Crise Rússia x Otan

Imperialismo procura saída honrosa para vexame na Ucrânia

O imperialismo está encontrando enorme dificuldade em lidar com o avanço russo na Ucrânia. O exército ucraniano está se esfacelando e pode colocar em risco o próprio regime.

Yars

A situação da Ucrânia se deteriora a passos largos, o país já deve ter perdido algo em torno de 50 mil soldados. Os feridos, de um modo geral, são quatro vezes o número de mortos. No exército têm sido registradas deserções, brigas dentro das tropas e recusa de se cumprir ordens.

Para os ucranianos, infelizmente, um governo fantoche como o de Zelensky serve para defender os interesses do imperialismo. O país foi lançado em uma aventura e está pagando um preço altíssimo. Além das perdas em vidas humanas, ficará sem boa parte do território e, provavelmente, sem saída para o mar.

Enfraquecimento do imperialismo

O imperialismo foi vergonhosamente derrotado no Afeganistão, o que gerou uma enorme crise com a porção imperialista europeia que reclamou do fato de terem ficado sem nenhuma posição importante dentro da Ásia Central. China e Rússia se aproximaram rapidamente do governo afegão e podem controlar o país que é crucial para o estabelecimento de uma rota comercial.

A revista The Econominst, à época, alertou que esse sinal de fraqueza poderia encorajar países oprimidos a se rebelarem e é efetivamente isso que se observa. A Índia, por exemplo, que compõe o QUAD, uma espécie de mini-Otan na região do Indo-Pacífico que conta ainda com Austrália, Japão e EUA, tem resistido às pressões e continua comprando energia da Rússia.

Aqui no Continente, o México praticamente fez naufragar a Cúpula das Américas, disse que não participaria se fossem barrados países como Cuba, Venezuela e Nicarágua. O presidente, López Obrador, afirmou que mandaria no máximo um representante. O Brasil, tem intensificado o comércio com os russos e a China, com a crise na Ucrânia, quebrou um tabu e passou a comprar milho brasileiro.

A Turquia, a segunda maior força da Otan, recentemente procurou impedir a entrada no bloco de Finlândia e Suécia, o que gerou uma enorme crise. Há quem diga que a Turquia, de certo modo, responde aos interesses da Alemanha, embora não seja tão simples, o país tem suas próprias ambições territoriais no norte da Síria e em 2016 Erdogan por pouco não foi apeado do cargo por um golpe orquestrado pelo imperialismo.

Com a rebeldia dos turcos, os EUA ameaçam passar por cima do veto e, para aumentar a pressão, ocuparão três novas bases na Grécia, além da que já possui. Usar os gregos para pressionar a Turquia é uma tática conhecida e Ancara não deve estar nada satisfeita com essa movimentação.

Rachas no imperialismo

Países secundários do imperialismo, como a Itália, já estão anunciando que terão retração econômica se não tiverem acesso ao gás russo. A Alemanha, a maior economia da Europa, depende enormemente da Rússia, sua economia pode entrar em colapso no caso do corte de fornecimento de gás. O país esteve no centro da tensão envolvendo EUA e Rússia no caso do gasoduto Nord Stream2, o segundo gasoduto que liga o oste russo com o nordeste alemão passando pelo Báltico. Foram gastos 9,5 bilhões de euros e ainda não pôde ser inaugurado.

Na Europa existe uma grande insatisfação com esse conflito que, todos sabem, é entre EUA e Rússia, a Ucrânia apenas faz uma guerra por procuração. O problema que todos vêm é que uma guerra generalizada fará com que os europeus paguem com o próprio sangue uma briga que não é deles. Alemães têm feitos protestos contra o envio de armas aos ucranianos, a juventude sueca também já protestou contra uma eventual entrada na Otan, de modo que o clima político pode se voltar rapidamente contra os governos.

Os países imperialistas não têm problemas e atacar outras nações, basta ver o estrago que a Otan tem feito no Oriente Médio. A questão é a insegurança, não se pode confiar nos EUA, o maior interessado em uma guerra, sendo que o país foi expulso do Afeganistão pelo Talibã. Quem não conseguiu enfrentar uma guerrilha, o que poderá fazer contra a Rússia, uma força infinitamente superior?

A Otan é muito superior à Rússia em poderio militar, mas a operação na Ucrânia já demonstrou do que os russos são capazes e, pior, nem estão usando sua força máxima. Mesmo que a Otan vença uma possível guerra, há um temor de que a desestabilização da Rússia gere um problema ainda maior. Thomas Friedman, em uma matéria no New York Times, lembrou que foi a guerra no Líbano que gestou o Hezbollah, com a diferença de que na Rússia um grupo insurgente teria possivelmente acesso ao arsenal atômico, o país tem mais de 9 mil ogivas.

O que fazer?

Os embargos contra a economia russa têm falhado e os EUA sabem que se não unirem o mundo todo contra a Rússia dificilmente terá uma chance de vitória. Unificar o mundo, até agora, tem sido uma tarefa infrutífera, existem pontas soltas por toda parte.

Um dos planos do imperialismo é fazer uma guerra de desgaste contra a Rússia, mas a Ucrânia já deu sinais de fadiga. Biden havia anunciado que enviaria mísseis de médio alcance para Zelensky, com alcance de até 80 quilômetros. Putin alertou que esse tipo de armamento poderia atingir cidades russas e prometeu retaliação. O presidente dos EUA voltou atrás e afirmou que não mandaria esse tipo de armamento. Hoje, no entanto, provavelmente pressionado, disse que sim, que enviará sistemas de mísseis. Em resposta, a Rússia realizou uma série de exercícios militares utilizando mísseis balísticos intercontinentais Yars. Esses misseis podem viajar até 12 mil quilômetros e transportar de seis a dez ogivas de 100 a 300 quilotons.

Biden sabe que se não agir perderá sua autoridade perante o bloco imperialista. Por outro lado, não se deve acreditar que esses mísseis possam mudar substancialmente o curso dos acontecimentos. Todo o leste ucraniano está tomado, o Donbass praticamente se livrou dos nazistas e a própria grande imprensa se vê obrigada a noticiar os avanços como o de agora, em Severedonetsk, uma cidade-chave ucraniana.

Saída honrosa?

Aos poucos, a palavra ‘paz’ vem aparecendo nos noticiários. Nesta segunda-feira, dia 31, Volodimir Zelensky e o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan conversaram por telefone e ambos concordaram sobre a necessidade de se restaurar a paz na Ucrânia, segundo o Global Times.

Valentia Matviyenko, presidente do Câmara Alta (senado) da Rússia, em uma visita a Moçambique, disse que seu país está aberto à assinatura de acordos que levem à paz.

Ainda é cedo para dizer que não haverá uma guerra, o próprio imperialismo está dividido quanto a essa questão. A própria dificuldade de escoar a produção ucraniana está gerando uma grande instabilidade nos preços dos alimentos mundialmente. Se eclodir uma guerra, a crise será muito mais grave e poderá gerar convulsões sociais por todos os países.

Caso optarem pelo fim das hostilidades, seguramente o imperialismo arranjará alguma boa desculpa para não admitir a derrota. Falará em nome da preservação do povo ucraniano ou alguma demagogia desse tipo.

O imperialismo é ótimo em não admitir derrotas. Foi assim no caso do Iraque, Síria, Afeganistão. Mas, o que importa são os fatos. E o mínimo que se pode dizer é que está aberta uma crise sem precedentes na dominação imperialista.

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