Por quê estou vendo anúncios no DCO?

O PCO e o Talibã

E se estivéssemos no Afeganistão?

A posição tradicional dos partidos operários sobre os movimentos nacionalistas e a luta contra o imperialismo não deve se dobrar um milímetro frente a histeria identitária

Após 20 anos de guerra contra a invasão brutal do imperialismo no Afeganistão, o Talibã saiu vitorioso no dia 15 de agosto com a tomada da capital Cabul e a fuga humilhante das últimas tropas remanescentes na cidade, ecoando os eventos do fim da guerra do Vietnã em 1975. O Partido da Causa Operária saudou a vitória do movimento nacionalista sob o imperialismo como uma vitória de todo o povo oprimido do mundo, logo uma frente entre a esquerda pequeno burguesa e a imprensa burguesa, do presidente do PSOL à Folha de SP, se formou para atacar intensamente o PCO, de acordo com esses setores o Talibã seria indefensável pois segue uma ideologia fundamentalista que oprime as mulheres. O que levantou a questão, qual deve ser a posição dos marxistas revolucionários em relação aos demais movimentos que lutam contra o imperialismo?

Talibã. Tropas tomam a cidade de Spin Boldak, é possível ver o caráter
popular do exército que sem nada derrotou a maior máquina de guerra da
história da humanidade

A invasão imperialista

Primeiramente é preciso explicar o quadro geral da guerra, pois a campanha de “fake news” da imprensa burguesa é colossal. As forças fundamentalistas islâmicas se fortaleceram na luta contra a ocupação da URSS em 1980 com um gigantesco financiamento dos próprios EUA, com o fim da guerra algumas delas se voltaram contra o próprio imperialismo em defesa da independência nacional, foi o caso do Talibã, que tomou o poder em 1996. Assim o Afeganistão se tornou um dos principais inimigos do governo norte americano, junto ao Iraque, e após o 11 de setembro foi rapidamente ocupado pelos exércitos imperialistas, que derrubaram o governo instalando um regime fantoche dando início a guerra de libertação nacional que durou mais 20 anos.

A guerra de tão monstruosa chega a ser difícil de descrever, estima-se mais de meio milhão de mortos, mais de 5 milhões de refugiados, isto em um país com 37 milhões de habitantes. Em média foram jogadas 46 bombas no país por dia, incluindo a maior de todas as bombas não atômicas já criada na história. O país extremamente atrasado que havia saído de uma guerra de 20 anos, foi novamente invadido, agora pela maior máquina militar da história, com tamanha brutalidade que o destruiu quase por completo. Essa situação de calamidade total levou ao fortalecimento de diversos exércitos afegãos com objetivo de lutar contra o imperialismo, cujo principal foi justamente o Talibã. A queda do governo fantoche dos EUA em pouquíssimos dias após a declaração de retirada das tropas mostra o tamanho do apoio popular que o Talibã adquiriu após 20 anos de luta contra os invasores.

Congresso em Baku. O Congresso dos Povos do Oriente Médio em
Baku organizado pelos bolcheviques em 1920 traçou políticas sobre os
movimentos nacionalistas revolucionários

O Partido Operário e a luta pela libertação nacional

O PCO saudou a vitória da organização nacionalista estando a mais de 13 mil quilometros de distância, isso foi um argumento utilizado para atacar o partido pois seria fazer tomar tais “posições absurdas” em acontecimentos tão afastados. Por isso faremos aqui um exercício de imaginação de qual deveria ser a política adotada pelo PCO caso fosse um partido do próprio Afeganistão. Um partido operário revolucionário tem como seu maior inimigo o imperialismo, nos casos de uma ocupação por exércitos imperialistas se deve fazer uma luta política contra esta ocupação que tende a se tornar uma guerra de libertação nacional. Foi o que houve na China, contra o Japão, na Coreia contra o Japão e os EUA e no Vietnã contra a França e os EUA, nos 3 casos a vitória da guerra também foi a vitória da revolução.

O caso Chinês é interessante pois lá existiam duas facções que lutaram contra a ocupação do imperialismo japonês, o Kuomintang (KMT), partido do nacionalismo burguês, e o Partido Comunista Chines (PCC), liderado por Mao Tse Tung. O interessante é que ambos estes eram inimigos, o KMT realizou diversos massacres de comunistas e estava em guerra aberta contra o PCC antes da ocupação. Mesmo assim, durante a guerra de libertação nacional foi realizada uma frente, em que os comunistas possuíam uma política independente, seguindo a teoria do marchar separados e golpear juntos. O KMT por ser uma força que já havia capitulado anteriormente (vide os massacres citados acima) quase não resistiu a guerra, enquanto isso o Exército Vermelho de Operários e Camponeses de Mao foi a principal força de resistência, o que o tornou a força política mais popular do país garantindo a vitória da revolução após o fim da guerra.

No caso do Talibã não existe um partido comunista como na China, a principal força que resiste ao imperialismo é justamente o nacionalismo afegão que se baseia do Islã, algo muito comum nos países do Oriente Médio, como nos casos do Irã, Palestina (Hamas) e do Líbano (Hezbollah). Contudo em nosso exercício mental o partido revolucionário estaria atuando no Afeganistão lutando contra o imperialismo em conjunto com o Talibã. O caso chines mostra que é possível duas forças antagônicas formarem essa frente, então mesmo que o Talibã adotasse a postura mais agressiva ao partido operário seria possível formar essa frente de luta contra o imperialismo. E caso eles se aliassem ao imperialismo contra o partido revolucionário então a população tenderia a passar seu apoio a este partido, também como ocorreu no caso chines, pois este seria a principal força da luta contra os invasores.

O ponto crucial aqui é que a luta do partido operário deve se dar junto a luta geral das massas que é dirigida contra o imperialismo. Como afirmou Trotski ao analisar a situação da Ucrânia na época da revolução (um caso com alguma semelhança ao Afeganistão onde havia uma ampla guerrilha de camponeses): “Os comunistas não escondem suas faces ou abaixam suas bandeiras, eles se apresentam abertamente ao povo trabalhador como um partido. Os operários e camponeses aprenderam quem são os Comunistas por sua ação, em sua experiência e luta árdua. É precisamente por este motivo que o partido dos Bolchevique-Comunistas adquiriu a influência decisiva nas massas e por esse meio nos Sovietes.”

O processo de derrota fulminante do imperialismo demonstrou que o que ocorre no Afeganistão é um amplo movimento popular, os posicionamentos dados pelos porta-vozes, como a declaração em defesa do direito de estudo das mulheres demonstra que existe uma pressão das bases que ainda não temos a capacidade de mensurar. De qualquer forma, sendo um amplo movimento de massas em luta contra o imperialismo, não há dúvida, o PCO no Afeganistão participaria deste movimento, apoiando o Talibã contra o imperialismo, sem aderir à sua política, mas mantendo seu programa marxista em defesa da revolução, do governo operário e do comunismo.

Mulher Emancipada. Após 10 anos de guerra uma mulher de burca caminha ao lado de
uma escola destruída desfrutando da democracia garantida pelo imperialismo

A libertação do Afeganistão é uma vitória de todas as mulheres do Oriente Médio

Aqui vale uma pequena digressão acerca do principal argumento da esquerda pequeno burguesa para atacar a posição do PCO, “o talibã é fundamentalista religioso e por isso é indefensável”. Esse ataque a um movimento nacionalista não é novo, ele foi visto diversas vezes no próprio Brasil sendo a ultima e mais emblemática no golpe de Estado de 2016 em que ninguém mais que Guilherme Boulos disse que o governo Dilma era, rufem os tambores, indefensável. Passados 5 anos vemos o resultado de não apoiar um governo nacionalista contra o imperialismo, um golpe de Estado que destruiu completamente o país e levou um fascista à presidência. Tudo de negativo que Boulos via no governo Dilma se tornou milhares de vezes pior no governo Bolsonaro.

O mesmo vale para os países do Oriente Médio, todos os aspectos negativos dos governos ou movimentos nacionalistas islâmicos é milhares de vezes pior sob o jugo do imperialismo. Basta ver o principal aliado dos EUA na região, a Arabia Saudita, o regime mais retrógrado, possivelmente do mundo, que treinou o próprio Talibã. Nas demais monarquias do golfo pérsico, o Paquistão, o Egito e todos os demais países Árabes dominados pelo imperialismo há uma brutal ditadura, que passa muito longe dos direitos das mulheres, que o imperialismo cinicamente finge defender, e o mesmo vale para o governo fantoche que a pouco comandava o Afeganistão. A derrota do imperialismo neste país enfraquece o imperialismo em todo oriente médio o que pode levar a libertação de todos os países da região.

A emancipação da mulher também só será conquistada por meio da luta das mulheres e de toda a população oprimida não só pelos seus direitos mas pela revolução socialista. A ampla mobilização de massas no Afeganistão e a derrota do imperialismo abrem o caminho para a conquista de direitos das mulheres, já os 20 anos de ocupação militar levam um país que já se encontra num gigantesco atraso a uma situação ainda pior. A vitória de um povo sob o imperialismo não só é uma vitória de todos os povos como também uma inspiração a todos nós. O Talibã mostrou que é possível derrotar a pior monstruosidade que já existiu na história da humanidade, é um exemplo da luta dos oprimidos a ser seguido.

Gostou do artigo? Faça uma doação!

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Quero saber mais antes de contribuir

 

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.