Um levantamento na COP 26 demonstrou que, se somados, os delegados com envolvimento no mercado de petróleo chegam a 503 pessoas. Uma das principais associações envolvidas é a IETA, a Associação Internacional de Comércio de Emissões, que ultrapassou, sozinha, 100 delegados. Para efeito de comparação, o país com mais delegados é o Brasil, com 479 integrantes. Ou seja, uma conferência que se propõe a combater as emissões de carbono e demais poluentes e conte com uma quantidade tão significativa de sócios da poluição não pode significar outra coisa senão a mais completa fanfarronada.
Para que, então, serve tal conferência? Ora, ela não pode existir para nenhum fim. Ela está, necessariamente e esperamos que o leitor concorde, subordinada a algum interesse, de algum grupo de pessoas – como tudo em uma sociedade de classes. Podemos apontar dois interesses: o primeiro é referente à demagogia identitária.
Quem ligar a televisão e mudar os canais até a Rede Globo chegará à conclusão de que está havendo uma revolução silenciosa empreendida por senhores tão nobres como Barack Obama, Joe Biden e Greta Thunberg. Estariam eles salvando o mundo! Mas, evidentemente, isso não corresponde à realidade. A burguesia se utiliza da questão do meio ambiente para fazer demagogia, assim como se utiliza da questão dos negros, dos índios, das mulheres, dos homossexuais etc.
Em primeiro lugar, a burguesia tem facilidade em manipular tal questão pois ela é mais abstrata que as supracitadas. Além disso, vemos, inclusive, o efeito prático que essa manipulação exerce na esquerda pequeno-burguesa: há, nesse setor confuso e vacilante da sociedade, uma corrente chamada “ecossocialismo”. O ecossocialismo, no Brasil, é representado por figuras como a psolista Sabrina Fernandes – defensora da política de abaixar a bandeira. Um dos mais famosos identitários com a questão do meio-ambiente é o ultradireitista Justin Trudeau, primeiro-ministro do Canadá.
Entretanto, além do propósito de cooptar a esquerda, para que serve a COP 26? Para o que é utilizada a demagogia com a questão do meio ambiente? É neste ponto que entra o imperialismo novamente: para desindustrializar os países atrasados, destruir sua indústria e tornar o país subserviente ao Capital internacional.
É preciso, para entender como isso é feito, entender, em primeiro lugar, o que é o imperialismo, já que muitos setores da esquerda têm uma visão incorreta a respeito desse fenômeno. O imperialismo não é meramente uma força econômica, mas, antes de tudo uma força política e militar. Se o imperialismo fosse apenas uma força econômica, poder-se-ia derrubar apenas pela livre concorrência. Contudo, ele representa uma força militar, capaz de subordinar um país pelo poderio das armas, e uma força política, controlando, pois, o Estado desses países atrasados.
Entendendo isso, nós podemos analisar como o imperialismo pretende utilizar a COP 26 para esmagar a indústria de países atrasados, tais quais a China, a Rússia e o próprio Brasil. Os países imperialistas têm, como principal interesse, sobreporem-se na Divisão Internacional do Trabalho (DIT) e no Comércio Mundial aos países de capitalismo atrasado. Esse interesse, se conquistado plenamente, levar-nos-ia a virar um país meramente exportador de soja, com esse mercado completamente controlado pelas empresas estrangeiras e que necessita importar todos os seus produtos.
Tal política já é aplicada desde o governo Temer em relação ao petróleo: com o preço do barril vinculado à variação dos preços internacionais, pagamos pela gasolina produzida no Brasil como se ela fosse importada. Os golpistas, seguindo à risca o programa do imperialismo, querem até ir além e entregar a Petrobrás! Os argumentos para isso? Agora entra a demagogia identitária com o meio ambiente!
Para dar sequência ao plano de destruir a indústria nacional dos países atrasados, basta gritar que esses emitem muito carbono! Estão destruindo suas florestas! Que a Amazônia é um patrimônio da humanidade! E, por fim, toda a riqueza do Brasil deveria ficar sob a custódia de Joe Biden, Trudeau, et caterva.
É óbvio que se trata de um absurdo. Por que a Europa e os EUA, que destruíram suas florestas, deveriam ficar com as florestas do Brasil? A Amazônia é patrimônio do Brasil e dos países em que ela compõe o território. Não defender isso seria apoiar os interesses do imperialismo – e, neles, não estão contidos preservar floresta alguma do Brasil ou de outro país atrasado, mas sim esfolar todo o povo destruindo sua indústria e lucrar com isso –, algo impensável para qualquer marxista.
Em oposição a esta política antinacional, é preciso ter uma política nacional. É preciso defender a autodeterminação dos povos, é preciso defender que os povos tenham o direito de gerir seu próprio território. É preciso explicitar que a COP 26 existe para defender os interesses dos barões da poluição, não do conjunto da humanidade – não podemos, jamais, nos esquecer que vivemos em uma sociedade de classes e isso deve ser basilar para nossas análises, pois, do contrário, adentraremos em uma visão pequeno-burguesa de mundo.
Um exemplo claro desta política antinacional é expressa no caso de Belo Monte, em que o governo da presidenta Dilma construiu a usina a fim de avançar para dar independência energética ao Brasil. Qual foi o posicionamento dos que hoje estão na COP 26, da Rede Globo, do conjunto da direita e da esquerda pequeno-burguesa? Atacar a presidenta e fazer demagogia com o tema, dizendo defender os índios e o meio ambiente, enquanto defendia, na realidade, manter o Brasil um país subordinado e dependente.
A respeito da COP 26, posicionemo-nos de maneira clara: trata-se de uma conferência organizada pelo imperialismo para servir aos seus interesses! Não há combate algum à emissão de gases poluentes; o que há, na realidade, é a tentativa de acabar com a indústria dos países atrasados – é precisamente nisso que consiste toda a propaganda feita pela imprensa imperialista internacional! Fora imperialismo! Fora Biden!