Após volta às aulas presenciais na Europa, escolas brasileiras seguem pelo mesmo caminho em meio ao pico de transmissão de covid pela variante omicron, a mais transmissível até o momento. O neurocientista Miguel Nicolelis vem alertando insistentemente sobre o perigo de aglomerar as crianças justamente nesse momento da pandemia.
Nicolelis tem destacado um aspecto muito importante da nova variante, que é a sua rápida propagação entre crianças. Se junta a isso o fato de que a vacinação de crianças e adolescentes segue em passos lentos no país e que os leitos infantis estão sobrecarregados. Juntando esse contingente de alunos com o de professores e funcionários das escolas temos um universo que gira em torno de 50 milhões de pessoas.
Se a preocupação em torno do controle da pandemia fosse séria por parte da burguesia, a proteção dessa comunidade escolar deveria ser tratada com importância especial. Além disso, nunca é demais lembrar que as pessoas envolvidas na atividade escolar convivem “sem distanciamento social” com suas próprias famílias, o que amplia muito o potencial de propagação do vírus.
Diante desse quadro, o relativo silêncio em torno desse problema urgente contrasta com a histeria autodeclarada “científica” de outros momentos dessa pandemia de covid que já se arrasta há surpreendentes dois anos. O “fique em casa”, por exemplo, que protegia uma pequena parcela privilegiada da população foi apresentada no primeiro semestre de 2020 como o mais alto patamar do cientificismo. Nada de testes, distribuição de máscaras, álcool em gel, auxílio para a população mais pobre, bastava ficar em casa e deixar os governos gastando o orçamento no que lhes conviesse.
Parece que esses entusiastas de ocasião da “ciência” só abrem mão dessa defesa apaixonada de uma ciência sem rosto e que existiria acima das questões mundanas quando a burguesia decide que é preciso lucrar. A volta às aulas não enche apenas os bolsos dos capitalistas da educação privada, existe toda uma rede econômica vinculada a essa atividade, como os transportes, indústrias dos mais diversos materiais escolares, alimentação, vestuário e por aí vai.
Nicolelis é uma referência mundial na sua área de atuação, o que deveria colocar para os pretensos defensores da “ciência” a tarefa de escutar e atuar energicamente para salvar vidas. Porém, os monopólios da comunicação não estão orientando nesse sentido, a Globo não está na campanha “Fique em casa, não vá para a escola”, então está tudo bem. O importante é alimentar os lucros da burguesia, em especial seu setor mais parasitário, os bancos.