O Ministério Público de São Paulo abriu uma investigação contra os humoristas de Diih Lopes e Abner Henrique por conta de uma série de piadas de humor negro com deficientes contadas em uma apresentação dos humoristas.
As piadas contadas pela dupla foram de temas diversos. Em uma delas, o humorista se dizia preocupado com a educação que seus sobrinhos teriam, porque o pai deles seriam um pai babão – pois tem Síndrome de Down. Em outra piada, os humoristas falavam da questão do programa Teleton ter muitas crianças que não tinham pernas e que tinham sonho de tê-las; por isso, de acordo com eles, o programa deveria se chamar “Criança Esperança”. Aproveitando o gancho, eles comentaram sobre o programa Criança Esperança: “Está tudo invertido. Eles ajudam crianças com câncer e, se tem uma coisa que criança com câncer não tem, é esperança”.
Sobre as Paralímpiadas, Olimpíadas destinadas a participação de deficientes físicos, eles comentaram: “Deve ser legal fazer atletismo nas Paralimpíadas, porque tem a grande vantagem de você nunca sentir câimbra”. Ele também comentou que seu primo e sua prima transaram entre si e analisou que, provavelmente, a plateia não tinha entendido o que isso tinha a ver com deficiência. “É porque vocês não viram a criança que nasceu disso”, disse ele logo depois.
Por fim, eles falaram de uma banda de rock formada apenas por integrantes autistas. Disse que se interessou e que foi assistir à música deles, além de ter lançado um desafio para si próprio: “não rir durante o vídeo”. Desafio que não pôde ser cumprido, de acordo com ele próprio, porque ele não aguentou “cada um tocando uma música” descoordenadamente.
Os adeptos do politicamente correto podem escrever milhares de teses sobre o assunto, denunciar e mandar o mundo inteiro para a cadeia, chorar e espernear, falando como as palavras vão afetar a vida de todos os deficientes que existem. Apesar disso, é inegável o direito que os comediantes têm de se utilizar do subgênero humor negro para fazer piadas – afinal, esta é a profissão deles.
Diih Lopes e Abner Henrique foram acusados de “capacitismo” – algo que sequer é crime, que não é tipificado penalmente –, o que já é um absurdo, pois se trata de um crime de opinião. Mas, pior, é a arte que está sendo criminalizada aqui. Não se pode mais encenar ou interpretar, contar piadas, nem nada do tipo, colocando sua opinião ou não, ou você corre risco de prisão.
Vivemos nos tempos da ofensa. Qualquer coisa ofende o interlocutor, que passa a ter direito de processar e perseguir todo mundo. O Ministério Público, em conjunto com o Comitê Paralímpico, agem como uma verdadeira polícia das ideias ao perseguir um humorista por contar piadas. Nem se tratam de piadas contadas em público, mas de piadas contadas dentro de um palco, em um show declaradamente de humor negro. Se nem nessas condições se pode contar piada, é porque a sociedade em geral é muito mais antidemocrática: no Brasil, a ditadura do judiciário está cada vez mais intensa.


