Em Porto Alegre, o prefeito Nelson Marchezan Júnior do PSDB, implementou, no início de junho, sem nenhuma consulta à comunidade escolar, a plataforma Córtex. Como era esperado, o conteúdo do aplicativo não tem chegado aos alunos, pois não há internet, e os aparelhos dos alunos costumam estar defasados, têm pouca memória ou pertencem a outros familiares, como irmãos, tios, primos, indisponíveis para uso durante o dia ou ao mesmo tempo.
Na região, a EMEF José Loureiro da Silva conta com dois mil alunos, mas apenas 300 conseguiram cadastrar-se na plataforma utilizando os próprios dados de internet. Quando os números de telefone estão atualizados, os professores até tentam ligar para as famílias, mas as condições financeiras para isso não são favoráveis.
A mesma dificuldade ocorre na Escola Estadual de Ensino Fundamental Onofre Pires, localizada na Lomba do Pinheiro, também em Porto Alegre. Com 320 alunos, a instituição tentou disponibilizar o conteúdo das aulas via Google Drive, divulgando o link de acesso aos pais e alunos por meios diversos, como o WhatsApp.
Nesse período, o governador Eduardo Leite do Rio Grande do Sul, do PSDB, determinou a utilização de um sistema parecido para realização de aulas remotas por parte de todas as escolas estaduais. Ele criou o Google Sala de Aula, um ambiente virtual para armazenamento e envio de material didático. Porém, em todos esses os casos, persiste a questão da falta de acesso à internet e de equipamentos apropriados para oferecer as aulas.
Mais uma vez, a população se vê prejudicada diante de algum infortúnio. A educação, que deveria ser um direito de todos, prioritariamente pública, assim como a moradia e a saneamento básico, não passa de letra morta na Constituição Federal.
Com a pandemia do coronavírus, a desigualdade, já existente entre os alunos da rede pública e privada de ensino, ficaram ainda mais evidentes. No intuito de manter as aulas durante o período de distanciamento social, muitas escolas buscaram implementar métodos de ensino à distância, mas, devido à falta de verba, sucateamento dos equipamentos e descaso dos governantes, apenas as particulares conseguiram obter êxito na empreitada.
No ensino privado, os estudantes têm acesso a aplicativos e sites especializados em educação. Ali, as aulas são ministradas pelos professores em ambiente virtual, ao passo que, no ensino público, alunos e professores sequer possuem acesso à internet e aparelhos celulares ou computadores adequados para assistirem às aulas ou as ministrarem.
Os estudantes da rede pública quase sempre são pobres, e seus pais pertencem à classe operária com baixo nível cultural e de renda. Na esmagadora maioria das vezes, o ambiente familiar é impróprio para o estudo, fazendo com que crianças e adolescentes presenciem frequentes episódios de brigas, violência doméstica, cenas de despejo, fome, desmotivação, desemprego. Dificilmente um adulto se disponibiliza a orientá-los ou incentivá-los no trato com o aparelho e as lições.
Neste momento, não há previsão de cura ou vacinação em massa para combater o coronavírus e possibilitar o retorno das aulas presenciais. A crise de contaminação e mortes pode estender-se por meses ou até por anos. Portanto, é preciso que os governos proporcionem meios tecnológicos aptos a garantir um mínimo de acesso ao ensino em favor de alunos e professores da rede pública, para que essa pandemia não seja mais um fator de discriminação entre os estudantes das escolas públicas e particulares.