Saiu ultimamente na imprensa capitalista relatos de estudantes de origem simples, ingressantes nas universidades públicas através de cotas, e que não conseguiram concluir os estudos.
Muitos desses estudantes são, apesar de muito jovens, arrimos de família. Entre colocar a comida na mesa e estudar, foram obrigados a escolher a sobrevivência da família.
O tão sonhado ingresso na faculdade foi alcançado através de lei de cotas, porém foi ceifado pela dura realidade: necessidade de trabalhar para sustentar a si e a família.
Jovens de classe trabalhadora não possuem estrutura familiar típica de classe média: pais provedores que conseguem permitir que os filhos somente estudem. Sem esse apoio, a rotina dos trabalhadores que estudam é árdua, é casa-trabalho-faculdade-casa, e quando a infraestrutura não colabora, os estudantes-trabalhadores são encurralados a abandonar os estudos.
Todos sabem que atualmente a oferta de ensino público de qualidade é rara, principalmente no ensino básico. Entretanto, a situação inverte no ensino superior, o que aumenta a concorrência. Sabendo de baixo preparo dos estudantes de rede pública, o governo criou o paliativo na forma de lei de cotas, que inclui também cotas raciais. Esse paliativo é somente para o momento de ingressar na faculdade, não garantindo mais nenhum benefício.
De fato, existem bolsa-auxílio de nomenclatura variada para amenizar a situação, mas esta se depara com dois problemas graves: o valor não cobre todos os custos; e essa bolsa não contempla todos os necessitados.
A verba que o governo destina à educação diminui a cada ano, e algumas universidades públicas correm o risco de fecharem as portas devido ao descaso dos governos da burguesia. Isso é pressão para sucateamento do ensino superior gratuito, privilegiando o ensino pago, mais restritivo e com a maioria de qualidade duvidosa.
Uma matéria publicada no Uol cita o impressionante relato de uma jovem estudante da periferia da cidade de São Paulo que, com muito esforço, dominou em pouco tempo a programação, o que garantiu a ela estabilidade no emprego. Mas a jornada diária de 8 horas a impediu de frequentar a faculdade, que fica no lado oposto da cidade, o que causou grande frustração.
Ou seja, a universidade perdeu um talento e tanto, com futuro promissor, ao dificultar o acesso ao estudo. A instituição superior em questão era a USP, e oferecia R$500,00 de auxílio-permanência. Algo que, principalmente com a crise atual, é completamente insuficiente para bancar a família, sendo necessário pelo menos um salário-mínimo.
Nas universidades federais, a situação é pior. O governo Lula criou em 2010 o Plano Nacional de Assistência Estudantil (Pnaes), vinculado ao Ministério da Educação, tendo como objetivo ampliar as condições de permanência dos jovens na educação superior publica federal. Apesar de limitado, o projeto ajudou jovens a realizarem seus sonho de graduação. Porém, após o golpe, a verba destinada à Pnaes vem sendo cortada, o que causa insegurança dos estudantes pobres em relação ao futuro.
A situação de grupos indígenas, marginalizados pelos capitalistas, é ainda pior. Desde 2013, têm direito a receber bolsa auxílio. Todavia, estava paralisada desde 2019 e, agora, em 2022 – ano eleitoral – o governo voltou a concedê-lo. É ou não é demagogia?
Esse sistema cínico e cruel massacra ainda mais o povo pressionado. Ao impedir o acesso ao ensino superior, perpetua o ciclo de mão de obra barata, descartável e em grande quantidade, o que é vantajoso para capitalistas ao desvalorizar o trabalhador principalmente da juventude.