No dia 05 deste mês foi publicada matéria na Folha de São Paulo sob o título “PT antecipa autocrítica sobre gestão Dilma, tenta blindar Lula e cria desgaste interno” assinada pelas jornalistas Catia Seabra e Victoria Azevedo. A matéria sugere que a política econômica da ex-presidente Dilma será usada como munição para os adversários de Lula na campanha eleitoral de 2022.
No final do mês de janeiro, Bolsonaro afirmou que a eleição de Lula significaria a volta de nomes como o da ex-presidente ao centro do poder. “Alguém acha que se o cara voltar Zé Dirceu não vai para a Casa Civil? Dilma no Ministério da Defesa? Defesa, já que ela é mandona e uma arma poderosa conhecida”, disse ele.
Para se antecipar aos ataques, surgiram diversas declarações seja por parte de Guido Mantega, o escolhido por Lula para traçar a linha econômica do eventual governo, como até mesmo do próprio Lula em relação ao papel de Dilma Roussef no próximo governo.
Segundo a matéria , o ex- ministro prepara à pedido de Lula um documento no qual defende a gestão petista porém reconhece seus equívocos.
“O texto vai demonstrar que não foram os governos do PT que quebraram o Brasil, nem que houve irresponsabilidade fiscal ou inflacionária durante a gestão petista e fará uma comparação entre os governos desenvolvimentistas do PT e os governos neoliberais do Temer e Bolsonaro”, afirma Guido Mantega.
Lula também sai em defesa de Dilma Roussef porém em entrevista à rádio CBN afirmou que ela não deverá ocupar nenhum cargo no governo caso ele vença a próxima eleição e ainda que faltavam a ela “paciência que a política exige”.
Elogia Dilma por sua capacidade de gestão porém afirma que ela errou na política , que não teria a paciência necessária para conversar e atender as pessoas mesmo quando não se gosta do que elas estão falando. Em uma tentativa de responder aos adversários Lula usa a batida estratégia do morde e assopra.
A ex-presidenta , como seria de se esperar, já avisou que ela mesma fará a defesa de seu governo quando atacada durante a campanha, inclusive ousou mais: criticou a presença de Alckmin na chapa petista o comparando ao traíra conspirador Michel Temer . Coisa que poucos petistas tem a coragem de fazer.
A política de agradar a gregos troianos não é novidade em se tratando de Lula. O que chama atenção no entanto é a total ausência de reação da esquerda identitária em defesa de Dilma Roussef , mesmo diante a declaração de Bolsonaro em crítica à ex-presidenta.
Nenhuma palavra, nenhuma publicação em rede social. Absolutamente nada para defender a postura da única mulher a alcançar o maior posto possível em uma nação. As críticas que cabem a Dilma Roussef quanto à sua postura revelam na verdade a sua autenticidade e firmeza de caráter diante dos abutres que sobrevoavam de forma intermitente qualquer administração pública.
Já vimos defesa da ministra Damares, uma reacionária puro sangue, defesa gloriosas de jornalistas que se intitulam socialistas e foram criticadas por suas declarações públicas como o caso de Cynara Menezes, defesa de Manula Dávila , Joice Hassemann, entre outras tantas.
Para as feministas da esquerda pequenoburguesa toda e qualquer critica à mulher , independente do que se trate, torna-se mais uma flâmula tremulante no front de batalha em defesa da causa . Mulheres assim como negros, LGBts e indígenas não podem ser criticados pelo simples fato de existirem, não importando quão reacionária ou contra-revolucionária seja a sua atuação.
Cabe perguntar neste momento por qual motivo nem uma linha em defesa de Dilma Roussef, não seria a ex-presidente uma mulher merecedora de defesa? Seria Dilma Roussef um homem disfarçado de mulher?
Parecem não reconhecer que Dilma foi atacada e boicotada em sua gestão sempre com os mesmos argumentos em relação à sua inflexibilidade e sua inabilidade política. Mesmo ainda durante o processo de impeachment , quando o jogo sujo rolava à olhos vistos, em nenhum momento as feministas levantaram-se em defesa da ex-presidente.
Dilma Roussef independente do que se ache de sua política econômica, de suas decisões como presidente, é um legado para todas as mulheres pela sua própria história de resistência. Foi militante , presa, mesmo torturada não entregou seus companheiros. Manteve-se altiva em sua dignidade ferida diante aos que lhe torturaram. Foi levada ao maior posto que alguém pode chegar em uma nação e enfrentou seus algozes em diversas oportunidades sem perder a serenidade. Talvez deveria ser bela, recatada , doce e meiga como se espera de uma mulher, mesmo aquela que tem o papel de dirigir um navio repleto de ratos prestes pular fora e víboras a lhe devorar.
A resposta está em que os movimentos identitários não são movimentos de esquerda de fato e sim marionetes do imperialismo como já foi mostrado por diversas vezes neste diário. Se assim não fosse não tentariam a todo custo distrair a atenção para o que ocorre no país que é a polarização política em torno da candidatura de Lula e se levantariam em defesa daquela que foi a vítima primeira do golpe de estado de 2016.
