A África do Sul já conta com aproximadamente uma semana seguida de protestos, os quais, por sua vez, têm sido cada vez mais violentos, tanto por conta da revolta da população quanto da repressão policial.
Os protestos foram desencadeados após a prisão do ex-presidente Jacob Zuma, que foi sentenciado a 15 meses de prisão por “desacato à justiça” após não comparecer a um inquérito relacionado à suposta corrupção no início deste ano.
“As pessoas começaram a invadir lojas e roubar porque queremos que o ex-presidente Jacob Zuma seja libertado”, afirmou um dos manifestantes. “Mas mesmo que o presidente faça isso, [os saques] continuarão porque também estamos com fome e precisamos de coisas para sobreviver.”
Já são mais de 210 pessoas mortas pela repressão, incluindo um garoto de 14 anos, e cerca de 2.500 prisões. Além disso, mais de 800 lojas e centros comerciais foram invadidos e saqueados pela população em revolta.
Apesar de terem começado com a prisão de Zuma, os protestos continuaram e se intensificaram por conta da situação de miséria na qual a população da África do Sul vive. Apenas 2% da população está vacinada contra o coronavírus e o número de desempregados é de cerca de 32% em números oficiais. Além disso, aproximadamente metade da população vive abaixo da linha da pobreza, sendo a África do Sul um dos países com a maior taxa de desigualdade do mundo.
Nessa situação, o presidente direitista Cyril Ramaphosa, já declarado ferrenho opositor de Zuma mesmo sendo do mesmo partido — o Congresso Nacional Africano (CNA) —, afirmou que os protestos “foram provocados, há pessoas que planejaram e coordenaram isso. Vamos processar essas pessoas. Identificamos um bom número delas. Não permitiremos a anarquia e o caos.”
Este mesmo presidente mobilizou cerca de 2.500 militares para ajudar a polícia a reprimir a população. Com o crescimento dos protestos, a repressão também aumenta: Ramaphosa agora convocou 25 mil soldados para ocuparem as ruas do país, mais especificamente das províncias de KwaZulu Natal e Gauteng, foco dos protestos.
Estes são os maiores protestos desde o fim do Apartheid, em 1990. A situação em que se encontra o país atualmente é, mais uma vez, o resultado de uma intervenção imperialista. O ex-presidente, Jacob Zuma, conta é de uma ala mais nacionalista dentro do CNA e, portanto, é alvo de perseguições desde o período de seu governo, entre 2009 e 2018. Os chamados “escândalos de corrupção”, estratégia comum da burguesia para atacar os governos nacionalistas, foram mais uma vez utilizados no caso da África do Sul.
Os “escândalos” foram usados como pretexto para a retirada de Zuma do governo, o que fez com que Ramaphosa assumisse o poder. Este, por sua vez, faz parte da ala direita do CNA, ligada ao imperialismo, fazendo com que a prisão de Zuma seja mais uma fase do golpe orquestrado pela burguesia contra a população — não coincidentemente, uma manobra bem parecida com a que vimos acontecer com o ex-presidente Lula em nosso país.
A prisão de Zuma funcionou como uma espécie de estopim para a população sul-africana. A situação de miséria do país, intensificada pelo golpe “brando” e pela pandemia do coronavírus, gerou uma situação insustentável, a qual é respondida pelo governo direitista com muita repressão e demagogia.