A Record enviou Roberto Cabrini, conhecido por sua participação como repórter no Domingo Espetacular e o Câmera Record, volta ao Afeganistão pela terceira vez, indo cobrir a situação do país e da população após a tomada do poder pelo Talibã. As matérias “conexão Kabul” e “A volta do império das trevas” já deixam bem claro o tom da reportagem e a linha que pretende seguir. Ao todo foram 6 reportagens divididas entre os dois programas.
Cabrini entrevistou diversas pessoas, homens, mulheres, ex-colaboradores dos EUA, crianças e até membros do próprio governo. Logo no começo, não se comenta a questão da ocupação e os crimes de guerra dos EUA no Afeganistão, nem mesmo trata disso com os membros do governo que entrevista — é quase como se não existisse os bombardeiros e os massacres promovidos pelo exercito norte-americano durante os 20 anos de ocupação, nem mesmo nas reprises de reportagem anteriores, em que Cabrini estava junto aos soldados, menciona tais ocorridos. O repórter trata dos temas de maneira sempre tendenciosa, creditando todos os males que afetam o país ao Talibã. Segundo o repórter, a milícia do povo afegão teria sido “responsável” pela fome, pelo desemprego e pela pobreza, não levando em conta a guerra que assola o país a mais de 20 anos, promovida pelo imperialismo a fim de “combater o terrorismo” e “civilizar” aquele povo.
A reportagem tenta retratar um clima pesado de perigo e medo constante, tudo para dar a entender que o Talibã está vigiando a população e reprimindo duramente quem critica e se opõe ao Talibã. Por mais que tenha havido uma equipe e um roteiro para enquadrar tal linha, ela mesma não se sustenta durante a própria reportagem. Em um trecho, Cabrini veste trajes tradicionais para tentar se misturar e não chamar atenção dos Talibãs, mas em uma outra, entra para entrevistar um dono de uma loja de eletrônicos que veste uma camiseta básica com uma frase em inglês, entrevista dois homens na praça central de Cabul que abertamente criticam o Talibã. Curiosamente, com toda essa tamanha repressão e perseguição a estrangeiros e opositores, o governo recebe o repórter e responde todas as perguntas (por mais tendenciosas que sejam) abertamente.
Apesar das mil maravilhas que o povo afegão passava nas mãos do governo norte-americano, a reportagem não consegue explicar a fuga em massa da população para os países vizinhos. São estimados cerca de 2,6 milhões de refugiados e deslocados do país, número este que pode ser considerado uma estimativa baixa quando se coloca a falta de tecnologia e postos de controle fronteiriço. A mesma matéria tenta humanizar e lamentar cerca de 3 mil soldados norte-americanos mortos, colocando eles como heróis e defensores da liberdade contra o mal absoluto, mas sequer cita o número estimado de civis mortos pela ação do exército e bombardeiros do imperialismo norte-americano.