No dia 03/08/2021, ao ser entregue um pedido de socorro de uma mulher de 38 anos, internada numa clínica de psiquiatria no Crato, cidade que fica a 517 Km de Fortaleza – Ceará, foi descoberto que 33 mulheres estavam mantidas em cárcere privado, sofrendo abusos físicos psicológicos e sexuais, entre elas uma senhora de 91 anos. Essa clínica atuava desde 2015.
A mulher que conseguiu pedir ajuda, estava internada nesta pseudo clínica psiquiátrica, ela e mais mulheres ficavam confinadas em cubículos com divisórias em compartimentos com grades na frente, fechadas com correntes e cadeados, similares a um presídio. Sem banheiro e fazendo as necessidades em baldes, só no dia seguinte pela manhã é que jogavam o material no sanitário, havia apenas 3 banheiros do lado de fora. A clínica não tinha um médico psiquiatra como responsável técnico, o diretor não tinha capacitação na área, as famílias pagavam um salário mínimo, normalmente o INSS ou LOAS – Lei Orgânica de Assistência Social – das “pacientes”. Um verdadeiro campo de concentração.
A mulher foi acompanhada por um funcionário para uma consulta médica fora da “clínica”, no caminho pediu para passar na loja em que sua irmã trabalhava, lá passou um bilhete pedindo para que a tirasem da clinica, que estava sofrendo abuso sexual. A irmã levou o bilhete até uma delegacia e foi orientada a tirá-la de lá o mais rápido possível, o que foi feito.
Na sequência foram a DDM – Delegacia Da Mulher – do Crato onde fez seu depoimento e policiais civis da DDM foram à clínica cumprir um mandado de prisão preventiva contra Fábio Luna dos Santos, de 35 anos, o diretor. Ele foi autuado por abuso sexual, carcere privado, maus tratos e apropriação de benefícios. Fábio negou todas as acusações e disse que compreendia que estava tudo bem, que era normal mantê-las em celas por conta dos problemas psíquicos, tendo em vista que elas poderiam colocar em risco elas e as outras mulheres que conviviam com elas.
Esse tipo de “clínica psiquiátrica” não é incomum, aliás, em 2014 houve o senso de moradores em hospitais psiquiátricos de São Paulo. Uma das coisas que “descobriram” foram inúmeras clínicas psiquiátricas que recebiam dinheiro do SUS, todas em condições similares as descritas acima. Em Sorocaba, inúmeras foram fechadas e as pessoas transferidas para hospitais do Estado ou RT – residências terapêuticas, nas suas cidades de origem.
A questão é que no capitalismo, o próprio Estado facilita que este tipo de coisa aconteça, já que com a privatização do SUS cada dia mais vemos a oferta de tratamento de saúde mental estarem mais longe do alcance dos trabalhadores, e todos os serviços de saúde sendo entregues para OSS – organizações de serviço de saúde, que se dizem organizações sem fins lucrativos, mas que na CPI das OSS mostrou e não foi difundido pela imprensa burguesa, que ganham muito dinheiro público e devolvem quase nada para os trabalhadores.
O desinvestimento no SUS, ou melhor, a destruição do SUS é que acaba causando essa situação, a delegada titular de Defesa da Mulher do Crato, Kamila Moura Brito, referiu: “Quem internava essas pessoas lá eram os próprios familiares. Daí a gente até se pergunta: como tinham coragem de deixar uma pessoa ali? Sei das dificuldades de ter uma paciente dessas, mas a condição ali é sub-humana”.
Bom Sra. delegada, nós podemos responder, são famílias pobres desassistidas pelo Estado, que precisam de tratamento psiquiátrico para seus familiares e não tem. São famílias que precisam de residência terapêutica para idosos com Alzheimer, por exemplo, que precisam de cuidados integrais e o Estado não oferece. São famílias pobres que não têm noção de como é o tratamento correto de saúde mental, e por isso procuram a clínica que oferece tratamento pela troca do LOAS das pessoas.
Existem muitas dessas clínicas, pois o Estado, governado pela direita golpista, não cumpre seu papel com a sociedade.
