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Desagregação cresce

Pressão inflacionária acentua crise capitalista

Desorganização econômica leva a encarecimento do transporte marítimo, piora situação de inflação e economia mundial preocupa burguesia

transporte maritmo

Com 80% do comércio mundial sendo realizado por via marítima, governos e a burguesia imperialista observam com preocupação o aumento exponencial no preço do fretamento de navios de contêiner, que chegaram a triplicar em relação aos preços do ano passado. Rotas como Xangai e Rotterdam chegaram a sofrer reajustes no preço da ordem de 547% em relação aos últimos cinco anos (Times, 13/06/2021). De acordo com o think tank ING, o preço dos fretes marítimos continuará aumentando pelo menos até o ano de 2023, em decorrência da desorganização causada pela pandemia.

Dado que quase a totalidade das mercadorias é transportada por via marítima, é difícil contornar o problema do encarecimento dos fretes. Dessa forma, a alta mundial dos fretes tende a encarecer o preço das importações mundialmente em cerca de 11%, constituindo um importante fator de pressão inflacionária sobre a economia mundial. Esse fenômeno ocorre em meio a uma crise inflacionária, que já aparece com muita expressividade mesmo nos países desenvolvidos, onde geralmente são baixas mas já registram recordes de décadas em muitos casos.

Taxas de inflação batem recorde nos EUA

Segundo o Departamento do Trabalho dos EUA, o Índice de Preços ao Consumidor (CPI na sigla em inglês) registrou inflação mensal de 0,9% no mês de outubro, 0,3 pontos percentuais acima do esperado pelos analistas americanos. Os dados foram divulgados no último dia 10 de novembro. Nos últimos 12 meses, os preços acumulam alta de 6,2%, a maior alta registrada pelo CPI desde 1990.

Em contrapartida, a estimativa para o PIB americano é de subir apenas 5,6% neste ano. Ampliando a análise para o período pandêmico, em 2020, a economia americana sofreu retração de 3,5%, implicando em “crescimento” de 2,1%, quase 3 vezes menor do que a expropriação inflacionária.

Para piorar o cenário, a inflação americana vem sendo puxada por itens essenciais, que entranham-se por toda a cadeia produtiva. Em 12 meses os combustíveis subiram 50% e a energia, 30%, indicando uma expressiva desorganização econômica. Finalmente, a alimentação das famílias americanas acumula alta de 15% desde 2020, segundo dados do Departamento do Trabalho, sendo estes os principais fatores de descontrole inflacionário na principal economia capitalista do mundo.

Fenômeno global

Com poucas variações, a crise inflacionária reproduz-se no resto do mundo, em quase todos os casos com os mesmos vilões. No Japão, o Índice de Preços de Bens Corporativos, que analisa o comércio atacadista, apontou alta de 8% em outubro, a maior desde que o índice foi criado, em 1981. A mais desenvolvida economia asiática, tal qual a norte-americana, sofre com o aumento do preço dos combustíveis, seu principal fator inflacionário, tendo acumulado alta de 44,5% nos últimos 12 meses.

Na Alemanha, os combustíveis dão lugar à energia elétrica, que segundo a agência de estatísticas do governo federal, Destatis, aumentou mais de 18,6% desde outubro de 2020, tornando-se o principal puxador da alta geral dos preços, de 4,5%. A inflação na mais industrializada nação europeia é a maior em mais de 30 anos. Em toda a zona do Euro, a escalada dos preços atingiu média de 4,1% em outubro, a maior em 13 anos.

Comida mais cara e fome na América

Seguindo a tendência mundial, a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO, na sigla em inglês) divulgou no último dia 5 um balanço apontando a alta acumulada dos alimentos no mundo em mais de 30%, a maior em 10 anos. Novamente, há que se considerar que no mesmo período, a economia mundial sofreu uma recessão de 3,51%, o que implicou em um enorme empobrecimento das massas proletárias (os que mais sofrem os efeitos nocivos da crise econômica), pressionadas também pela carestia. E naturalmente, da fome.

Uma reportagem da agência Associated Press, reproduzida pelo sítio US News, nos EUA, “160 mil militares da ativa estão enfrentando dificuldades para alimentar suas famílias” (“Thousands of Military Families Struggle With Food Insecurity“, Ashraf Khalil, USNews, 15/11/2021). A reportagem baseia-se em estimativa feita pela ONG Feeding America (Alimentando a América, em português), responsável por manter mais de 200 bancos de alimentos nos EUA.

“Somos a mais poderosa força militar da face da Terra e ainda assim, aqueles que encontram-se nos cargos mais baixos das nossas fileiras – se forem casados com uma criança ou duas -, estão passando fome. Como concentrar-se na missão e defender nossa democracia preocupado se haverá jantar de noite para os seus filhos?” comentou à mesma reportagem o senador do estado de Illinois, Tammy Duckworth (DEM), espécie de sindicalista dos militares, ele próprio ex-piloto de helicóptero com participação na criminosa guerra do Iraque. Não se trata de um problema exclusivo dos militares de baixa patente.

Segundo o sítio americano Denver Post (“On Philanthropy: Simple questions to ask about the ongoing problem of food insecurity in the U.S.“, 14/11/2021), em 2020, 38 milhões de americanos viviam distintos graus de insegurança alimentar, um termo que busca mascarar o fato de que sem algum tipo de assistência, essas pessoas estariam passando fome. A mesma matéria traz um levantamento feito pela Feeding America, indicando que a distribuição de alimentos pela ONG está 55% maior do que no período anterior a pandemia.

Comprovando a situação de desorganização econômica que fundamenta o problema, o desemprego nos EUA atingiu em outubro de 2021 o menor patamar desde março, 4,6%, indicando que a fome está crescendo mesmo com a situação do emprego relativamente estabilizada. Dado que esta situação ocorre no país mais rico e desenvolvido do mundo, a crise capitalista somada ao parasitismo da burguesia comprova-se como responsável por uma catástrofe humanitária, que naturalmente tende a ser pior nos países atrasados.

Desagregação e crise

Com as altas históricas dos preços, o empobrecimento geral da população, sobretudo da classe trabalhadora mundial, desenvolve-se como uma consequência inevitável da crise. Na outra ponta, os preços aumentam para atender a necessidade da burguesia por lucros. Isso explica porque em meio a uma crise com a gravidade da atual, o mundo saiu de 2.095 bilionários listados pela revista burguesa Forbes em 2020, para 2.755 em 2021, com fortuna combinada saltando de US$8 trilhões para US$13,1 trilhões.

A situação parece ótima para a burguesia, mas é mera aparência. Um dos problemas fundamentais da inflação, que a tornam um dos fenômenos econômicos que mais pressionam as massas trabalhadoras à revolução, reside justamente na situação emblemática vivida pelos militares americanos de baixa patente: a pessoa tem uma ocupação regular porém o salário advindo de sua atividade vale cada vez menos.

Enquanto situações de pressão como o desemprego tendem a colocar os trabalhadores em uma defensiva, o paradoxo entre o empobrecimento de trabalhadores ocupados e o enriquecimento dos patrões historicamente empurra o proletariado à esquerda. Por isso mesmo, trata-se de um problema que desperta atenção especial da burguesia, a ponto inclusive de levar seus articuladores políticos a implementarem medidas recessivas para conter a alta dos preços.

As tarefas da vanguarda revolucionária

A tendência inflacionária do capitalismo, que vinha desenvolvendo-se desde fins dos anos 1950 e finalmente explodiu na década de 1970, está na raiz de grandes mobilizações de massas em todo o globo terrestre. A Revolução dos Cravos em Portugal, a Revolução Iraniana, o fim da ditadura franquista na Espanha, a radicalização dos Anos de Chumbo na Itália, os gigantescos protestos dos trabalhadores brasileiros contra a Ditadura Militar, são alguns entre diversos outros eventos marcantes ao redor do mundo após a crise inflacionária de 1974. Na crise atual já começam a aparecer os primeiros ensaios de mobilizações operárias ocorrendo em todos os continentes e algumas, levando grandes multidões de trabalhadores às ruas.

São notórios os casos da greve geral da Coréia do Sul (meio milhão de trabalhadores), a greve dos funcionários de creches públicas de Quebec, no Canadá (que levou 10 mil a cruzarem os braços) e as sucessivas greves ocorrendo na Índia, entre outras, que ameaçam explodir no próximo período. Isto coloca às vanguardas operárias do mundo o desafio de denunciar às massas a expropriação sofrida pela classe trabalhadora através do expediente inflacionário.

É preciso dar ao movimento operário um programa de luta pela reposição das perdas salariais ante a inflação, o que inclui a luta pela escala móvel das horas de trabalho e pelo reajuste automático dos vencimentos dos trabalhadores toda vez que a inflação alcançar determinados níveis (3% por exemplo), como forma de unificar a luta de conjunto da classe operária contra os patrões e seus governos. Junto com outras medidas transitórias para que seja a burguesia e não o proletariado que seja expropriado diante do agravamento da crise.

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