Nessa segunda-feira 16, a montadora francesa Renault anunciou a venda de seus ativos na Rússia para o poder público do país. Com o processo de nacionalização, além da totalidade dos ativos da Renault Group, o governo russo adquiriu ainda os 67% que possuía da montadora russa AvtoVAZ, que produz os carros da marca Lada.
A empresa francesa vinha explorando o mercado russo ao ponto de que em 2021 a Rússia se tornou o segundo maior mercado para a Renault, com a venda de algo em torno de 500 mil veículos vendidos. Diante das sanções impostas pelo imperialismo norte-americano, após alguma relutância os franceses abriram mão do controle da filial russa e da participação na AvtoVAZ. As sanções estavam inviabilizando a produção da Renault por falta de peças.
De acordo com declaração do ministro da Indústria e Comércio da Rússia em abril, o preço pago pelos russos foi simbólico, apenas 1 rublo. Ou seja, o capital da empresa no país foi absorvido pelo governo russo, mas mediante um acordo de possível recompra nos próximos 6 anos. Como a própria imprensa burguesa acabou destacando, essa foi “a primeira nacionalização de uma multinacional desde o início da ofensiva contra a Ucrânia” (publicado no site do Uol), deixando no ar que a burguesia considera provável que ocorram mais processos do tipo.
O prefeito de Moscou, Sergey Sobyanin, anunciou ainda que a fábrica da Renault na capital russa vai retomar a produção de carros da marca soviética Moskvitch. O objetivo declarado da ação é a manutenção do emprego dos cerca de 45 mil trabalhadores da fábrica. Fruto do enfrentamento da burguesia russa com a burguesia imperialista, a expropriação da Renault é sinal inequívoco do caráter progressista da operação russa.
Querendo ou não, a burguesia de um país atrasado que se vê obrigada a entrar em choque contra a dominação imperialista acaba impelida a recorrer a posicionamentos mais progressistas nessa luta. Não se trata de um fenômeno ideológico, mas concreto, material. Sem dar vazão à uma luta anti-imperialista, essa burguesia não tem a mínima chance de garantir suas posições e acaba por fortalecer a classe operária, que é a inimiga fundamental do imperialismo.
Trata-se de um embate contra a classe social que controla a economia do planeta e mantém a maioria absoluta da humanidade em condições de vida precárias. Isso atrapalha essa dominação e consequentemente abre novas perspectivas de luta para os povos oprimidos do mundo. Finalmente, a única classe social que pode derrotar de fato a burguesia imperialista é a classe operária, aquela que é responsável direta pela produção mundial e que vai inevitavelmente controlar essa produção.
Além do caso atual da Renault, o governo russo acabou cedendo a outras ações progressistas. Nas regiões libertadas, as dívidas com serviços públicos diversos foram canceladas. Em Mariupol, os russos anunciaram a reconstrução das casas destruídas, sem custos para a população. A popularidade das bandeiras da União Soviética, além da clara oposição com os nazistas, pode ser explicada pelo repúdio dessa população ucraniana de origem russa em relação à política de terra arrasada do neoliberalismo que o imperialismo impõe ao mundo.
A fragilidade do outrora aparentemente inabalável imperialismo vem sendo exposta repetidamente durante a ação militar russa. As contradições dentro dos países europeus causadas pelas sanções têm criado casos bisonhos, como o da Polônia, que se recusou a comprar gás russo em rublos, mas comprou da Alemanha, que por sua vez havia pagado em rublos pelo gás russo. Os próprios norte-americanos tiveram que negociar a compra de petróleo da Venezuela, a quem veem hostilizando há décadas, inclusive impondo pesadas sanções ao país caribenho.
A lição é clara, o embate contra o imperialismo é progressista e deve ser apoiado pela esquerda. Essa é a questão fundamental da política mundial, que afeta a luta de classes em escala global e precisa ser explorada por aqueles que defendem a superação do capitalismo.