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Coroar as rainhas do lar?

Djamila Ribeiro e Folha defendem a escravidão doméstica da mulher

Longe de combater o problema, os identitários passam perfume na podridão da submissão da mulher promovida pelo capitalismo

o trabalho domestico e seu resquicio colonial

A coluna de Djamila Ribeiro para a Folha de S. Paulo, intitulada “Minha mãe não foi trouxa por acreditar que cuidar da casa era digno”, pode ser resumida em : mulheres, cuidem do lar, é uma obra de arte, a função mais digna no mundo, não liguem para isso de opressão, é só o seu destino natural! Luta de classes? não, imagina! O problema da mulher é o machismo estrutural herdado do patriarcado, é só você se empoderar, se reconhecer como uma mulher forte que tudo se resolve.

A burguesia já há algum tempo anda por aí (na sua imprensa e como política de estado) a fazer demagogia com as pautas dos setores oprimidos da sociedade. O motivo tem ficado cada vez mais claro depois de aberrações como queimas de estátuas e censura a twittes: a direita busca se infiltrar na luta do oprimido para confundir os movimentos e impôr sua derrota, usando como porta vozes inclusive setores da própria esquerda para dar mais “legitimidade”.  

Eis a política identitária; criada pelo imperialismo norte americano e propagada pela burguesia dos mais diversos países como política de estado (veja-se a rede Globo que depois de apoiar a ditadura agora se vende como defensora da mulher e do negro).

O identitarismo,  elege alguns “oprimidos” para levar a política de contenção das massas para dentro do movimento. A fórmula é quase sempre a mesma: preferem os acadêmicos carreiristas da pequena burguesia. Para compra há várias formas: cargo político, cargo na UNE, folha de pagamento na Open Society e até da CIA, ONG beneficente, viagens, entrevista no Bial, elogio de global, e é claro a clássica coluna na Folha de São Paulo.

Djamila Ribeiro, identitária de respeito, com propaganda na Prada, contrato com a Globo e coluna na Folha de S. Paulo, seguindo a cartilha, sempre pregou que o problema é cultural, a solução é individual, vejam o seu exemplo; para ser uma mulher negra de sucesso no capitalismo o segredo é se vender à burguesia e pregar aos oprimidos: não lutem, resistam!

Em seu texto à Folha de S. Paulo, diz sobre sua mãe e o trabalho doméstico: 

“Ela que fazia pão caseiro, iogurte, arroz com cascas de legumes, reaproveitava a água do arroz, colocava baldes no quintal quando chovia para aproveitar água da chuva, já sabia mais de sustentabilidade do que eu conseguia perceber. O modo como tirava o vinco das calças, de uma genialidade sem igual.”

Segundo a colunista da Folha, o trabalho doméstico não é reconhecido como digno. É certo que nenhuma mulher deve ser considerada “indigna” pelo que faz, seja empregada doméstica ou prostituta, afinal, no fim das contas não foram escolhas delas, mas algo que lhes foi imposto pelas condições materiais às quais a mulher, sobretudo a mulher pobre da classe trabalhadora, está submetida por força da sociedade capitalista que trabalha para manter suas amarras ao lar, ao sexo, aos filhos etc; para assim mantê-la (metade da classe trabalhadora) fora da luta de classes contra a burguesia.

A questão do trabalho doméstico ao qual a mulher está submetida, diferente do que diz a burguesia, nada tem a ver com dignidade, reconhecimento, empoderamento, genialidade etc. É fato que a classe trabalhadora, que vive sob ataque da burguesia, constantemente desenvolve formas próprias de suprir suas necessidades, por isto é comum sobretudo dentre as mulheres trabalhadoras conseguirem com poucos recursos e improvisação solucionar determinados problemas, como fazer a comida render mais, reutilizar água etc.

Acontece que o problema do trabalho doméstico não é se ele é bom ou ruim, se é genial ou não, mas sim que é usado pela classe dominante para a opressão das mulheres trabalhadoras, negras, pobres. Uma mulher dedicada ao lar, aos filhos, aos patrões, vive inevitavelmente uma vida limitada, rasa, portanto degradante e miserável.

É isto que a burguesia busca com a imposição do trabalho doméstico à mulher; que ela se limite, se torne superficial, improdutiva, isolada no lar com a tv, o fogão, as fofocas, o tanque e os filhos, não tenha contato com a luta popular e se torne cada vez mais conservadora, se afaste dos ideias progressistas que lhes são natos pela sua condição de oprimida.

A Folha e sua identitária de estimação, propagando a política de ataques à mulher quer fazer acreditar que tirar vinco da calça é uma tarefa genial; que guardar água da chuva não é miséria, mas sim “sustentabilidade”. E continua dizendo até mesmo que a limpeza é uma sabedoria: 

“Mas nós somos ensinadas a acreditar que nossas mães foram fracassadas, não eram inteligentes, quando souberam multiplicar comida e fazer o dinheiro chegar até o fim do mês.”(…)

“Ela conseguiu manter quatro filhos sempre alinhados e chegando à escola no horário, educados, mas igualmente sem ter o reconhecimento. As funções impostas para as mulheres não são vistas pela perspectiva da genialidade, embora quem critique, na maioria das vezes, não conheça a sabedoria da limpeza.”

Quem acredita nisso? É uma falsificação, uma charlatanice. A luta da mulher por sua libertação sempre teve como um de seus pontos principais depois do direito ao aborto, a libertação do trabalho doméstico e do cuidado com os filhos, por serem imposições de classe, por serem um atraso para a mulher, e não um estimulo à sua genialidade ou inteligência.

Na verdade, a vida doméstica, propositalmente afasta a mulher da genialidade, busca reduzir as capacidades intelectuais da mulher à futilidades e frivolidades, isto é evidente. A vida da mulher no lar se reduz a problemas insignificantes como a novela das 22h, o dedo machucado do filho e o vinco da calça. Heloneida Studart em seu livro “Mulher objeto de cama e mesa”, sobre isto coloca:

“Adaptada desde a infância ao ambiente do lar, a mulher se ocupa o tempo todo sem criar ou produzir. E o meio doméstico é culturalmente muito pobre, não solicitando o emprego da mente. A inteligência, que não é desafiada e não responde o desafio, vai ficando embrutecida e limitada. Sem conseguir alcançar o desenvolvimento que é originário das relações de produção e das trocas sociais, o QI feminino acaba sofrendo a mesma diminuição que se verifica no QI das crianças miseráveis.”

A mulher doméstica é tolhida da consciência política e social. Se fosse consciente e se pudesse escolher seu destino livremente, como setor social, não individualmente, escolheria o fim do trabalho doméstico e da sua escravidão ao lar; assim como escolheria o fim da prostituição e sua escravidão ao sexo. Há quem diga: ela gosta de cuidar da casa, ela escolheu ser prostituta, uma mentira que não passa de limpeza de consciência ou má intenção, e seja como for nenhum dos dois serve para resolver o problema da opressão das mulheres.

Passando ao largo do problema fundamental Djamila continua: 

“As opressões estruturais não permitem realidades sócio-materiais dignas para muitas mulheres negras, mas eles insistem em contar a mentira de que é só se esforçar que consegue. Mesmo quando mulheres da origem da minha mãe foram as que mais se esforçaram para, mesmo na escassez, fazer a soma do dia a dia. De surpreender a matemática e fazer dois mais dois virar seis.”

Para Djamila e o identitarismo, guiados pela burguesia inimiga da mulher e de todos os oprimidos, a opressão da mulher é algo abstrato, moral, “estrutural”. Parte da solução passaria pelo reconhecimento do seu lugar de oprimida no lar. O trabalho doméstico, seja no seu próprio lar ou no de patrões, surtem o mesmo efeito e possuem o mesmo objetivo de aprisionar as mulheres em questões sem importância para afastá-las da luta social por sua emancipação.

Reconhecer  a suposta genialidade do trabalho doméstico é uma farsa, um subterfúgio para esconder uma manobra contra a mulher. Primeiro porque o trabalho doméstico é uma escravidão, uma prisão para o corpo e a mente da mulher, logo, se opõe ao que se pode chamar de genialidade; e em segundo lugar a burguesia que sabe disso, justamente porque promove esta escravidão, não tem qualquer intenção de emancipar a mulher, logo, usa subterfúgios como o “reconhecimento” do trabalho da mulher no lar para esconder o verdadeiro caminho para a emancipação da mulher, que dentre outras coisas pressupõe o fim do trabalho doméstico.

Ao invés de combater o problema, os identitários passam perfume na podridão da submissão da mulher promovida pelo capitalismo. O “reconhecimento” da importância do trabalho doméstico, como proposto, visa de forma rasteira, pela boca dos supostos progressistas identitários, conformar a mulher à sua condição degradante e reforçar o trabalho doméstico privado, para que permaneçam nos ombros das mulheres. É a conclusão à que chega Djamila:

“Minha mãe não foi trouxa por acreditar que cuidar da casa era digno. Triste é a sociedade que não valoriza o cuidado, mesmo dependendo dele para funcionar.”

Pois bem, aqui se revela o objetivo da tão nobre “preocupação” da burguesia em coroar a mulher, em premiá-la por sua dedicação tão digna ao lar: incutir a ideia de que a sociedade depende das mulheres submissas ao lar para funcionar, para a mulher iludir-se achando que isto é real, que não há outra saída para a mulher oprimida que nasceu para cuidar do lar a não ser aceitar seu destino cruel e ter assim o eterno agradecimento dos seus opressores., que como Heloneida bem coloca sobre o trabalho doméstico imposto à mulher: “ Oferecem-lhe o consagrado papel de rainha do lar. E lhe dizem que não mude.”

Heloneida apresenta ainda o caminho para solucionar o problema da escravidão doméstica da mulher:

“creches, cantinas, fábricas de confecções de roupas, empresas que aluguem serviços, industrialização, maciça de alimentos e abundância de eletrodomésticos.- A libertação total da mulher só virá – em qualquer sistema do mundo – quando não se falar mais em cozinha como artesanato de comida, mas sim em supermercados e restaurantes coletivos, alimentos supergelados e pratos  adquiridos prontos. Quando não se falar mais em pano de pó e vassoura, mas só em aspiradores operados por empresas, que as mulheres chamarão por telefone como hoje se faz para consertar as vidraças. “

É uma falsificação das mais grotescas contra a mulher, criada pelos seus algozes, de que a sociedade depende do trabalho doméstico da mulher para funcionar. É uma campanha cruel e baixa para justificar um estado de escravidão, subserviência e degradação.

A solução para as necessidades domésticas evidentemente não é a servidão da mulher, mas sim a coletivização do trabalho, conceito já existente há décadas e que Djamila omite de sua mãe e das mulheres, a mando da burguesia,  para conformá-las com suas vida miseráveis de domésticas…como se diz, há quem por interesses escusos venda a própria mãe…

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