. Muito carismático, Hampton acabou sendo assassinado com apenas 21 anos, quando tinha cerca de um ano de militância no Panteras Negras.

Mesmo tendo passado tão pouco tempo no Panteras Negras, Hampton é lembrado como um de seus quadros mais destacados. O jovem ingressou no partido em 1968 e logo se tornou o chefe da organização em Chicago. Em 4 de dezembro de 1969, Hampton foi covardemente alvejado pela polícia, tendo levado mais de cem tiros.

6.       Mumia Abu-Jamal

Um dos mais jovens a ingressar nos Panteras Negras, Mumia Abu-Jamal foi ao encontro de Huey Newton, Bobby Seale e os demais após ter sido espancado por fascistas e policiais enquanto tentava protestar em um comício de campanha presidencial de George Wallace em 1968. Abu-Jamal entrou imediatamente no partido e passou a atuar como ministro da Informação.

Em 1981, Abu-Jamal  foi preso por causa de um conflito entre seu irmão e um policial. O jovem acabou sendo condenado à pena de morte por assassinato. Em 27 de março de 2008, a Corte Federal de Apelações dos EUA anulou a sentença, convertendo-a em prisão perpétua. Abu-Jamal permanece preso há quase 40 anos e é dos mais conhecidos prisioneiros políticos entre os membros dos Panteras Negras que ainda estão vivos.

7.       Sundiata Acoli

Outro que está condenado a passar o resto de seus dias nas masmorras do imperialismo norte-americano é Sundiata Acoli. Nascido em 14 de janeiro de 1937, começou a ter uma atuação a partir do movimento de direitos civis. Com o assassinato de Martin Luther King, Sundiata Acoli foi assumindo posições cada vez mais radicais. Em abril de 1968, Sundiata Acoli tornar-se-ia ministro das Finanças do partido dos Panteras Negras.

Em 1969, Sundiata Acoli foi preso no caso conhecido como “Os 21 panteras”. Sundiata Acoli foi acusado de coordenar um ataque com bombas e tiros de rifles a uma delegacia em Nova Iorque. Um grupo chamado Computer People for Peace chegou a arrecadar U$ 50 mil de fiança para ele, mas foi rejeitado pelo juiz. No fim, todos acabaram absolvidos.

Em 1973, por envolver-se em um tiroteio, Sundiata Acoli foi condenado por assassinato em primeiro grau. Após 25 anos, ele teria direito de solicitar sua liberdade, mas, em 1993, foi negada. 25 anos depois, em 2017, ele apelou mais uma vez para que fosse solto, e novamente teve o pedido negado. Agora, Sundiata Acoli só poderá solicitar sua liberdade novamente no ano de 2032, quando tiver 94 anos.

8.       John Huggins

O chefe da seção dos Panteras Negras em Los Angeles era, assim como no caso de Fred Hampton, um ativista bastante jovem: John Higgins, nascido em 11 de fevereiro de 1945. E que também teve o mesmo fim trágico. Em 17 de janeiro de 1969, Higgins e o também membro do partido Bunchy Carter foram assassinados pelo COINTELPRO, programa do FBI utilizado em vários casos de extermínio e perseguição aos membros do Panteras negras.

9.       Elbert Howard

Um dos mais antigos membros do partido dos Panteras Negras é Elbert Howard, conhecido como “Big Man” — isto é, “Grande Homem”. Ele foi um dos seis ativistas que fizeram parte do grupo original dos Panteras Negras, junto com Bobby Seale, Huey Newton, “L’il” Bobby Hutton, Reggie Forte e Sherman Forte. Entre 1966 e 1974, atuou como vice-ministro da Informação, frequentemente atuando como um porta-voz principal do partido enquanto outros membros estavam presos. “Big Man” faleceu em 23 de julho de 2018.

10.   Geronimo Pratt

Membro do alto-escalão do partido dos Panteras Negras, Geronimo Pratt era um veterano militar, tendo participado da guerra do Vietnã. Geronimo Pratt foi um dos muitos trucidados pelo aparato de repressão do regime imperialista, que utilizou o FBI em larga escala para desmontar os Panteras Negras.

Geronimo Pratt se tornou vice-ministro da Defesa depois que Bunchy Carter e John Huggins foram mortos por infiltrados da COINTELPRO. Em 1971, sua esposa Saundra foi morta quando estava grávida de 8 meses e seu corpo foi deixado em uma vala. Na época, rumores diziam que o assassinato teria sido resultado dos conflitos entre Huey Newton e de Eldridge Cleaver — Pratt e sua esposa pertenciam à facção liderada por Cleaver. Posteriormente, o próprio Pratt teria considerado que esses rumores teriam sido intrigas promovidas pelo próprio FBI.

Em 1968, Caroline Olsen, uma professora primária de 27 anos, foi assassinada a tiros durante um assalto a uma quadra de tênis. O marido de Olsen, que também foi baleado, mas sobreviveu, identificou Pratt como o assassino em uma lista de testemunhas oculares. Julius Butler, um informante da polícia e infiltrado dentro do Partido dos Panteras Negras, testemunhou que Pratt teria confessado o crime e discutido o assassinato com ele em várias ocasiões. Em 1970, Pratt foi preso e acusado de assassinato e sequestro. A condenação foi anulada em 10 de junho de 1997, sob o fundamento de que a promotoria havia ocultado provas que poderiam ter influenciado o veredicto do júri.

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